Grandes Enxadristas: a História de Reuben Fine

    Na opinião de Garry Kasparov: “Reuben Fine é um dos jogadores mais subestimados da história do xadrez”. Nascido na cidade de Nova Iorque, em 11 de outubro de 1914, Fine aprendeu xadrez aos oito anos. Com 12 anos era operador dos tabuleiros murais no torneio de Nova Iorque de 1927, onde conheceu Alekhine e Capablanca.

     

    Primeiras conquistas

    No início dos anos 1930, Fine competiu com êxito contra Reshevsky, além de empatar com Alekhine em 1932. Na Olimpíada de 1933, em Folkestone – Inglaterra, Fine integrou pela primeira vez a equipe dos Estados Unidos. No terceiro tabuleiro, o enxadrista venceu seis partidas, empatou seis e perdeu apenas uma. Resultado importante para os americanos conquistarem a medalha de ouro.

     

    Três ouros olímpicos

    Na Olimpíada de Varsóvia, em 1935, Fine atuou no primeiro tabuleiro e mais uma vez os Estados Unidos conquistaram o ouro. Em Estocolmo – 1937, Fine jogou no tabuleiro dois e conquistou seu terceiro título olímpico. Ou seja, Reuben representou seu país em três Olimpíadas e conquistou o ouro em todas as ocasiões.

     

    Candidato ao título mundial

    Com grandes atuações nos torneios individuais pela Europa, em 1936 Reuben Fine era bem cotado a nível internacional. . A revista Sahovski Glasnik oferecia uma lista com os dez melhores enxadristas daquele ano: 1. Capablanca, 2.Botvinnik, 3.Fine, 4.Euwe, 5.Flohr, 6. Alekhine, 7.Reshevsky, 8.Lasker, 9.Lilienthal, 10. Keres. Já para a revista Chess, o futuro do título mundial estava nas mãos de: Botvinnik, Fine, Reshevsky, Flohr e Keres.

     

    Depois da já mencionada Olimpíada de 1937, Fine passou meses na Holanda ajudando Max Euwe na preparação para o match-revanche contra Alekhine. Quando voltou aos Estados Unidos, levou consigo uma esposa holandesa.

     

    A maior exibição da carreira

    Em 1938, Reuben Fine assombrou o mundo do xadrez. Com uma atuação brilhante, compartilhou o primeiro lugar no Torneio de AVRO, junto com Paul Keres – este último levou o título nos critérios de desempate. De qualquer modo, Fine estava na frente de Botvinnik, Euwe, Reshevsky, Alekhine, Capablanca e Flohr.

     

    Paul Keres x Reuben Fine

     

    Histórico favorável contra os campeões mundiais

    Durante sua carreira, Reuben Fine enfrentou cinco campeões mundiais, com resultados significativos contra todos eles: Lasker (uma vitória), Capablanca (cinco empates), Alekhine (três vitórias, quatro empates e duas derrotas), Euwe (duas vitórias, três empates e duas derrotas) e Botvinnik (uma vitória e dois empates). No total dos 25 jogos: 7 vitórias, 14 empates e 4 derrotas.

     

    As disputas nacionais com Reshevsky 

    Curiosamente, mesmo com tamanho destaque internacional, Fine nunca conseguiu vencer o Campeonato dos Estados Unidos. Nas três ocasiões em que o enxadrista esteve na disputa pelo título nacional (1936, 1938 e 1940) ele foi superado pelo maior rival da carreira: Samuel Reshevsky!

     

    Em 1938 e 1940, há uma rodada do fim, Reshevsky liderava com meio ponto a mais do que Fine, porém, os enxadristas se enfrentariam na última partida, com Fine de brancas. Em 1938, Fine jogou 1.d4 e Reshevsky conseguiu igualar. Já em 1940, Fine jogou 1.e4, mas omitiu uma combinação ganhadora nos apuros de tempo e Reshevsky segurou o empate e o título mais uma vez.

     

    Fine nunca venceu o campeonato nacional

     

    Samuel Reshevsky adorava fazer piada dos acontecimentos. Sempre que podia, perguntava para alguém próximo: “Quantas vezes Fine foi campeão americano?” Ao ouvir a resposta, exclamava: “E você sabe por que ele nunca venceu? Porque eu joguei todos esses torneios!”.

     

    A ausência no Campeonato Mundial de 1948 e o fim da carreira

    Durante a II Guerra Mundial, Fine trabalhou em um dos departamentos das Forças Armadas, onde ajudava a localizar submarinos alemães. Em 1946, com a morte do campeão Alekhine, Fine entrou na discussão pelo título mundial. Ainda em 1944, Reuben Fine já sugeria a realização de um match torneio.

     

    Para Fine, como ele e Keres eram os campeões de AVRO 1938 e, em teoria, tinham o direito de desafiar Alekhine – situação que se tornou complexa pela guerra – ambos deveriam ser proclamados campeões do mundo entre 1946-1948, até a realização do match torneio.

     

    Outra ideia debatida no Ocidente era realizar um match entre o único campeão mundial presente, Max Euwe, com o campeão dos Estados Unidos, Samuel Reshevsky, visto que os jogadores da União Soviética não estavam filiados a FIDE.

     

    Durante o match Estados Unidos x União Soviética, realizado em Moscou, os seis principais aspirantes ao título se reuniram para debater o tema: Keres, Fine, Reshevsky, Euwe, Botvinnik e Smyslov. Como Fine estava estudando psicologia na Universidade da Califórnia e precisava voltar rapidamente para os Estados Unidos, entregou uma procuração para Reshevsky, que deveria defender seus interesses.

     

    De fato, ficou decidido que o match torneio ocorreria em 1948. Porém, como Fine não disputou os últimos campeonatos nacionais, a Federação dos Estados Unidos não queria enviar Fine para o match torneio. Em realidade, anos antes, Fine tinha criado outra Federação nos Estados Unidos, a fim de melhorar as condições dos enxadristas que não viajaram para a Olimpíada de 1939, em Buenos Aires, já que federação e enxadristas não entraram em acordo sobre os valores.

     

    Em agosto de 1947 estava claro que Fine não disputaria o match torneio. Em 1948, Fine tornou-se Doutor em Psicologia e não participou mais de torneios de elite. Seu envolvimento com xadrez ficou restrito aos livros escritos, sempre conciliando o tema xadrez e psicologia. Reuben Fine faleceu em 1993.

     

    O real motivo da ausência de Fine no match torneio é condicionado a diversos fatores como a briga com a Federação dos Estados Unidos e a carreira acadêmica. No entanto, em algum momento da vida Fine também mencionou: “não quero passar três meses da minha vendo os russos entregarem partidas entre si”.

     

    Smyslov, Euwe, Fine, Botvinnik e Tal

     

    Fine também alegou que estava preparado para jogar o torneio em 1947, mas segundo ele: “os soviéticos conseguiram postergar o acordo por um ano e pra mim já não era mais possível”. Por fim, também reclamou de que, “ao contrário dos jogadores soviéticos, não havia compensação financeira para os jogadores ocidentais”.

     

    E para você, por que Reuben Fine desistiu do Campeonato Mundial de 1948? E você acha que ele é um dos enxadristas mais fortes que não conseguiram o título mundial? Deixe sua opinião nos comentários.

     

    Referências Bibliográficas:

    Meus Grandes Predecessores, volume 4 – Garry Kasparov

    Rei Branco e Rainha Vermelha – Daniel Johnson

     


     

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    3 Responder para “Grandes Enxadristas: a História de Reuben Fine”

    • Otávio Dieguez

      Além dos cinco campeões mundiais mencionados, Fine também jogou uma partida contra Bobby Fischer em 1963:
      http://www.chessgames.com/perl/chessgame?gid=1043992

      Essa partida é analisada por Fischer em seu livro “Minhas 60 Melhores Partidas de Xadrez”.

    • Leandro

      O meu favorito. Não foi campeão mundial porque não quis.
      Derrotou todos os grandes de seu tempo.
      Pra mim é o N#1 dos EUA, após vem Morphy e Fischer.
      Andei lendo Psicologia del Jugador de Ajedrez e um dos melhores livros de xadrez já visto:
      Ideas Behind the Chess Openings
      Sou muito fã de Fine

      Parabéns pelo artigo, realmente Fine é subestimado, bom vê-lo devidamente lembrado por aqui.
      :)

    • Hermínio Silva Jr

      A foto com Smyslov, Euwe, Botvinnik e Tal é magnífica!

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