Grandes Potências do Xadrez: Índia

    Grandes Potências do Xadrez: Índia        

    A teoria mais difundida em relação à origem do xadrez credita a criação do jogo aos indianos, em meados do século VI. Segundo os historiadores, inventou-se na Índia um jogo chamado chaturanga, um antecessor do xadrez atual. No entanto, apesar dos indianos serem os criadores, o país tardou a conquistar louros competitivos nos tabuleiros.

     

    Viswanathan Anand

    Tudo começou a mudar em 1988, quando Viswanathan Anand tornou-se o primeiro Grande Mestre da Índia.  Em 1991, Anand apareceu no cenário mundial ao vencer o Torneio de Reggio Emilia, Itália, na frente de Garry Kasparov e Anatoly Karpov, ambos em grande fase.

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    Xadrez na Índia divide-se em duas fases: antes e depois de Anand.

     

    Reggio Emilia / 1991

    1- Anand 6.0/9

    2- Kasparov 5.5

    3- Gelfand 5.5

    4- Karpov 5.0

    5- Ivanchuk 4.5

    6- Khalifman 4.5

    7- Polugaevsky 4.5

    8- Salov 4.0

    9- Gurevich 4.0

    10- Beliavsky 1.5

     

    As Derrotas para Kasparov e Karpov

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    Kasparov x Anand no World Trade Center

     

    A partir de então, Anand despontou como um sério candidato ao título mundial. No Torneio de Candidatos de 1992, foi eliminado por Karpov na quartas de final, 4.5 x 3.5. Em 1994, caiu nas semifinais contra Gata Kamsky, derrota por 6×4. Os dois torneios mencionados foram organizados pela FIDE.

    Com a divisão entre FIDE e PCA, Anand lutou pelo título nas duas frentes. Em 1995, o indiano venceu o Torneio de Candidatos da PCA e tornou-se o desafiante do campeão mundial da PCA, Garry Kasparov. O duelo – também realizado em 1995 – foi disputado no World Trade Center, em Nova Iorque.

    As oito primeiras partidas terminaram em empate e Anand venceu o 9º jogo, o que causou um furor no público. Porém, na segunda metade do match, Garry Kasparov foi irrepreensível. Com quatro vitórias e cinco empates, o enxadrista russo manteve o título. O placar final foi Kasparov 10.5 x 7.5 Anand.

    Em 1997, a FIDE mudou o sistema de disputa do Torneio de Candidatos e Anand disputou um torneio com 100 jogadores, em formato eliminatório, algo semelhante a atual Copa do Mundo. O vencedor ganharia o direito de desafiar Anatoly Karpov pelo Campeonato Mundial. O evento foi cheio de polêmicas, de qualquer forma, Anand jogou um ótimo xadrez e conquistou o título.

    Em 1998, Anand disputou seu segundo match pelo Campeonato Mundial. Agora, contra Karpov, Anand empatou o duelo em 3×3. O título foi decidido nas partidas rápidas e o russo venceu por 2×0.

     

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    Anand x Karpov

     

    Anand Campeão Mundial

    Após o match com Karpov, Anand tentou negociar um match com Kasparov pelo Campeonato Mundial da PCA, fato não consumado, e não disputou o Mundial da FIDE de 1999.         Contudo, o enxadrista da Índia retornou em grande estilo na edição de 2000.

    O Campeonato Mundial da FIDE de 2000 foi disputado por 100 enxadristas em sistema eliminatório. Anand venceu a Copa do Mundo de 2000 e entrou na segunda fase, quando venceu Viktor Bologan. O indiano venceu na sequência Smbat Lputian e Bartłomiej Macieja.

    Nas quartas de final, vitória sobre o campeão mundial do ano anterior, o russo Alexander Khalifman. O adversário das semifinais foi o inglês Michael Adams e na grande decisão, um incrível 3.5 x 0.5 em Alexei Shirov, da Espanha.

     

    Tempos Difíceis

    Após a conquista em 2000, Anand defendeu o título no Campeonato Mundial da FIDE realizado entre 2001 e 2002. O indiano foi até as semifinais, quando acabou derrotado pelo ucraniano Vassily Ivanchuk. Anand se recusou a disputar o Campeonato Mundial de 2004, em virtude de questões referentes ao regulamento da disputa. Em 2005, Anand jogou o torneio válido pelo Campeonato Mundial da FIDE e terminou na segunda colocação, atrás de Veselin Topalov, da Bulgária.

     

    Anand Recupera o Título Mundial

    De fato, o Campeonato Mundial de Xadrez esteve confuso entre 1993 e 2005. As coisas voltaram ao normal em 2006, com a unificação dos títulos da FIDE e da PCA. Em 2007, Viswanathan Anand recuperou o título de campeão mundial ao vencer um torneio – com oito enxadristas – na frente do então campeão unificado, Vladimir Kramnik.

    No ano seguinte, Kramnik exerceu o direito de ter um match-revanche contra o campeão mundial. As disputas ocorreram na Alemanha e Anand manteve o título com uma vitória relativamente tranquila: 6.5 x 4.5.

    Em 2010, Anand teve de defender o título contra Veselin Topalov e conquistou uma vitória apertada: 6.5 x 5.5, destaque para a emocionante vitória na última partida do match. Em 2012, o indiano teve um match apertado com Boris Gelfand (Israel). Após um 6×6 nas partidas clássicas, Anand manteve o título mundial com um 2,5 x 1,5 nas partidas rápidas.

     

    Fim do Reinado

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    A era Anand no trono do xadrez mundial foi até 2013, quando perdeu de 6.5 x 3.5 para Magnus Carlsen (Noruega). Vishwanathan Anand foi guerreiro e venceu o Torneio de Candidatos de 2014, porém, mais uma vez sucumbiu perante Magnus Carlsen. Desta vez, 6.5 x 4.5 para o norueguês. Anand ainda terminou em terceiro no Torneio de Candidatos de 2016 e não se classificou para a edição de 2018.

     

    Legado de Anand

    Anand lutou pelo Campeonato Mundial durante cerca de 25 anos entre as décadas de 1990, 2000 e 2010. Vale lembrar que o enxadrista, nascido em 1969, não se aposentou e segue no top 15 do mundo. De qualquer forma, o legado de Anand para o xadrez na Índia é decisivo.

    A Índia não tinha Grande Mestre até 1988, porém, com Anand na elite durante tanto tempo, o país deu um salto para 53 GM´s em apenas 30 anos. Atualmente, a Índia é a sexta colocada no ranking da FIDE. Além do ex-campeão mundial, o país possui outros dois enxadristas acima dos 2700 pontos de rating: Harikrishna, Pentala (2739) e Vidit, Santosh Gujrathi (2715).

    Se levar em consideração o top 100 do mundo de agosto de 2018, sete enxadristas são indianos. Além do trio formado por Anand, Harikrishna e Vidit, destacam-se Sasikiran (2671), Adhiban (2671), Sethuraman (2666) e Ganguly (2652).

     

    Índia nas Olimpíadas

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    Pódio da Olimpíada de Tromso 2014: China campeã, Hungria vice e Índia em terceiro

     

    Com tanta gente boa, uma grande atuação da Índia nas Olimpíadas de Xadrez tornou-se inevitável. Em Tromso 2014, mesmo sem Anand, os indianos conquistaram a medalha de bronze, o primeiro pódio olímpico da história do país. Os heróis da conquista foram: GM Negi Parimarjan, GM Sethuraman Panayapan, GM Sasikiran Krishnan, GM Adhiban Baskaran e GM Lalith Babu Musunuri Rohit.

    Em Baku 2016, a Índia mais uma vez mostrou sua força e terminou na quarta colocação do evento. Nas premiações individuais, a Índia possui cinco medalhas: um ouro e quatro bronzes. O país ainda ficou no top 10 em 2004, 2000 e em 1990.

     

    Xadrez Feminino

    O xadrez feminino da Índia também deu um salto nos últimos tempos. As indianas terminaram no top 10 nas últimas três Olimpíadas, destaque para o quarto lugar em Istambul 2012 e o quinto em Baku 2016. Atualmente, o país conta com três enxadristas no top 100 do mundo: GM Harika Dronavalli (2494), atual número 13 do mundo, MI Tania Sachdev (2387) e MI  Karavade, Eesha (2378).

     

    Humpy Koneru

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    Humpy Koneru foi vice-campeã mundial

     

    Contudo, a maior enxadrista da história da Índia atende pelo nome de Humpy Koneru. Em 2009, Koneru atingiu 2623 pontos no ranking da FIDE. Entre 2009 e 2011, a indiana se classificou para o Campeonato Mundial Feminino pelo Grand Prix. O match final foi contra a chinesa Hou Yifan.

    O duelo Humpy Koneru x Hou Yifan aconteceu na Albânia, em 2011. A programação previa dez partidas, no entanto, após o oitavo jogo a chinesa conquistou o título com uma vitória de 5.5 x 2.5. Koneru lutou pelo título mundial em outras ocasiões, mas sem o mesmo destaque de 2011. Hou Yifan já havia sido uma pedra no sapato nas semifinais dos mundiais de 2008 e 2010.

     

    Prodígios

     

    Anand e Praggnanandhaa    C:UsersUserDesktopprag.jpg

    O futuro do xadrez indiano é promissor. O país possui um grande número de GM´s jovens com destaque para dois prodígios: Rameshbabu Praggnanandhaa (2532) e Nihal Sarin (2556). Praggnanandhaa conquistou o título de GM em junho de 2018 aos 12 anos, 10 meses e 13 dias. Trata-se do segundo GM mais jovem da história. O primeiro é o vice-campeão mundial, Sergey Karjakin, Grande Mestre aos 12 anos e 7 meses. Já Nihal Sarin tornou-se GM no Aberto de Abu Dhabi, entre 6 e 16 de agosto de 2018. O enxadrista tem apenas 14 anos e também pode ser o sucessor de Anand.

     

    Qual é o segredo para o sucesso do xadrez indiano nas últimas décadas? Deixe sua opinião nos comentários.

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    2 Responder para “Grandes Potências do Xadrez: Índia”

    • Luiz

      Mir Sultan Khan merecia ter sido lembrado. Jogador de grande talento com vitórias sobre Capablanca e Rubinstein.

    • Ruy Ermelindo

      Excelente matéria sobre o xadrez mundial. Parabéns.

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