Torneios de Xadrez só para Mulheres Devem ser Realizados? Esse Dirigente Espanhol Acha que Não
A série Gambito da Rainha (Netflix) conta como a enxadrista fictícia, Beth Harmon, superou os seus adversários rumo ao topo do xadrez mundial.
Contudo, a realidade das mulheres no xadrez é bem diferente. Na 83ª colocação do ranking da FIDE, a chinesa Hou Yifan (2658) é a única mulher entre os 100 melhores enxadristas do mundo na atualidade.
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Tudo bem que a húngara Judit Polgár já chegou ao top 10 em décadas passadas, mas ainda assim a diferença competitiva entre homens e mulheres é inegável.
E desses fatores surge o debate: por que essa diferença é tão grande?
Esse tema já foi amplamente debatido, mas ainda carece de uma resposta definitiva, se é que isso seja possível.
De qualquer maneira, o diretor técnico da Federação de Xadrez da Espanha, Ramón Padullés, reacendeu o debate ao eliminar os torneios femininos no país.
Torneios de xadrez devem ser mistos?
Deixando bem claro que as mulheres podem jogar, porém, em torneios mistos com a participação de homens.
Padullés justificou a decisão com o seguinte argumento:
“Por que ninguém questiona que as provas de matemática na universidade sejam divididas entre meninos e meninas com uma pontuação extra para elas?
Essa pergunta também não cabe quando falamos das provas de engenharia. Em troca, muita gente acha normal que haja essa separação de sexo no xadrez.
É verdade que o componente esportivo, a competição, é maior no xadrez do que na matemática. Mas também se diz que ambas as disciplinas estão regidas pelo mesmo hemisfério cerebral.
Estamos falando de um trabalho mental, não de jogar uma pedra o mais longe possível.
Devemos trabalhar para que chegue o dia em que não olhemos os percentuais de homens e mulheres nos torneios, porque serão aproximadamente iguais”.
Em entrevista ao El País, o dirigente foi questionado sobre uma possível ausência de estímulo para as mulheres em função de tal decisão, tendo em vista que a campeã espanhola de qualquer idade seria, por exemplo, a 19ª colocada em um torneio misto.
Para Padullés, “isso é muito relativo. Sobre o direito de jogar campeonatos europeus e mundiais, os emparceiramentos da última rodada podem causar enormes diferenças de classificação.
Por isso, a Federação da Espanha sempre envia mais de uma enxadrista a esses campeonatos oficiais, o que compensa esse risco”.
“Agora, sobre o estímulo, a principal motivação deveria estar em se tornar campeã da Espanha, entre homens e mulheres, ao invés de campeã feminina.
Está claro que no sub 10 isso pode acontecer em qualquer ano. E agora acaba de acontecer no sub 18, com Maria Eizaguerri”.
Por fim, o dirigente afirmou que o rating médio das enxadristas e o número de participantes do sexo feminino aumentou com a decisão.
“Antes da pandemia, tínhamos uma mulher a cada 6,5 homens enxadristas, sem contar com os maiores de 45 anos. Se olhamos uma perspectiva de futuro, a tendência é esperançosa.
Em todo caso, convém ressaltar que o problema do abandono da alta competição por parte das mulheres não é exclusivo do xadrez.
Temos planos para que as meninas que deixam as competições durante a faculdade possam voltar quando acabarem o curso ou que seja possível combinar as duas coisas”.
Sobre o nível técnico, Ramón afirma que a melhora é tremenda.
“Hoje, a número 100 do ranking feminino tem 1850 pontos de rating. Há dez anos atrás era por volta dos 1500 pontos. É uma diferença enorme.
Pela lógica, digo que o desaparecimento dos campeonatos femininos influenciou positivamente, porque agora as meninas estão obrigadas a jogar com os meninos. E na liga por equipes é obrigatório colocar uma mulher, o que também ajuda muito, suponho”.
E você, concorda com ele? Deixe sua opinião nos comentários.
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Texto escrito pelo MF William Ferreira da Cruz
Referência:
Eu concordo totalmente com o dirigente espanhol. Judith Polgar só foi quem foi devido a decisão do pai dela de que ela não jogaria torneios femininos. Assim, ela pode desenvolver bem melhor o talento dela. Os incentivos a participação feminina devem combater o machismo no ambiente do xadrez, não criar um ambiente artificial. Tenho certeza que só fez bem para a Goryachkina jogar a final do absoluto russo. Ela era o menor rating e teve um desempenho bem razoável, ganhando rating por sinal.
Machismo? Deixa de ser doente
Eu não sou doente. No último ano, devido ao programa da Netflix O Gambito da Rainha, algumas das principais jogadoras brasileiras de xadrez foram entrevistadas em veículos de comunicação tradicionais, como o Estadão e o UOL, e elas relatam e reclamam de casos de machismo. De memória lembro de ter lido entrevistas com a Juliana Terao, com a Júlia Alboredo e com a Thauane Medeiros. Todas relataram casos pessoais de machismo, pelos quais passaram, incontestáveis. Só se elas estão mentindo, o que eu acho muito difícil, pois são jogadoras e pessoas sérias. Eu acredito que tais fatos não sejam surpreendentes. Afinal, o Brasil tem uma cultura fortemente machista e, então, seria muito difícil que no xadrez brasileiro a situação fosse diferente. Uma parte muito forte do machismo é desqualificar quem afirma sua existência negando a mesma ou atacando as pessoas que apontam para sua existência.
Atenciosamente,
Luiz Gustavo
Discordo totalmente!
Como mestre em Psicologia e professor que sou sei das diferenças estruturais entre os cérebros femininos e masculinos.
Na prática o que ocorrerá é que as meninas serão fragorosamente derrotadas quase sempre e terminará por abandonarem o xadrez competitivo.
Também é erro grava comparar os exames de matemática com xadrez.
Esse senhor preta um desserviço à arte de Caíssa em seu país.
Att.
Ivan Rojas
Caro senhor Ivan Rojas.
Por favor, quais seriam as diferenças estruturais entre os cérebros masculino e feminino que influenciaram tão fortemente no xadrez e não influenciaram na matemática?
Não entendi também. Estudei psicologia enquanto parte do curso de filosofia e desconheço sobre a matéria. Quer dizer que os homens tem maior capacidade de raciocínio do que as mulheres?
1º - Anatomicamente, as mulheres possuem cérebros menores, porém tem maior densidade de neurônios na região associada à linguagem e possuem o hipocampo maior que o cérebro masculino, o que na prática, lhe dá mais vantagem na memorização. Se diferenças estruturais causassem tamanha discrepância, como o sr. afirma, as mulheres teriam mais vantagem no Xadrez, já que a memória é um dos principais atributos de um bom enxadrista.
2º - Ser mestre em psicologia e filosofia não lhe dá gabarito suficiente para afirmar que as poucas diferenças entre cérebros masculinos e femininos traz algum tipo de vantagem intelectual aos homens, que aliás, não procede de acordo com a Neurociência.
3º - As melhores enxadristas da história costumavam participar dos torneios absolutos. Existe uma premissa real no xadrez: não há evolução se você não jogar contra jogadores mais fortes e ativos que você.
4º - A número 1 da Rússia (Aleksandra Goryachkina) aos 23 anos possui rating maior que qualquer jogador brasileiro ativo no presente momento. E devo lembrar ao Sr. que a Rússia herdou toda a estrutura desportiva de xadrez da URSS que investiu pesado nesse desporto ao longo do século XX... isso explica muita coisa, não?!
Um tema bem espinhoso! Possivelmente sem uma reposta contundente! Eu acredito que pra as meninas, se bem trabalho as questões psicológicas, é muito interessante e talvez lhe possibilitem um crescimento em seu xadrez, mas há muitos pontos que devem ser trabalhados! Mas do ponto de vista cognitivo, concordo, mulheres e homens tem a mesma capacidade de aprendizagem e desenvolvimento!
No fim das contas, o que faz mesmo a diferença é apoio e patrocínio: se uma federação quiser incentivar o nível técnico das suas enxadristas, o melhor caminho é fazer coisas tais como, por exemplo, subsidiar aulas com bons instrutores, custear a participação em torneios e dar bolsas às que se destacarem.
Não sei se discordo ou concordo com ele, mas uma coisa é certa: deve-se ter cuidado com a possibilidade de confundir causalidade onde há correlação.
Não é por que os números melhoraram após uma decisão que a causa da melhora seja a própria decisão, pois podem haver outras variáveis que influenciaram mais. Mas a hipótese é válida, só precisa ser testada com epistemologia.
Muito obrigado pelo texto à equipe. Também gostei bastante do texto sobre a brasileiro de xadrez de 2021!