Grandes Potências do Xadrez: Polônia
Segundo historiadores, o Estado polonês surgiu em meados de 966. Contudo, entre 1772 e 1795 o território foi dividido entre o Reino da Prússia, o Império Russo e a Áustria. A Polônia só voltou a conquistar a independência em 1918, após a I Guerra Mundial. Porém, o país voltou a sofrer em 1939, com a invasão dos nazistas. Com a derrota alemã na II Guerra Mundial, a Polônia tornou-se um “estado satélite” da União Soviética até 1989, quando o governo comunista declinou.
Anos Dourados no Xadrez
Campeões em 1930: Frydman, Tartakower, Rotmil, Rubinstein, Makarczyk, Przepiorka e Wróbel
Mesmo com históricas dificuldades, o país conseguiu manter parte de sua cultura e também se tornou uma potência no xadrez. Entre 1928 e 1939, o xadrez polonês viveu um momento de glória. Nesse curto período, a Polônia subiu no pódio em seis Olimpíadas de Xadrez, com uma medalha de ouro, duas pratas e três bronzes. Além disso, a capital Varsóvia sediou a edição de 1935.
O único título olímpico polonês aconteceu em Hamburgo, na Alemanha, no ano de 1930. As equipes da Hungria e Alemanha completaram o pódio. O torneio foi disputado por 18 equipes em 17 rodadas. A geração de ouro da Polônia foi composta pelo lendário Akiba Rubinstein, S. Tartakower, D. Przepiorka, K. Makarczyk e Paulin Frydman.
Lendas do Passado
Tartakower, Rubinstein e Salwe foram três ícones do xadrez polaco.
Gersz Salwe
Salwe iniciou a prática do xadrez nos Cafés de Varsóvia. Nascido em 1862, ganhou o Torneio de Lodz de 1898 e também teve êxito no 4º Campeonato Nacional da Rússia em 1906. Fundou o Clube de Xadrez de Lodz, em 1903, e foi o redator de um periódico judeu sobre xadrez. Esteve entre os 15 melhores enxadristas do mundo no início do século XX. Faleceu em 1920.
Akiba Rubinstein
Akiba Rubinstein nasceu no dia 12 de outubro de 1882, em Stawiski (Polônia). Tornou-se reconhecido internacionalmente a partir de 1906, quando conquistou a terceira colocação no torneio de Ostende (Bélgica). Um ano depois, Akiba demonstrou evolução para vencer em Ostende, Carlsbad (República Tcheca) e o 5º torneio Pan-Russo, em Lodz.
Em São Petersburgo, em 1909, Akiba Rubinstein derrotou o então campeão mundial, Emanuel Lasker. Ambos acabaram compartilhando a primeira posição com 3.5 pontos na frente do terceiro colocado. Destaque também para o torneio de San Sebastian, Espanha (1911), onde Akiba venceu José Raul Capablanca.
De fato, entre 1907 e 1912 ficou claro que Akiba Rubinstein era o desafiante natural para o match pelo Campeonato Mundial. No entanto, é possível dizer que os acordos com Lasker eram difíceis, pois não existia uma regulamentação específica para o match.
Infelizmente, o match Lasker x Rubinstein nunca aconteceu. Ficou acordado que o campeão do super torneio de São Petersburgo iria ser o desafiante de Lasker. Destreinado, Rubinstein terminou apenas na sétima colocação.
O polonês foi seriamente prejudicado pela I Guerra Mundial. A precariedade e a angústia da ocasião afetaram definitivamente seu sistema nervoso. Rubinstein jogou xadrez até 1932. Esteve presente no ouro olímpico da Polônia de 1930 e na prata de 1931, em ambas ocasiões no primeiro tabuleiro.
Sua saúde mental não melhorou e o enxadrista acabou num sanatório. Bem ou mal, esse fato o protegeu dos nazistas durante a II Guerra Mundial. Por fim, foi parar num asilo na Bélgica, onde faleceu em 14 de março de 1961, aos 78 anos.
Savielly Tartakower
Tartakower nasceu na Rússia em 1887, filho de uma família judia de origem polonesa e austríaca. Estudou em Viena e se tornou Doutor em Direito no ano de 1909. Seus pais foram assassinados na Rússia em 1911 e Tartakower nunca mais retornou à terra natal.
Nesse momento, Tartakower já era um enxadrista reconhecido, tendo conquistado o Torneio de Nuremberg, em 1906. Foi oficial do exército austríaco na I Guerra Mundial. Tornou-se cidadão polonês após a criação da República da Polônia (1918). Venceu o torneio de Hastings em duas ocasiões: 1927 e 1928. Dividiu a primeira colocação do Torneio de Londres – 1928 e conquistou o título em Liege – 1930.
Cooperou com diversas revistas de xadrez e escreveu alguns livros. Na década de 1930 foi campeão polonês em 1935 e 1937. Representou o país em seis olimpíadas, conquistando uma medalha de ouro, duas pratas e dois bronzes. Junto com Rubinstein e Najdorf, foi um dos três primeiros Grandes Mestres da Polônia.
Na II Guerra Mundial lutou contra os nazistas e recebeu a cidadania francesa. Foi campeão francês individual em 1953, três anos antes da sua morte. De acordo com o site chessmetrics.com, foi o terceiro melhor enxadrista do mundo em março de 1921, atrás de Capablanca e Rubinstein.
Miguel Najdorf
Reshevsky e Najdorf: enxadristas poloneses que, por razões distintas, fizeram carreira nos Estados Unidos e na Argentina
Nascido na Polônia em 15 de abril de 1910, Miguel Najdorf começou a jogar xadrez aos 14 anos. Em 1930, então com 20 anos, tornou-se Mestre Internacional. Teve como orientador o conceituado enxadrista Savielly Tartakower, a quem chamava respeitosamente de “meu professor”.
Participou de três Olimpíadas de Xadrez pela seleção da Polônia: 1935, 1937 e 1939, tendo conquistado uma medalha de prata e duas de bronze por equipes. Também conquistou um ouro individual.
Em 1939, a Olimpíada de Buenos Aires estava em curso quando eclodiu a II Guerra Mundial. Najdorf, que era judeu, decidiu permanecer na Argentina. Toda a sua família acabou exterminada nos campos de concentração durante a guerra. O enxadrista representou a Argentina entre 1940 e 1997, ano de seu falecimento.
Samuel Reshevsky
Samuel Reshevsky nasceu no ano de 1911 em Ozorkov, na Polônia. Aprendeu a jogar xadrez aos cinco anos, quando observava partidas entre seus familiares. Em pouco tempo o garotinho venceu todos os oponentes da cidade natal. Seu pai então decidiu levá-lo para a cidade de Lodz, um importante centro enxadrístico do início do século XX. Neste local, Reshevsky venceu o mestre Salwe, além de realizar uma simultânea contra 20 ou 25 adultos.
Finalmente, em 1917, com apenas seis anos, Reshevsky chegou a capital Varsóvia com status de grande jogador. Até mesmo o famoso mestre Akiba Rubinstein demonstrou empatia pelo menino e ambos disputaram uma partida. O lendário Rubinstein jogou com as peças negras e com os olhos vendados. Após vencer em 24 lances, afirmou para a criança: “Um dia você será campeão mundial!”.
Felizes com o desempenho do filho, a família Reshevsky viajou por toda Polônia e o garoto fazia exibições por onde passava. Em 1920, os pais resolveram cruzar fronteiras e Samuel Reshevsky realizou simultâneas em Berlim, Viena, Paris, Londres, entre outras cidades. Por fim, no final de 1920, a família Reshevsky desembarcou nos Estados Unidos, onde se Sammy se estabeleceu como um enxadrista americano.
Tempos Modernos
Wojtaszek e Duda são os grandes nomes do xadrez polonês na atualidade
Após a década de glória, o melhor desempenho polonês em uma Olimpíada de Xadrez aconteceu nos anos de 1980, 1982 e 2016, quando os enxadristas polacos conquistaram a honrosa sétima colocação.
De todo modo, atualmente a Polônia é o décimo país no ranking da FIDE com 43 Grandes Mestres, três deles entre os 100 melhores enxadristas do mundo: Jan-Krzysztof Duda é o 22º no ranking mundial; Radoslaw Wojtaszek é o 24º e Dariusz Swiercz (2656) é o nonagésimo.
Top 10 Polônia – Outubro 2018
# | Name | Title | Rating | B-Year |
1 | Duda, Jan-Krzysztof | GM | 2739 | 1998 |
2 | Wojtaszek, Radoslaw | GM | 2727 | 1987 |
3 | Swiercz, Dariusz | GM | 2656 | 1994 |
4 | Krasenkow, Michal | GM | 2626 | 1963 |
5 | Piorun, Kacper | GM | 2625 | 1991 |
6 | Tomczak, Jacek | GM | 2616 | 1990 |
7 | Socko, Bartosz | GM | 2613 | 1978 |
8 | Moranda, Wojciech | GM | 2602 | 1988 |
9 | Gajewski, Grzegorz | GM | 2592 | 1985 |
10 | Miton, Kamil | GM | 2592 | 1984 |
Xadrez Feminino
Monika Socko é a única GM polonesa
Já entre as mulheres, a Polônia também é um país de tradição. Atualmente, o país ocupação a sétima colocação no xadrez feminino, com cinco enxadristas entre as 100 melhores do mundo.
TOP 5 Feminino Polônia – Outubro 2018
# | Name | Title | Rating | Ranking Mundial | B-Year |
1 | Socko, Monika | GM | 2451 | 27ª do mundo | 1978 |
2 | Zawadzka, Jolanta | WGM | 2421 | 46ª | 1987 |
3 | Szczepkowska, Karina | MI | 2400 | 63ª | 1987 |
4 | Majdan, Joanna | WGM | 2380 | 76ª | 1988 |
5 | Rajlich, Iweta | MI | 2378 | 80ª | 1981 |
A equipe feminina da Polônia conseguiu uma medalha de prata histórica na Olimpíada de Baku 2016. Trata-se da melhor colocação do país até então. As polonesas já tinham subido no pódio em 1980 e 2002, quando terminaram com o bronze em ambas as ocasiões.
A geração de prata da Polônia foi formada por: GM Monika Socko, WGM Jolanta Zawadzka, MI Karina Szczepkowska, WGM Klaudia Kulon e WMI Mariola Wozniak.
Polônia no pódio da Olimpíada de Baku junto com China e Ucrânia
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Faltou dizer, com exceção do que foi dito do Tartakower, que todos os que foram mencionados eram judeus. E uma curiosidade: Akiba é um nome bíblico que na verdade é AkiVa. Não sei porque mudaram para Akiba que nem sentido tem em hebraico. Um dos seus mais fervorosos admiradores, nos dias de hoje, é o Gelfand que prefaciou uma coleção de partidas do Akiba (vá lá, vou escrever assim), tanto na versão inglesa (2 volumes) quanto na versão original russa, além de ter comentado algumas partidas.