Dos grandes torneios abertos ao redor do mundo, o Aberto de Gibraltar costuma ser um dos melhores do ano. E desta vez não foi diferente. Para ficarmos apenas no top 10 da lista inicial do evento principal, tivemos: Fabiano Caruana (2827); Maxime Vachier-Lagrave (2796); Hikaru Nakamura (2785); Vassily Ivanchuk (2752); Michael Adams (2751); Peter Svidler (2748); Veselin Topalov (2739); Yangyi Yu (2738); Nikita Vitiugov (2724); e Boris Gelfand (2721) – dentre outros…
Mas, como todo bom torneio Aberto, não foi possível “viver só de rating”. O número um da competição, Fabiano Caruana, que o diga: na sexta rodada foi superado pelo simpático e polêmico Nigel Short, que demonstrou uma técnica invejável e venceu de forma convincente. Clique aqui e veja a bela partida de Short.
NAKAMURA VENCE, MAS ANTÓN BRILHA
A vitória do Aberto ficou com o sempre destemido Nakamura, mas não dentro do “tempo normal”. Após as 10 rodadas do torneio, três jogadores terminaram com os mesmos 8 pontos. Além do já citado Nakamura, o GM chinês Yu Yangyi e o jovem GM espanhol, de 21 anos, e sensação da competição, David Antón – número 24 do certame.
O jovem GM espanhol David Antón foi o grande destaque de Gibraltar
No desempate, Nakamura, segundo, e Yu Yangyi, terceiro, enfrentaram-se num match de partidas blitz e rápidas – enquanto Antón, que havia ficado em primeiro nos critérios de desempate, esperou a decisão entre os dois. Com o placar igual nas partidas rápidas, dois empates, a decisão veio no blitz: 2-0 Nakamura. Como já dito, Nakamura acabou levando a taça – venceu Antón ainda na segunda partida das rápidas (a primeira terminou em empate). Contudo, mesmo saindo derrota no tie-break, o jovem Antón não tem nenhum motivo para se aborrecer. Com uma performance de 2859, David Antón – que é conhecido por ser um dos comentaristas do site chess24 em espanhol – fez um torneio brilhante: venceu duas lendas (!), Boris Gelfand e Veselin Topalov; empatou com os tops Maxime Vachier-Lagrave, Michael Adams e o próprio Nakamura; venceu jogadores como o GM grego Ahanasios Mastrovasilis (2551) e o forte GM israelense Emil Sutovsky (2628).
Em recente entrevista concedida para o famoso periodista espanhol Leontxo García, David Antón, apesar de confessar ter ficado surpreso com o próprio desempenho, já demonstra muita maturidade e, mais que isso, confiança de que, em breve, estará entre os melhores do mundo. Será? Vamos aguardar.
O “EXÓTICO” PROTESTO DE HOU YIFAN
O fato mais curioso do Aberto de Gibraltar aconteceu com a Campeã Mundial, a GM chinesa Hou Yifan (2651). Nas quatro primeiras rodadas Yifan enfrentou apenas jogadoras – isso, no feminino.
O que começou a desagradar Hou Yifan não foi, é claro, o fato de ter que jogar contra outras jogadoras, mas simplesmente os seus adversários terem um rating significativamente mais baixo do que o seu – em comparação com os homens que jogam no mesmo nível, mas possuem mais pontos de rating. Na quinta rodada a jogadora chinesa enfrentou o GM Michael Adams, mas na sexta, oitava e nona, curiosamente, Yifan tornou a enfrentar outras jogadoras. Pia Cramling (2454), Wenjun Ju (2583) e Nino Batsiashvili (2492) – e mesmo o adversário homem, pela justificativa de Hou Yifan, não ajudou muito no rating: Borya Ider (2463).
Antes da oitava, Hou Yifan, de acordo com os seus próprios comentários em uma entrevista em vídeo, chegou a levar um protesto a um dos árbitros da competição. Entretanto, como esclareceu um dos organizadores, Brian Callaghan, o sorteio do emparceiramento era feito por um programa, o Swiss Manager, e que nem os árbitros, nem organizadores, poderiam influenciar nos emparceiramentos Mas o inusitado aconteceu na última rodada, contra o GM indiano Babu Lalith (2587). Yifan resolveu protestar novamente. Contudo, desta vez de uma maneira pouco menos usual: dentro do tabuleiro!
1.g4?! d5 2.f3?? e5 3.d3 Dh4+ 4.Rd2 h5 5.h3 hxg4… E as brancas abandonam!
Já imaginaram se Fischer, na segunda partida do primeiro match contra Spassky, em vez de perder de W.O., resolvesse protestar assim? Após o insólito acontecimento, Yifan pediu desculpas. E o mesmo Brian Callaghan também não quis comentar muito o fato – apenas dizendo que Hou Yifan teria tido apenas um dia ruim e que sua atitude acabou sendo mais negativa para ela mesma que para o torneio. E acrescentou que espera ver a jogadora chinesa na próxima edição do evento.
Hou Yifan e a posição de protesto!
Será que a moda irá pegar e acabaremos vendo mais da “abertura Yifan” por aí? Esperamos que não.
P.S.: nas redes sociais, após a partida, o GM Babu Lalith, que foi o coadjuvante involuntário do protesto da jogadora chinesa, confessou que tomou um grande susto após 1.g4 e demorou um pouco para entender que não havia nenhuma preparação ali!
FONTE
Entrevista de David Antón (El País)
Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão 07-02-2017
Ainda bem que ela não mostrou os seios durante a partida.....
Essa foi booooaaa!
Deveria ter feito!