Grandes Enxadristas: Bent Larsen

    Jørgen Bent Larsen nasceu no dia 4 de março de 1935 na pequena cidade Dinamarquesa de Tilsted – região noroeste do país. Durante a infância, devido a uma saúde muito frágil, acaba passando muito tempo dentro de casa. Talvez por isso que, no mesmo período, Larsen teve os seus primeiros contatos com o xadrez.

    E os resultados começaram a surgir logo em seguida, em diversos torneios de categoria. Entretanto, foi apenas aos 17 anos, quando mudou-se para a capital do país, Copenhague, com o intuito de estudar Engenharia Civil, que Larsen descobriu que o xadrez seria muito mais do que um mero hobby. Ele nunca chegou a graduar-se como Engenheiro Civil…

     

     

    … Mas em 1954, aos 19 anos, ele não apenas venceu seu primeiro título de campeão nacional (o feito seria repetido em mais cinco oportunidades: 55, 56, 59, 63 e 64 – os anos em que não venceu foi simplesmente pelo fato de não haver entrado na disputa) como também conquistou o título de Mestre Internacional. A conquista se deu devido a seu formidável desempenho na Olimpíada daquele ano (em Amsterdam, na Holanda): medalha de bronze no primeiro tabuleiro.

     

    O Título de Grande Mestre viria dois anos depois, em 1956, também numa Olimpíada – desta vez em Moscou, centro mundial do xadrez (ainda mais em anos da “Cortina de Ferro”). Larsen, novamente no primeiro tabuleiro, mas desta vez com incríveis 11 vitórias, 6 empates e apenas uma derrota (!), conseguiu a medalha de ouro – e com direito a empatar com o atual campeão mundial naquela oportunidade: ninguém menos que Mikhail Botvinnik. Larsen foi o primeiro enxadrista ocidental a representar um verdadeiro risco ao domínio soviético. No famoso match URSS vs Resto do Mundo, em Belgrado, em 1970, Larsen jogou no tabuleiro um, à frente de Fischer, e marcou 2,5 / 4 – contra Boris Spassky e Leonid Stein.

     

    Larsen venceu três torneios Interzonais: 1964 em Amsterdã – onde compartilhou o primeiro lugar com dois ex-campeões mundiais (Vasily Smyslov e Mikhail Tal) e um futuro (Boris Spassky); 1967 em Sousse (foi neste ano que ele foi premiado com o primeiro Oscar do xadrez); e 1976 em Biel. Somente Larsen e Mikhail Tal conseguiram o feito de vencer três Interzonais.

     

    Reportagem de 1967 da aclamada Chess Review: “Um grande ano de Larsen”

     

    Já no Torneio dos Candidatos, em 1965, Bent Larsen perdeu na semifinal para Mikhail Tal. E em 1968 para Boris Spassky – que conquistaria o título mundial naquele mesmo ano. Mas talvez o golpe mais duro tenha sido na semifinal dos Candidatos de 1971: Larsen perdeu para Bobby Fischer pelo esmagador placar de 6 x 0. Antes da disputa, perguntando como seria o encontro contra Fischer, Larsen teria respondido: “Vou destruir Bobby Fischer”… (Após o match, Tal teria comentado: “Larsen não levou vantagem sequer em UM lance”).

     

    Fischer e Larsen – 1970

     

    A verdade é que o placar, e o ácido comentário de Tal, não refletem completamente fatídico encontro. O elástico placar se deu pelo simples fato de Larsen continuar a jogar para vencer todas as partidas. Após as duas primeiras derrotas (sendo que a da primeira partida é, independe do resultado, uma batalha extraordinária), e sobretudo após a terceira, sem dúvida nenhuma faltou para Larsen um pouco de bom senso: não daria para vencer Fischer “à força”. Mas, por outro lado, ousadia, riscos, e até certa imprudência, sempre foram a base do lutador Bent Larsen – além de um otimismo e uma confiança fora do comum. Exemplo disso é que, logo após sua derrota no match, Larsen comentou: “apesar da minha derrota por 6-0 em Denver, acho que eu teria mais chances contra Spassky. É verdade que eu sou um jogador de torneios melhor do que um jogador de matchs, mas eu penso que estou aprendendo a jogar matchs. E Denver era muito quente e seco – e este clima não me agrada. Sim, eu acho que eu teria uma chance em outro match contra Fischer. Eu não acho que ele é tecnicamente superior a mim. Afinal, ele só tem 3-2 contra mim em outros jogos.”. Pode até parecer certa arrogância, mas é o contrário: Larsen possuía um amor pelo xadrez tão grande que ia muito além de simplesmente vencer – e o seu comentário seguinte é uma lição que não possui preço: “O principal é não ter medo de perder. Por que eu deveria ter medo? Embora o xadrez seja a minha profissão, e uma parte muito importante da minha vida, se eu perder, eu sei de duas coisas: primeiro, é apenas um jogo; e, segundo, mesmo assumindo alguns riscos, eu vou ganhar mais do que perder. Para alguns mestres perder no xadrez é quase como morrer; Para mim isso não é absolutamente assim.”

     

     

    O ex-campeão mundial Garry Kasparov, por exemplo, em seu Meus Grandes Predecessores, lamenta a falta de mais “Larsens” no xadrez de hoje. Dono de um estilo arrojado, para dizer o mínimo, Larsen foi um gênio do xadrez.  Famoso por usar aberturas incomuns, foi um dos poucos grandes mestres modernos a jogar regularmente a abertura Bird (1. f4) – assim como a Defesa Alekhine (1. e4 Cf6), a pouco usual continuação na Caro-Kann  4… Cf6 seguido por 5… gxf6 (1.e4 c6 2.d4 d5 3.Nc3 dxe4 4.Nxe4 Nf6 5.Nxf6+ gxf6) e até a defesa escandinava (1.e4 d5) com quem venceu, “apenas”, o ex-campeão mundial Anatoly Karpov. A ainda super popular Defesa Merano da Defesa Semi-Eslava do Gambito da Dama também deve muito às pesquisas de Larsen. Mas sua grande contribuição aconteceu nas ideias em torno do lance 1.b3 – que, hoje em dia, leva justamente o nome da Abertura Larsen em sua homenagem.

     

     

    A partir dos anos 70 Larsen, ao lado da sua esposa argentina, Laura, passou a viver em Buenos Aires. Bent Larsen faleceu no dia 9 de Setembro de 2010, na capital argentina, aos 75 anos.

     

    Eu acho que figuras tais como Bent Larsen são muito necessárias ao mundo do xadrez: sem elas, ele se tornaria cinzento e aborrecido. Olhe para os Grandes Mestres atuais: onde está agora esse colorido de Larsen? E criadores do nível de Larsen, por maiores que fossem as suas deficiências competitivas, sempre se distinguiram do jogador médio, jogando xadrez de verdade e dando continuidade à sua evolução” (Garry Kasparov).

     

    Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão 08-04-2017.

     

     

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    2 Responder para “Grandes Enxadristas: Bent Larsen”

    • Jeovah França

      Amei conhecer Bent Larsen

    • Charles

      Caramba!! Gostei de conhecer, grande foi Larsen!

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