Os Grandes Jogadores de Xadrez: Mikhail Tal

    A já extinta União Soviética foi o berço de grandes enxadristas, conhecidos mundialmente. Entre eles, figuram os grandes Anatoly Karpov, Boris Spassky, Garry Kasparov e Mikhail Tal. Esse último também é conhecido como o Mago de Riga, por sua grande genialidade.

    Apesar da vida conturbada, dos problemas de saúde e do estilo de jogo muitas vezes criticado, Tal é considerado um dos maiores gênios do xadrez do século XX, e o jogador com a melhor estratégia de ataque em todos os tempos.

    Em nosso post de hoje, falaremos um pouco mais sobre a vida e a carreira desse grande enxadrista. Confira!

     

    Nascimento e infância

    Mikhail Tal, também chamado de Misha, nasceu na cidade de Riga, na antiga União Soviética, em 9 de novembro de 1936, em uma família judia. Desde sua infância demonstrou inteligência e habilidades extraordinárias, tendo aprendido a ler aos 3 anos de idade e ingressando na universidade aos 15. Mikhail formou-se em literatura e lecionou na universidade da cidade por alguns anos.

    Tal aprendeu a jogar xadrez aos 8 anos de idade somente observando o jogo de seu pai, um médico respeitado. Logo após completar 11 anos, entrou para o clube de xadrez Jovens Pioneiros, sediado no Palácio de Riga.

    Seu estilo de jogo não era excepcional no início de seus treinamentos, mas Tal esforçou-se de maneira árdua e com empenho para aprimorá-lo. Impressionado com a rápida melhora da performance de Tal, Alexander Koblents tornou-se seu tutor em 1949 e já em 1951 Misha foi indicado para competir no Campeonato da Letônia.

    Seu primeiro título nessa competição chegou já em 1953, quando foi nomeado Candidato a Mestre. Em 1954 tornou-se Mestre Soviético, derrotando Vladimir Simagin. Nesse mesmo ano, obteve sua primeira vitória sobre um Grande Mestre, Yuri Averbakh.

     

    Ascensão meteórica

    Em 1957, Misha se tornou o mais jovem jogador a ganhar o Campeonato de Xadrez da União Soviética, aos 20 anos. Apesar de, até aquele momento, Tal não ter vencido torneios internacionais suficientes para a obtenção do título de Grande Mestre, a FIDE decidiu abrir uma exceção e conceder-lhe o título por seu feito, já que, naquela época, a União Soviética era considerada dominante no xadrez mundial e Tal havia batido todos os principais jogadores do país.

    Em 1958, Tal competiu pela primeira vez no ciclo do Campeonato Mundial, e já em 1960 sagrou-se campeão, derrotando Mikhail Botvinnik, tornando-se, até aquele momento, o mais jovem enxadrista a ganhar o título, aos 23 anos. Esse recorde foi posteriormente batido por Garry Kasparov, que ganhou seu primeiro título mundial aos 22 anos, em 1985.

    O reinado de Tal, entretanto, durou muito pouco. Já no ano seguinte, o mesmo Botvinnik, que tinha analisado minuciosamente o estilo de jogo de Tal após a derrota em 1960, retomou o título, em um match no qual Misha teve um desempenho muito inferior ao esperado.

    No ciclo seguinte, três anos depois, apesar de ser considerado o grande favorito, graves problemas de saúde fizeram com que Tal tivesse que abandonar o circuito. Esses problemas de saúde prejudicaram bastante, e de maneira permanente, a carreira do jogador.

    Sua maior pontuação alcançada no sistema Elo foi de 2705 pontos de rating, em 1980, e de 2799 pontos no Historical Chessmetrics Rating, uma comparação dos melhores jogadores de xadrez da história, em setembro de 1960.

     

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    Estilo de jogo

    Um grande amante do xadrez, Tal considerava o jogo “antes de tudo, uma arte”. Ele era um excelente jogador de “blitz”, partidas relâmpago de 5 minutos para cada jogador, competindo com jogadores desconhecidos no meio e sabidamente mais fracos, apenas pelo prazer de jogar.

    Desenvolvendo um estilo de jogo extremamente poderoso e imaginativo, com uma abordagem psicológica, Tal priorizava o resultado concreto em detrimento da perfeição técnica. Misha era o arquétipo de um jogador de ataque, ficando conhecido como Mago de Riga.

    Muitas vezes, Tal sacrificava material para conquistar a iniciativa — capacidade de fazer ameaças, forçando o oponente a responder — e, embora muitas de suas manobras fossem consideradas incorretas quando analisadas por especialistas, eram extremamente difíceis de serem refutadas. Essas estratégias o levaram a conquistar vitórias incríveis, mas que muitas vezes foram criticadas e consideradas “truques”.

    Apesar de todas essas críticas a seu estilo de jogo, Tal derrotou, de maneira convincente, absolutamente todos os Grandes Mestres de sua época, sempre recorrendo à agressividade, criando grandes complicações e barreiras, à primeira vista impossíveis de resolver.

    Tal também deixou alguns dos melhores livros de xadrez já escritos, um sobre seu match com Botvinnik e outro sobre sua vida (Tal: My Life and Games). Além de campeão mundial, Tal havia sido professor de literatura: basta ler algumas poucas páginas dos seus livros para descobrir que sua genialidade não era restrita ao tabuleiro de xadrez.

     

    Vida boêmia e problemas de saúde

    Com uma saúde frágil desde seu nascimento, Tal teve que se submeter à retirada de um de seus rins em 1969, tornando-se um doente renal crônico. Isso atrapalhou sobremaneira sua carreira como enxadrista. Suas grandes permanências em hospitais, devido a seus problemas de saúde, também o deixaram viciado em morfina, utilizada inicialmente para aliviar suas intensas dores. Apesar de todos os problemas, Tal estava sempre de bom humor, inspirando o afeto de todos os seus colegas enxadristas.

    Tal também tinha uma deformidade congênita na mão direita, chamada ectrodactilia, caracterizada pela ausência de um ou mais dedos centrais. Essa deformidade, aparente em apenas algumas poucos fotos do enxadrista, não impediu que Misha também fosse um exímio pianista.

    Além disso, possuidor de uma personalidade artística, impulsiva e excêntrica, Tal sempre gostou do estilo de vida boêmio, tanto na hora de jogar xadrez quanto na hora de beber e fumar em quantidades exorbitantes. Levando a vida dessa maneira, desregrada e cheia de excessos, sua saúde, já frágil, deteriorou muito mais rapidamente, além de lhe ter trazido problemas e situações embaraçosas junto às autoridades soviéticas.

    Mikhail Tal morreu em 28 de junho de 1992, de uma hemorragia de esôfago e falência múltipla dos órgãos.

    Apesar de sua carreira de ascensão meteórica e seu estilo de jogo irreverente, o Mago de Riga tem até hoje uma aura que inspira admiração por suas incríveis habilidades no xadrez e sua figura excêntrica. Ele foi muito mais que um enxadrista – foi um dos maiores gênios do século XX.

    Gostou de saber mais sobre a vida de Mikhail Tal? Então talvez você também se interesse em saber mais sobre a história dos outros campeões mundiais de xadrez!

     

     

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    4 Responder para “Os Grandes Jogadores de Xadrez: Mikhail Tal”

    • Jeferson

      A sua forma de jogo encanta pela sua imprevisibilidade, cálculos complexos e precisos,uma ousadia endiabrada, uma iniciativa imparável, seu destemor diante do perigo,sua colocação de peças faz com que (mesmo em desvantagem material) duas peças joguem como dez,e as peças do adversário são como meros espectadores nem entram no jogo, ,se eu fosse explicar Tal para quem só entende futebol eu lhe diria que ele era como o Garrincha imprevisível, habilidoso e capaz de fazer jogadas desconcertantes portanto acredito que não era mago nem maníaco Tal era simplesmente Tal ou seja ele inventou o estilo Tal de jogar e por mais que muitos (inclusive em altíssimo nível) jogaram ao estilo Tal a magia endiabrada você só encontra nas partidas do nosso querido mago de Riga.

    • Leonardo Tadeu

      Tal era uma daquelas pessoas que de vez em quando vem à terra para que não esqueçamos que o xadrez eh um esporte fascinante e fabuloso

    • Ronaldo

      O que eu não entendo é considerar uma jogada não convencional que resultou em uma vitória como simples "truque". A estratégia por si só já não é uma forma de enganar o adversário? Já li vários artigos sobre Tal e sempre aparece esta crítica. Sinceramente, não consigo entender.

      • Gustavo Aguiar Rocha da Silva

        Ronaldo: a resposta que você procura se encerra em uma palavra: inveja.

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