Grandes Entrevistas: GM Garcia Palermo

    Grandes Entrevistas: GM Garcia Palermo

    Carlos Garcia Palermo nasceu em La Plata, Argentina, no ano de 1953. Tornou-se Mestre Internacional em 1981 e Grande Mestre em 1985. Poliglota e formado em direito, disputou três Olimpíadas de Xadrez ao longo da carreira: 1986 pela Argentina, 1992 e 2006 pela Itália. Em 2004, participou da Copa do Mundo, quando foi eliminado na primeira fase pelo chinês Ye Jiangchuan, 2.5 x 1.5.

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    Garcia Palermo já esteve entre os 40 melhores enxadristas do mundo. Contudo, o maior feito de sua carreira foi vencer o campeão mundial Anatoly Karpov, em Mar del Plata 1982.  Também é famosa sua vitória contra Bobby Fischer em uma simultânea no ano de 1970.

     

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    Fischer x Garcia Palermo, simultânea em 1970

     

    Garcia Palermo é neto de italianos e por isso possui cidadania neste país. Atualmente é técnico da equipe olímpica feminina da Itália. O enxadrista esteve no Brasil para disputar o Aberto do Brasil Copel Telecom Sesc Caiobá, realizado no início do mês de agosto, quando gentilmente concedeu uma entrevista para a redação da Academia Rafael Leitão.

     

    Redação: Quais suas impressões sobre o Aberto do Brasil Sesc Caiobá?

    Garcia Palermo: O torneio esteve muito bem organizado, o salão de jogos, o hotel, as condições de jogo, tudo muito bom. Eu comecei bastante bem, venci uma partida contra o GM Everaldo Matsuura e depois passei a jogar muito mal. Atribuo isso um pouco ao ritmo intenso do torneio, com duas partidas diárias durante quatro dias, creio que para os mais velhos é mais difícil de aguentar esse ritmo. Notei jogadores novos, talentosos, que eu não conheço, o que fez o torneio ainda mais interessante. Espero que se repita.

     

    Redação: Voltando ao passado, não há como não comentar sua vitória contra o Karpov em 1982. Qual foi a reação do campeão mundial após a derrota?

    Garcia Palermo: Essa é a minha partida mais conhecida. Karpov foi muito amável, conversamos um pouco sobre o jogo três dias depois. Nos encontramos outras vezes com o passar dos anos e ele sempre me cumprimentou com cortesia.

    Há dois anos eu estava jogando um torneio na Holanda e Karpov e Jan Timman, paralelamente, jogavam um duelo para rememorar o match pelo Campeonato Mundial de 1993 (vencido por Karpov por 12,5 x 8,5).

    Nesse Aberto de Groningen, eu venci a categoria sênior e todos os premiados tiravam uma foto com Karpov e Timman. No momento da foto, Karpov se recordou do Torneio de Mar del Plata – 1982.

     

    Classificação Final – Mar del Plata – 1982

     

     

    Redação: Alguma história curiosa ao longo da carreira?

    Garcia Palermo: Curiosamente, após minha vitória sobre Karpov, Viktor Korchnoi me enviou 400 dólares de presente, o que me pareceu bom (risos) e eu pude agradecê-lo pessoalmente dois anos depois.

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    Garcia Palermo venceu o então campeão mundial em iguais condições

     

    Redação: As mulheres da equipe olímpica brasileira lançaram por conta própria o projeto “Damas em Ação, Rumo à Maestria” visando uma melhor preparação para as olimpíadas. Vendo o caso brasileiro, como você avalia o apoio ao xadrez feminino na Itália?

    Garcia Palermo: Escutei algo sim sobre o projeto. De qualquer forma, não sei bem como as coisas estão organizadas aqui. Na Itália, uma semana antes das olimpíadas há um treinamento de seis horas diárias para as equipes. De um modo geral, existe apoio para as jovens com bolsas de estudos ou também existe a possibilidade da federação italiana pagar um treinador durante um período.

    Por isso, eu creio que existem oportunidades, além de tudo, estão na Europa, onde há mais torneios. Todavia, não é fácil para ninguém, elas também estudam, algumas têm problemas econômicos, mas a federação trabalha no melhor que pode nesse sentido.

     

    Garcia Palermo sendo tietado pelo MF William Cruz

     

    Redação: E como treinador da seleção italiana, quais suas percepções sobre o xadrez feminino?

    Garcia Palermo: É preciso entrar no mundo do xadrez feminino, que é um pouco diferente. Por exemplo, acontecem coisas como essas: eu precisava preparar uma jogadora e falei que a adversária iria jogar a Trompowski, porque tinha (na base) 20 partidas nessa abertura.

    E a minha atleta me disse: “ela não vai jogar Trompowski”. Quando perguntei, por quê? Ela respondeu: “ela aprendeu essa abertura com o marido e eles se divorciaram. Ela o odeia, então não fará nada que recorde o marido”. Eu ainda insisti dizendo: “mas vamos olhar uma linha pelo menos”, mas ela respondeu: “não, não se preocupe, ela não vai jogar Trompowski!”. E, de fato, a adversária não jogou Trompowski (risos). Ou seja, passam coisas desse tipo no xadrez feminino que não vão passar no masculino.

     

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    Garcia Palermo e a equipe feminina da Itália em momento de descontração

     

    Redação: Você ministrou clínicas de xadrez no Estado do Paraná em meados dos anos 2000. Qual o sentimento em regressar ao país?

    Garcia Palermo: Eu gosto muito de vir ao Brasil, me tratam muito bem aqui. Sou muito amigo do Grande Mestre Jaime Sunye Neto e geralmente fico na casa dele. Também gosto bastante da comida brasileira e de estar na cultura de modo geral.

     

    A redação da Academia Rafael Leitão agradece ao GM Carlos Garcia Palermo pela simpatia durante a entrevista.

     

    Como você avalia a postura de Viktor Korchnoi ao enviar dinheiro para quem derrotasse Karpov? Deixe sua opinião nos comentários.

     

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    Imagens: arquivo pessoal GM Garcia Palermo.

    5 Responder para “Grandes Entrevistas: GM Garcia Palermo”

    • Carlos Horacio Garcia Palermo

      muchas gracias, William por tu excelente trabajo. Y gracias también a Rafael por dar un espacio a mi biografía. Un abrazo para ambos
      Carlos Garcia Palermo

      • Rafael Leitão

        Nosotros que tenemos que darte gracias, Carlos. Un abrazo, Rafael.

    • Claudio

      O Viktor Korchnoi que faça com o dinheiro dele o que quiser.

    • Claudio

      Gosto muito dos causos de xadrez, continue postando. O comportamento do Korchnoi enriquece os causos do nosso querido xadrez kkkkkk.

    • Luiz

      Karpov era uma muralha na defesa.
      Dos maiores retranqueiros que existiu.
      Percebi que ele declinou duma posição de empate por repetição pra se enforcar.

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