BILBAO MASTER: CARLSEN CAMPEÃO
Começou no último dia 13 e terminou ontem, 23, a nona edição do aclamado Bilbao Masters. Desta vez participaram da competição o atual campeão mundial, o norueguês Magnus Carlsen (2855); Hikaru Nakamura (2787); Anish Giri (2785); Sergey Karjakin (2773); Wesley So (2770) e Wei Yi (2696).
Sem muitas surpresas, a vitória, indiscutível, foi de Magnus Carlsen com 17 pontos (os pontos foram computados em: três por vitória, um por empate e zero por derrota) – seguido por Nakamura (12); Wesley So e Wei Yi (ambos com 11 pontos). O próximo desafiante ao título mundial, Karjakin, somou apenas 9 pontos e ficou com a penúltima colocação. O último colocado foi o sólido (às vezes até demais) Anish Giri (7).
# | Name | Pts |
1 | Magnus Carlsen | 17 |
2 | Hikaru Nakamura | 12 |
3 | Wesley So | 11 |
Wei Yi | 11 | |
5 | Sergey Karjakin | 9 |
6 | Anish Giri | 7 |
O AGUARDADO ENCONTRO
Apesar da confirmação da já esperada vitória de Carlsen no evento, Bilbao estava sendo muito aguardado pelos enxadristas de todo o mundo por um motivo bem simples: seria o primeiro, e provavelmente o último, encontro entre Carlsen e Karjakin antes do match pelo título mundial – que acontecerá em novembro deste ano. De modo geral, assim como no resultado do torneio, o favoritismo de Carlsen foi mantido: na terceira rodada, vitória do campeão mundial, de brancas, contra o desafiante.
Bem ao seu estilo, com uma abertura pouco teórica, e praticamente sem vantagens, mas com um entendimento melhor da posição, Magnus superou o resistente Karjakin após 40 lances. Será que este encontro foi uma prévia do que veremos durante o match de novembro?
É possível.
Mas o empate entre Karjakin e Carlsen, na oitava rodada, acabou deixando toda a torcida um pouco decepcionada. Contudo, olhando a partida com mais cuidado, e mesmo ela não tendo sido um grande exemplo de xadrez para ambos os lados, seu caráter psicológico foi por demais importante – e é sobre este prisma que ela deve ser analisada.
O jogo de Karjakin, de brancas, pareceu muito pouco lógico e a vantagem obtida por Carlsen poderia ter sido até mesmo aumentada após uma arriscada captura de peão por parte do Grande Mestre russo. Entretanto, Carlsen deixou escapar a melhor sequência e, em seguida, acabou repetindo a posição. Ou será que Carlsen preferiu não entrar em nenhuma batalha aberta e achou que a mensagem já havia sido dada na primeira partida? Será?
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Além disso, e pensando pelo lado do desafiante, depois da derrota na terceira rodada, e com o torneio pouco inspirado que já estava fazendo (e fez), talvez o melhor tenha sido mesmo “esconder o jogo” desta vez e guardar as armas para o match – ainda que, durante a partida, um dos comentaristas do torneio tenha chegado a dizer que Karjakin parecia “estar tão obcecado em esconder sua preparação que simplesmente está realizando jogadas sem sentido. Nem sequer estou seguro de que tenha alguma coisa preparada para esconder!”
Enfim: é difícil não se convencer, após a vitória de Carlsen no torneio e na primeira partida contra Karjakin, que o seu favoritismo não tenha crescido ainda mais. Mas estaria Karjakin escondendo alguma coisa? Só em novembro para sabermos…
(Ah! Novembro que não chega…)
TABUS
E dois importantes tabus caíram durante o torneio de Bilbao. Um a favor do campeão mundial; outro contra.
Após o empate na quinta rodada, graças a uma defesa tenaz de Giri, o jovem GM holandês ia mantendo seu score (favorável!) no ritmo clássico/pensado contra o Campeão Mundial – que acabou ficou nitidamente abalado em ter deixado escapar a vitória. Nos 16 encontros entre ambos, o marcador contava 15 empates e uma vitória de Giri. Inclusive, depois da partida, Giri admitiu que sua posição, em determinado momento do final, era horrível – e que era totalmente compreensível que Carlsen estive decepcionado.
Entretanto, na nona rodada, Carlsen mostrou que, realmente, “a vingança é um prato que se come frio” – ou, no caso dele, sem pressa, sem grandes vantagens, mas com muita vontade de vencer. Aliás, este é um dos pontos mais admiráveis de Magnus (e, de certa forma, de praticamente todos os campeões mundiais – embora em alguns como Lasker; Fischer e Kasparov isto seja gritante): uma obstinação incrível pela vitória. Enfim: vitória de Carlsen e mais um tabu “cai por terra”. Aliás, tabus estão aí para serem quebrados…
… Mas infelizmente também contra “nós”. Ou, no caso, contra ele, Magnus. Somos todos humanos afinal…
Depois de 11 anos e 12 derrotas, Hikaru Nakamura finalmente venceu Carlsen. Após a vitória, Nakamura disse que o resultado “não é algo do outro mundo” e que “mais importante seria vencer o torneio”. Pois é…
Entretanto, apesar da derrota para Nakamura, aqui voltamos ao que já dissemos anteriormente – e por isso deixamos este fato para o final, apesar dele ter acontecido na primeira rodada. A vontade de vencer de Carlsen é impressionante!
Na segunda rodada o campeão mundial já estava recuperado e venceu de maneira categórica a promessa (ou realidade?) chinesa Wei Yi; depois, na terceira, a já comentada vitória contra Karjakin; e, na quarta, mais uma vitória – desta vez contra Wesley So.
Em suma: a quebra do tabu contra Nakamura parece apenas ter servido como combustível para a busca das vitórias por parte de Magnus. Humano? Olha, até que ele disfarça bem…
FONTES
Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão 24.07.2016
Ótimo artigo
Gostei muito do artigo. Comentários inteligentes e bem humorados. Parabéns a toda equipe!