Mentiras E Verdades Sobre Bobby Fischer: Faça o Teste!

    Quem você escolheria para um jantar – vivo ou morto – em Paris? Cuidado com a resposta se você for casado, está namorando ou pensa em namorar alguém!

    Já imaginou se você pudesse escolher a companhia do lendário Robert James Fischer, o Bobby Fischer?

    Como isso não é possível, você vai ter que se conformar (ou se alegrar) com a companhia que escolheu. Mas se fosse possível escolher Fischer, você conseguiria conversar com ele sobre sua história e sua carreira?

    Para saber a resposta dessa pergunta, preparamos um artigo com mentiras e verdades sobre o polêmico campeão mundial de xadrez.

    Vamos ao teste?!

     

    Mentiras e verdades sobre Bobby Fischer:

     

    1. Fischer era um prodígio e sagrou-se campeão de xadrez absoluto dos Estados Unidos pela primeira vez aos 14 anos.

     

    [Bobby Fischer e sua irmã Joan]

     

    Bobby Fischer aprendeu a jogar aos 6 anos com a irmã mais velha, Joan, que o divertia com um tabuleiro de xadrez enquanto sua mãe, Regina Wender, saía para trabalhar.

    De fato, ele era um prodígio e tornou-se campeão absoluto norte-americano todas as 8 vezes que disputou o título e a primeira delas foi aos 14 anos de idade.

    Portanto, isso é VERDADE!

     

     

    2. Ele se tornou Grande Mestre aos 12 anos de idade e até hoje é o mais jovem enxadrista a conquistar tal feito.

     

     

    Fischer conquistou o título de GM aos 15 anos e se tornou o mais jovem grande mestre até então, quando pela primeira vez se classificou para o Torneio de Candidatos.

    Ele foi destituído do posto de enxadrista mais jovem da história a se tornar GM por ninguém menos que Judit Polgar, no ano de 1991, por uma diferença de 1 mês entre suas idades.

    Atualmente, o recorde de o mais jovem Grande Mestre de Xadrez da história, conquistado aos 12 anos e 7 meses, pertence a Sergey Karjakin.

    Portanto, isso é MENTIRA!

     

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    3. Em 1967, no Interzonal em Sousse, na Tunísia, mesmo liderando, abandonou o torneio, alegando questões religiosas.

     

     

    Em 1967, foi realizado o Interzonal em Sousse, na Tunísia. Bobby Fischer liderava o torneio quando abandonou a competição alegando questões religiosas.

    O impasse começou quando ele se recusou a jogar entre o pôr do sol da sexta-feira e o pôr do sol do sábado. Apesar de não haver objeção dos organizadores, Fischer não aceitou compensar o atraso e jogar 4 partidas em 4 dias seguidos.

    Portanto, isso é VERDADE!

     

     

    4. Ele venceu o Torneio de Candidatos em 1971 contra Taimanov por 6×0, Larsen por 6×0 e Petrosian por 6,5×2,5.

     

     

    A primeira vez que Fischer participou do Torneio de Candidatos foi em Belgrado, no ano de 1959, e a vaga de desafiante do campeão mundial ficou com Mikhail Tal. A sua segunda participação foi no ano de 1962, em Curaçao, e a vaga ficou com Tigran Petrosian. Na ocasião, Fischer acusou seus adversários soviéticos de combinarem os resultados das partidas que jogaram entre si para que na última rodada um deles estivesse à frente. O famoso episódio nunca foi provado, mas a Federação Internacional de Xadrez mudou o formato do Torneio e a partir de então adotou o sistema mata-mata, evitando resultados suspeitos.

    No Torneio de Candidatos do ano de 1971, ele teve esse excepcional desempenho e conquistou o direito de desafiar Boris Spassky.

    Portanto, isso é VERDADE!

     

     

    5. O match de 1972, o Match do Século, foi bastante equilibrado e após ganhar a primeira partida, Fischer começou a fazer exigências que não foram aceitas por Boris Spassky.

     

     

    O famoso match de 1972 começou antes mesmo do primeiro lance, quando Bobby Fischer passou a impor inúmeras exigências que foram desde o local em que as partidas se realizariam, passando por adiamentos e chegando até o valor do cachê, patrocinado ao final por um banqueiro britânico amante das 64 casas.

    Já no tabuleiro, a disputa começou de maneira incrível, com um dos erros mais misteriosos da história do xadrez. Fischer, em posição tecnicamente empatada, captura um peão “envenenado” e perde.

    Na segunda partida, reclamando das condições da sala de jogo, Fischer não compareceu e o escore ficou 2×0 para Spassky.

    Talvez perturbado pelo estranho rumo do match, Spassky jogou as partidas restantes abaixo do seu nível regular e o enxadrista norte-americano foi amplamente superior, vencendo por 12,5×8,5.

    Portanto, isso é MENTIRA!

     

     

    6. Ele não defendeu mais o título mundial após vencer o soviético Boris Spassky e, assim, encerrou sua carreira.

     

     

    Quando em 1974 o ascendente jovem enxadrista Anatoly Karpov venceu Boris Spassky e Viktor Korchnoi e ganhou o direito de desafiar o campeão mundial, Bobby Fischer anunciou, em 28 de junho, que abdicava de seu título. A FIDE chegou a conceder-lhe 3 meses para repensar a decisão e a capital das Filipinas, Manila, ofereceu 5 milhões de dólares para organizar o match, no entanto, não houve acordo quanto ao formato da disputa.

    Na ocasião Fischer desistia não só de defender seu título mundial, mas também de continuar jogando. O fim da carreira de Bobby Fischer é atribuído por muitos ao seu medo de perder, por outros, a distúrbios mentais, no entanto, o fato é que a história do xadrez foi definitivamente mudada depois dessa drástica decisão.

    Portanto, infelizmente, isso é VERDADE!

     

     

    7. Anos mais tarde, em 1995, ele jogou mais um match com Spassky, em Moscou. O match só terminaria quando um jogador vencesse 10 partidas e Fischer venceu por 10×5. Com a vitória, Bobby Fischer retornou aos Estados Unidos e foi recebido como herói nacional.

     

     

    Depois de anos recluso, Fischer teve inusitadas e raras aparições públicas.

    Em 1992 – e não em 1995 -, Fischer promoveu uma tardia revanche contra Boris Spassky, vencendo por 10×5 a disputa que, no entanto, ocorreu na Iugoslávia, num período de sanções internacionais ao governo de Slobodan Milosevic.

    Como resultado, os Estados Unidos anunciaram que ele seria preso caso retornasse ao país.

    Portanto, isso é MENTIRA!

     

     

    8. Logo após o ataque de 11 de setembro de 2001, Fischer concedeu uma entrevista comemorando a tragédia e fazendo declarações antissemitas.

     

     

    Fischer era uma figura excêntrica e de declarações polêmicas e um dos episódios mais famosos diz respeito a uma entrevista que concedeu a uma rádio de Manila, capital das Filipinas, comemorando o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001. Na oportunidade, ele fez declarações antissemitas, apesar de sua mãe ser judia.

    Portanto, isso é VERDADE!

     

     

    9. Em 2004 ele foi detido no Japão por estar com seu passaporte norte-americano vencido e teve sua deportação pedida pelos Estados Unidos.

     

    [Passaporte emitido no ano de 1987]

     

    No ano de 2004, Bobby Fischer foi detido no Japão por estar com seu passaporte norte-americano vencido. Os Estados Unidos pediram sua deportação, onde seria preso.

    No entanto, Fischer venceu o impasse, ganhando cidadania da Islândia, onde faleceu em 2008.

    Portanto, isso é VERDADE!

     

     

    10. Fischer é o autor da frase: “Para ser um campeão, não basta ser um jogador forte, é preciso ser também um ser humano forte”.

     

     

    A Fischer são atribuídas frases memoráveis sobre o xadrez, como, por exemplo, “Xadrez é vida”; “Não me fale de perder. Não posso pensar nisso!”; “No xadrez há dois tipos de jogadores: os bons e os duros. Eu sou dos duros”; dentre tantas outras.

    Entretanto, a frase acima é atribuída a Anatoly Karpov e não a Bobby Fischer.

    Portanto, isso é MENTIRA!

     

     

    11. Os Estados Unidos dominavam o xadrez mundial na época em que Fischer tornou-se campeão mundial.

     

     

    Quando Fischer sagrou-se campão mundial, o xadrez era dominado pelos enxadristas da Ex-URSS. Na época vivia-se o auge da Guerra Fria e o tabuleiro de xadrez – a exemplo da corrida espacial -, tornou-se palco da disputa entre EUA e Ex-URSS.

    Na realidade, a hegemonia da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas no xadrez era absoluta. Desde que Mikhail Botvinnik, o Patriarca, conquistou o título mundial em 1948, os soviéticos revezavam a coroa: Smyslov em 1957, Botvinnik novamente em 1958, Tal em 1960, mais uma vez Botvinnik em 1961, Petrosian em 1963 e, finalmente, Spassky em 1969.

    Foi exatamente por esse motivo que a vitória do norte-americano virou um marco na história dos EUA.

    Portanto, isso é MENTIRA!

     

     

    12. Fischer fez aulas de russo para poder ler revistas e livros de xadrez nesse idioma.

     

     

    Quando Fischer começou a aprender xadrez, o jogo era dominado pelos jogadores da Ex-URSS, como você viu acima, dessa forma, aprender o idioma era imprescindível para sua evolução como jogador.

    No entanto, ele aprendeu o básico de russo sozinho, e não em aulas.

    Portanto, isso é MENTIRA!

     

    13. Fischer é autor do livro My 60 Memorable Games, um dos mais notáveis textos da literatura enxadrística, no qual incluiu suas principais vitórias e também algumas derrotas.

     

     

    Definitivamente, esta é uma das obras-primas do xadrez mundial. Fischer brindou a posteridade com uma seleção extremamente honesta de suas partidas, tanto que há derrotas e empates incluídos.

    Se você tiver a oportunidade, não deixe de ler essa obra imperdível e, se possível, compare as análises do Fischer, feitas no final da década de 60, com os poderosos softwares de análise modernos. Ou, melhor ainda, compare as análises de Bobby com as de Kasparov, publicadas no volume 4 dos “Grandes Predecessores”.

    Portanto, isso é VERDADE!

     

     

    Apaixonado pelo xadrez desde a infância, lutador e obcecado pelas 32 peças pretas e brancas, Fischer era detentor de um espírito agressivo, inovador, genial, além de muito excêntrico!

    Ele é tido por muitos como o maior enxadrista de todos os tempos e tem um legado indiscutível. Por isso, além, obviamente, de entender seu estilo de jogo e estudar suas melhores partidas, conhecer a história da vida e da carreira desse grande jogador é obrigatório para os amantes do xadrez.

    Por isso, faça as contas e descubra como você se saiu no teste de conhecimentos sobre as 7 verdades e as 6 mentiras do lendário Bobby Fischer!

    E não esqueça: conte nos comentários como foi seu desempenho!

     

     

    Escrito por Equipe Academia Rafael Leitão em 20.08.2017.

     

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    17 Responder para “Mentiras E Verdades Sobre Bobby Fischer: Faça o Teste!”

    • Leandro

      Vocês devem fazer um artigo sobre a MÃE de Fischer, falava uns 7 idiomas, incluindo o russo... Uma mulher notável, infelizmente não reconhecida.
      Deve ter sido dela que Fischer herdou o estudo da língua russa.

      60 Memorable .... Olha, vejo só UMA derrota (pra Tal)
      Duvido que passe de duas, não é um número considerável pra esse crédito em derrotas e empates...
      O livro é magnífico.

      Fischer teve MEDO. Karpov metia medo em todo mundo.
      Ele tomou a decisão correta, jogada de marketing fuleiro ... Até hoje há quem diga que ele venceria.

      • Rafael Leitão

        O livro inclui 3 derrotas do Fischer. Tenho convicção de que ele venceria o Karpov em 1974. Talvez alguns anos depois, quando Karpov começou a jogar ainda melhor, o match fosse mais complicado.

        • Luis

          Professor, você concorda com os trabalhos de Matej Guid que falam que se consegue com certa eficácia medir a força de um jogador se baseando nas suas estatísticas de perda de centipeões nas análises feitas com auxílio de computador de suas partidas?

        • Paulo izidoro "bestbytesty"

          Concordo com o enxadrista número 1 do Brasil

      • Ivan Tadeu Couto Rojas

        A mãe de Fischer era um monstro!
        Era membro do partido comunista alemão e abandonou os filho para ir morar na URSS para "construir o socialismo" Nunca mais viu as crianças!
        Bob Fischer tinha muita mágoa da mãe e do pai.

        • Junior

          Você escreveu uma mentira sem cabimento algum. Primeiro que a mãe dele se mudou para os EUA antes mesmo do Bobby nascer, segundo que Stalin estava propagando idéias antissemitas, logo ela ir morar na URSS não faria sentido algum.
          Ela o deixou quando ele já era de maior e foi para a Europa, ficando principalmente na Inglaterra, onde ela conheceu seu segundo marido.

    • Fcoregis

      o livro em português tem vários e vários erros. eu tenho 5 versões desse livro e comprei recentemente o relançamento em notação de figurines. a versão em português hoje em dia é considerada rara. vão de erros de tradução e semântica a até analise faltando os lances da combinação. em muitas partidas o tradutor que provavelmente não sabia nada de xadrez traduz "exchange" "qualidade" como troca, deixando a frase sem sentido... eu cheguei a anotar todos os erros que achei lendo o livro sempre com a versão original em inglês ao lado.. assistindo a grande palestra do Rafael sobre os livros que leu pra ficar mais forte e como sou mais um "NN" da vida, vou deixar aqui meu relato. eu jogava no clube e praticamente perdia mais que ganhava. então, durante as ferias da faculdade não apareci no clube e passei a estudar praticamente 1 partida do livro por dia. mas com um detalhe a mais.. eu jamais passava as variantes. eu permanecia pensando e pensando pra ver os vários lances da combinações de até 20 lances.. no começo me embananava todo e sofria. aos poucos o negocio foi melhorando.. já conseguia ver na frente mais lances e demorava menos pra ver a partida inteira. quando tava na partida 47 mais ou menos, retornei ao clube venci quase tudo e todos vieram me dizer que eu tava jogando bem melhor e não acreditavam na minha evolução.. esse eu considero meu primeiro salto no xadrez.

      • Eder

        Fcoregis.... boa explicação... vc ainda tem a lista com os erros de tradução e falta de lances ? .. eu tenho apenas a (rara) versão brasieleira.

      • Gustavo Aguiar Rocha da Silva

        Por favor, descreva seu método (ou métodos) de estudo. Obrigado.

      • Luis

        Quem traduziu essa edição que você está falando?

    • João Almeida

      Errei 3... rsrsrs... porque estava composta de meias verdades, aí me complicou kkkkk apesar de nunca ter sido um fã do Fischer, talvez devido ao fato dele ser o oposto de um "gentleman"... mas de tanto ouvir o Rafael, peguei o livro dele (Fischer) para estudar... estou ainda na segunda partida, mas estou gostando... espero aprender alguma coisa.

      • João Almeida

        3 não... errei apenas duas.

    • Amarildo Caldeira Moraes

      No item 6 não sei se é precisa a informação em que ele encerrou a carreira. Se voltou a jogar em 92 o match revanche contra Spasky, não seria correto considerar o fim da carreira em 92?

      • Rafael Leitão

        Entendo a sua dúvida, mas sinceramente o match de 92 não pode ser considerado uma extensão da brilhante carreira de Fischer. Essa, infelizmente, terminou com o match em 1972.

    • Gilberto

      Não tive a oportunidade de ler o livro, mas o banco de dados do Chessmaster: Grandmaster Edition possui grande parte das partidas oficiais de Fischer, inclusive muitas derrotas. Analiso grande parte de suas partidas com esse programa, e muitos lances que o Chessmaster considera como um erro, partem para transposições inusitadas com vantagem de final para Fischer, na minha humilde opinião, esse jogador émelhor da história em abertura ("e4, best by test") e finais!

    • Gustavo Aguiar Rocha da Silva

      Errei as questões de números dez e doze. Peço a Fcoregis que escreva mais sobre seu método de estudo, o que será muito útil para todos nós e agradeço-lhe desde já. Gostaria que o GM Rafael Leitão escrevesse sobre o estilo de Fischer, acerca do qual ouvi opiniões bem díspares: há quem veja nele um jogador essencialmente agressivo, ou quem diga que ele um claro descendente de Capablanca, só que mais militante e muito menos preguiçoso e por fim o GM Najdorf afirmou certa vez: "Fischer não tem estilo, porque a perfeição não tem estilo!" Daí minhas dúvidas.

    • Gustavo

      Posso estar falando bobagem, mas sempre pensei que a pessoa mais prejudicada pela aposentadoria precoce do Fischer foi o Karpov. Eu imagino como deve ter sido para um jovem talentoso em ascensão, vencendo os candidatos e se preparando para enfrentar o campeão; ver tudo se desmanchar de repente no ar.
      É verdade que ele enfrentou e venceu os melhores de sua época, mas deve ter ficado marcado por nunca ter tido a chance de enfrentar "O" grande campeão. Uma privação como essa deve ser devastadora para as ambições de um jogador de alto nível.

      Inté.

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