Não há como fazer qualquer comentário sobre o torneio de Saint Louis – Rapid & Blitz, realizado entre 14 e 18 de agosto, nos Estados Unidos, sem focar na participação de Garry Kasparov. O retorno do ex-campeão mundial, de 54 anos, mexeu com o imaginário do público. Seria possível para o homem que dominou o mundo do xadrez entre 1985 e 2005, voltar ao topo após 12 anos de inatividade?
Esse roteiro, típico dos estúdios de Hollywood, apresenta muitas semelhanças com o filme Rocky VI, no qual o ex-campeão mundial de boxe, Rocky Balboa, deixa a aposentadoria após 16 anos, para lutar com o jovem atual campeão, Mason Dixon.
“Olhos de tigre”
Kasparov não jogou contra o atual campeão mundial, mas enfrentou adversários de peso, como vice-campeão mundial, Sergey Karjakin, o também ex-campeão mundial, Viswanathan Anand, Fabiano Caruana (3º no ranking mundial), Levon Aronian (5º), Hikaru Nakamura (7º), Ian Nepomniachtchi (15º), Le Quang Liem (23°), Leinier Dominguez (25°) e David Navara (26º).
Os enxadristas da elite mundial se enfrentam com razoável frequência durante o ano, mas a participação de Kasparov levou a audiência do Saint Louis – Rapid & Blitz para um outro patamar. Com transmissões ao vivo em espanhol e inglês, o canal do Youtube do evento recebeu, em média, 200 mil visualizações diárias. Ou seja, nos cinco dias o torneio atraiu cerca de 1 milhão de visualizações.
A atenção da imprensa era toda para o ex-campeão
Até no Brasil o evento despertou o interesse da imprensa. Revistas como Veja e Época destacaram o retorno de Garry aos tabuleiros. Apesar do termo retorno ter sido recorrente no noticiário, vale lembrar que, em 2015, Kasparov venceu um match de exibição contra o lendário Nigel Short. Já em 2016, fez um bonito papel contra as estrelas americanas: Nakamura, Caruana e Wesley So em um torneio de blitz.
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Voltando ao Rocky VI (Alerta de Spoiler!), no grande duelo o envelhecido Rocky Balboa apanha nos primeiros rounds, mas depois, com olhos de tigre se recompõe e termina os 10 rounds previstos sem ser nocauteado, pelo contrário, a segunda metade da luta foi equilibrada. No fim, vitória de Dixon por pontos, mas Rocky saiu ovacionado pelo público por demonstrar tamanha resistência.
Mais uma vez, filme e vida real apresentaram roteiros semelhantes. Kasparov não jogou um bom xadrez no torneio de rápido, fora de forma, gastou muito tempo em suas decisões e pecou no cálculo em posições relativamente fáceis. Terminou com uma vitória, três derrotas e cinco empates, na lanterna compartilhada com Anand e Navara.
Kasparov lamentou o mal desempenho inicial
Já nas partidas de Blitz, Kasparov melhorou seu desempenho: um honroso 5º lugar entre os 10 participantes, com quatro vitórias, quatro derrotas e dez empates. No acumulado, 8ª colocação e muita luta por parte do ex-campeão. Assim como Rocky, Kasparov pode não ter vencido a luta, mas também não passou nem perto de ser nocauteado.
Ao fim do torneio o ex-campeão demonstrou alegria por jogar xadrez
O título geral do Saint Louis Rapid & Blitz foi para Levon Aronian, da Armênia, que confirmou sua excelente fase e levou $37,5 mil dólares para casa. O russo Sergey Karjakin e o estadunidense Hikaru Nakamura compartilharam a segunda colocação – cada um levou $22,5 mil dólares de premiação. No total, o evento distribuiu $150 mil dólares em prêmios.
Levon Aronian, de calça vermelha, venceu em Saint Louis. Nakamura, sentado, não parece feliz com o resultado
O Saint Louis Rapid & Blitz foi a quarta e penúltima etapa do Grand Chess Tour 2017. O London Chess Classic será a última etapa, a ser realizada entre 1º e 10 de dezembro, com $300 mil dólares em premiação. Garry Kasparov participou apenas de uma etapa a fim de promover o evento e não concorre ao título geral do circuito.
Após a Sinquefield Cup e Sant Louis Rapid & Blitz, etapas 3 e 4 realizadas em agosto, o atual campeão mundial Magnus Carlsen, Noruega, lidera a classificação geral do Grand Chess Tour com 34 pontos. O francês Maxime Vachier Lagrave é o segundo com 31 e o armênio Levon Aronian é o terceiro com 25 pontos. Sergey Karjakin, Hikaru Nakamura, Wesley So, Viswanathan Anand, Ian Nepomniachtchi e Fabiano Caruana, completam, nessa ordem, a classificação.
E você, o que achou do retorno do Kasparov? Esperava mais ou achou que ele foi bem? Deixe sua opinião nos comentários!
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Crédito de imagens: Grand Chess Tour
Escrito por Academia Rafael Leitão em 21.08.2017
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Mestre Rafael, gostei bastante do seu artigo.
Agora... sobre o Nakamura... "Nakamura, sentado, não parece feliz com o resultado"... na verdade... ele nunca está feliz... kkkkk
Pra que estava fora do xadrez há 12 anos e já tem mais de 50 anos, achei que não fez tão feio o Kasparov. Ele é um mito do xadrez e não precisa mostrar mais nada.
Eu gostei bastante. O "velho lobo do xadrez" não perdeu a sua majestade !
Muito bom. Parabéns.
Atuação muito discreta.
Acreditei que ele ficaria no meio da tabela. Mas valeu!!
Até na mediocridade Kasparov serve de referência para o Ocidente. Haja paciência... chinesa.
Participação digna de um ex campeão. Mas ele poderia participar de algum torneio forte que nao seja o grand chess tournaments . Como Abul Dhabi. Com partidas pensadas e tudo que tem direito. Fiquei muito feliz com o retorno do velho lobo. Mas uma vez parabéns.
Sair do xadrez, dar uma volta pela vida política da Rússia e depois voltar, certamente fez bem ao Xadrez, haja vista a demanda da imprensa, e deve tê-lo feito se sentir muito bem.
Kasparov, seus últimos resultados não são suficientes para desqualificá-lo como um gigante.
Monstro! Sem um ritmo de treinamento competindo com um nível muito alto...