O Homem e a Máquina: O match Kasparov x Deep Blue

    De um lado: Garry Kasparov, Grande Mestre, considerado um dos maiores enxadristas de todos os tempos. Ele, campeão mundial de xadrez de 1985 a 2000. Do outro lado: Deep Blue, um supercomputador da IBM projetado para jogar em pé de igualdade contra qualquer jogador de xadrez do mundo. Uma batalha entre homem e máquina.

    O primeiro embate Kasparov x Deep Blue aconteceu em 1996, mas o primeiro desafio do enxadrista soviético envolvendo computadores aconteceu, na verdade, em 1985, quando Garry Kasparov venceu 32 máquinas simultaneamente. Conheça essa incrível história do homem contra máquina no post de hoje!

     

     

    Kasparov x Deep Blue, o primeiro match

    Em 1996 aconteceu o primeiro embate entre o campeão Kasparov e o desafiante pouco convencional Deep Blue. Para a surpresa de todos, o computador venceu o primeiro jogo, disputado na Filadélfia.  Pela primeira vez, uma máquina havia vencido um campeão mundial de xadrez usando as regras normais de torneio. Com um pouco menos de frieza, Kasparov poderia ter se assustado com tal feito e se desequilibrado para disputar os próximos jogos. No entanto, o enxadrista contornou a situação e virou o match, que terminou 4 a 2 para o russo.

     

     

    Deep Blue x Kasparov, a revanche

    Um ano depois, em 1997, com a promessa de que o Deep Blue estaria ainda mais desenvolvido e preparado, Garry Kasparov aceitou uma revanche para a IBM e seu supercomputador. Dessa vez, o match foi em Londres e, diferentemente do ano anterior, o primeiro jogo foi vencido por Kasparov. Porém, agora, algo estranho aconteceu já no segundo jogo. No movimento 44 do jogo 2, o Deep Blue realizou uma jogada que surpreendeu o campeão mundial.

    Em uma posição muito superior, o computador levou o rei para o lado errado, dando chances para o adversário, um erro bastante atípico para a máquina. Desconcertado, o russo abandonou a partida sem ver que tinha uma continuação de empate.

    Depois disso, muito intrigado, Kasparov recuou e passou a jogar em um estilo bem diferente do usual. Os jogos 3, 4 e 5 terminaram, então, empatados. No sexto jogo, que decidiria o vencedor, viu-se menos ainda do estilo de jogo do enxadrista multicampeão. Acuado e sem reação, Garry Kasparov perdeu a batalha e a guerra: Deep Blue derrotou o Grande Mestre por 3,5 a 2,5. Na partida decisiva, mais uma vez o computador tomou uma decisão que parecia estranha: sacrificou uma peça para uma compensação a longo prazo, algo que se imaginava impossível para a máquina. Veja as análises do GM Rafael Leitão para as partidas decisivas aqui.

     

     

    A polêmica

    Kasparov x Deep Blue

    Indignado, Kasparov afirmou que a IBM havia trapaceado e chegou a citar o gol de mão feito por Maradona na Copa do Mundo de Futebol de 1986, comparando-o a um possível subterfúgio de Deep Blue. De acordo com o enxadrista, houve interação humana no computador, o que ia contra as regras estabelecidas — ou seja, uma trapaça. Sem isso, seria impossível que a máquina tomasse uma decisão tão incoerente como jogada 44 ou o sacrifício de peça da última partida. A IBM, porém, afirmou que Deep Blue só sofria modificações nos intervalos e jamais durante um jogo.

     

     

    17 anos depois

    Somente 17 anos depois, o mistério que envolvia a jogada que abalou tanto Kasparov foi aparentemente desvendado. Assim como todo bom programa de computador, Deep Blue tinha uma “saída de emergência” caso houvesse sobrecarga de processamento, para evitar que o sistema entrasse em loop, ou seja, ficasse calculando e calculando infinitamente.

    No documentário “The Man vs. The Machine“, é revelado que o mecanismo de emergência fez o computador escolher a primeira jogada possível para evitar o loop, o que surpreendeu Kasparov. Ainda assim, o problema não condizia com as acusações do enxadrista: foi apenas um bug que levou a máquina à vitória e causou tanta polêmica. Em relação ao sacrifício de peça da sexta partida, o computador pode ter sido configurado previamente para efetuar a jogada, já que a posição era teórica. Isso não significaria uma “trapaça”.

    Mas a explicação não convenceu a todos e muitos enxadristas até hoje acreditam que houve intromissão humana nas análises do computador. Quando Kasparov quis uma terceira disputa contra Deep Blue, a IBM se recusou e aposentou o computador. Não haveria mais Kasparov vs. Deep Blue.

     

    E para você, houve trapaça nesse incrível enfrentamento? Compartilhe sua opinião nos comentários!

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    28 Responder para “O Homem e a Máquina: O match Kasparov x Deep Blue”

    • Avertino Sande

      Para mi não houve trapaça, embora não tenha dado o seu melhor, Kasporov perdeu! mas o lado posetivo da história é que as maquinas deram um grande salto e evoluiram consideravelmente.

    • Wairy Dias Cardoso

      Prezado Rafael
      Quanto ao seu nível de conhecimento do jogo de xadrez não vou discutir mas, imagine se o sistema estivesse testando por exemplo, uma variante da Lógica Fuzzy uma vez que é a IBM é quem implementa software de guerra e de viagens espaciais e interplanetárias das sondas que são lançadas para o EUA.. Só para lembrar que a mesma é usada desde 1992 e simula o modo de pensar do ser humano. A robótica faz isso normalmente. Lógico que não iriam comentar com ninguém e, teria adversário melhor que o Kasparov na época ! O software é apenas uma plataforma de alto nível que pode ter vários direcionamentos inclusive jogar xadrez para testar seu potencial.

    • Geraldo J F

      Hum... no mínimo, desconcertante!
      1. O Campeão aceitou e não se saiu mal... 2. depois foi derrotado e, 3. para uma revanche (terceiro confronto) a empresa recusa?
      Derrotado ou não, o homem provou sua grande capacidade e isso contra um computador e programadores e programação...
      Para mim, ele superou e muito uma máquina construída pelo homem!!

    • Gabriel Zacharczuk Oliveira

      O fato de a IBM não ter permitido a entrada tanto de Kasparov como qualquer um de sua equipe na sala onde estava o Deep Blue, evidencia, no mínimo, uma imoralidade!!

    • Marcos Simão Zmetek

      Imagine o mesmo desafio sendo realizado hoje contra um super computador atual, quase 20 anos após o Deep Blue! Não acredito que um campeão mundial possa pontuar. Penso até mesmo que em um match contra um computador doméstico, não haveria possibilidade de vitória humana ! Estarei certo ? Abraços.

    • Mauro Amaral

      Kasparov deveria ter forçado a assinatura do contrato do terceiro match, antes de "jogar tão mal" o segundo match.

      A IBM não era obrigada a fazer o terceiro match só porque estava um a um...

    • Samuel Oliveira

      Não se esqueçam de que as máquinas e os programas são construídos pelos homens. Portanto, os humanos vencem sempre. A diferença é que ultimamente o que mais se vê e se aprendem é que o trabalho em equipe vence o individual, mesmo que esse indivíduo seja um Gênio. Ou seja, o tempo dos gênios individuais já passou; as grandes conquistas agora ocorrem entre as equipes, vencendo aquela que melhor se organiza e se desenvolve; os embates, agora, são entre grupos; não são mais entre pessoas.

    • Rilton Conti

      Kasparov perdeu e qualquer jogo hoje entre homem e máquina, ganha a máquina, todos nós sabemos disso. Tanto que não mais ocorrem esses confrontos. Agora a disputa é entre as máquinas, porque os homens não ganham mais delas. Os computadores possuem processadores capazes de cálculos posicionais misturados a sacrifícios táticos dos mais complexos, feitos em fração de segundos!

    • Aquelino Lopes Fernandes Júnior

      Se essa "válvula de escape" usada pelo sistema para evitar sobrecarga foi avisada antes, nas linhas da regra ou do contrato, não houve trapaça, mas se houve obscuridade, foi uma ação passiva de discussões a chegar-se na decisão de trapaça.

    • Christiano Sobral

      O que não foi comentado é que era época da guerra fria e que Kasparov era, acima de um mestre em xadrez, um ícone da supremacia dos russos neste jogo. Certamente um evento com tanta repercussão não foi deixado livre para ter o resultado devido. A derrota do homem era estratégica para o país da Máquina.

      • Rafael Leitão

        A Guerra fria já havia terminado há muito tempo quando o Kasparov jogou esse match.

        • Newton

          Verdade GM, a guerra fria já havia terminado, porém, a rivalidade entre russos e norte-americanos está viva! (Acho que é uma rivalidade eterna). Acredito que na época, Kasparov não tinha a noção de quanto uma máquina pode evoluir num período tão curto de ttemp!

          • Sergio

            papo furado. veja o documentario.. o match foi em NY. quando o kasparov deixa a vitoria escapar e entra cansado na sala de imprensa, o público o aplaude loucamente dando força. e qdo entra o time da ibm, tomam vaia.

        • Max Ferreti

          Essa foi a melhor resposta, a IBM e os EUA queriam ganhar na marra, Kasparov foi um gênio, alguém imbatível, e os EUA não admitiam isso. Tanto que no jogo de uma lado a bandeira russa e do outro a americana, Kasparov ponderou"isso está errado, de meu lado deveria estar a bandeira da humanidade". Ou seja, houve fraude.

      • Jorge Viana

        Garry Kasparov era um crítico ferrenho do sistema comunista. A supremacia do leste não poderia ser demonstrada com um indivíduo com tal perfil, tendo em vista a lembrança do nosso colunista de nos lembrar que esse antagonismo já havia sido superado há muito tempo.

    • Bruno

      Na minha opinião não houve trapaça haja visto que o computador não precisa trapacear pra vencer ninguém. Acho que na minha vida toda eu só ganhei 2 ou 3 vezes do computador no seu nível máximo. Isso prova que o computador é imbatível.

    • Luisinho

      Com certeza a IBM "GRANDE IRMAO" não ia deixar um humano ganhar do seu pupilo. Acho que houve sim intervenção humana. Nessa época, já existiam hackers famosos, a IBM devia ter um aos seus serviços no Deep Blue.

    • Gilberto

      Kasparov jogou muito, talvez com medo pois não tinha acesso a base de dados do Deep e a IBM tinha o banco de dados dele, aí deu uma de Fischer e fez um mi mi mi de rockstar...

    • Wendell

      Nem eu nem ninguém pode provar, mas houve trapaça. Se o computador é imbatível, como dizem, Kasparov não teria vencido a primeira partida.

    • Nicole Pi Chillida

      Eu não acredito que tenha ocorrido trapaça... o que penso é que a qualidade de analise dos lances de um computador naquela rpoca IBM era bemmm mas bemmm baixa e sendo o GM fortissimo naquela epoca acho meio suspeitoso ele ter perdido uma partida e um dos matchs. O que penso é que a IBM pra vender seus computadored na epoca fez algum combinado com Kasparov pra poder vender muito computadores.. e o que seria ótimo como propagando : compre o computador que venceu o camprão do mundo! Hahahah essa empresa deve ter ganhado um monte!!!!

    • Antonio

      Parece-me que o Kasparov perdeu porque perdeu a concentração ao achar que estava sendo traído pela IBM. Acredito que se não tivesse sido traído pelos seus nervos, Kasparov ganharia as três partidas em que jogou com as brancas e empataria as demais. O resultado final seria 4,5 a 1,5 a favor do Kasparov.
      Hoje, em 2017, mais de 20 anos se passaram desde o match de 1996 e o progresso dos computadores foi muito grande. Acredito que deva ter ficado muito mais difícil um jogador humano ganhar de um supercomputador especialmente preparado e programado para jogar xadrez em alto nível.

      • Guga Schultze

        Não há como trapacear num jogo de xadrez. Qualquer movimento das peças, seguindo as regras básicas para cada peça é válido. Importa apenas o valor estratégico do movimento. Cabe a cada jogador deduzir a estratégia do oponente e antecipar suas jogadas futuras a partir de cada lance. O Deep Blue escolhia suas jogadas consultando um banco de memória com milhares de partidas arquivadas. Procurava a melhor saída para cada situação similar ao jogo que estava jogando. O jogo de xadrez de alto nível tem, na verdade, poucas variantes e pouquíssimas jogadas inesperadas. Raros jogadores conseguem surpreender um adversário de alto nível. Quando isso acontece é porque o jogador que foi surpreendido não acompanhou devidamente a estratégia adversária.

    • JULIANO Odilon

      Uma guerra mesmo acabada em parte física nunca acaba em parte tecnológica quando se á poder de mostrar que certo País e melhor que outro,nem que tenha passar barreiras e usar esportes e esportistas como exemplos, então o que se viu foi sim um Estados Unidos vs Rússia , " A guerrra sempre existira nem que seja mental para País que deseja o poder "

    • Sidarta

      Prezado Rafael, eu já li que a jogada que desconcertou Kasparov não foi no movimento 44, mas sim no movimento 36, quando o Deep Blue, em vez de passar o peão em a5 preferiu tomar o peão negro em b5 (https://www.chess.com/article/view/deep-blue-kasparov-chess#kasparov-deep-blue-1997-rematch). Ou entendi mal?

    • Egon Werner

      A questão que deixo é a seguinte: Se a IBM tivesse construído dois computadores idênticos, fazendo os dois se enfrentarem, qual seria o resultado? Empate sempre?

    • Marcelo Santos do Prado

      Jogada convencional acontece toda hora uma jogada dessa teria que acontecer uma vez para ser trapaça e não a máquina é campeão mundial como Hamilton 6 vezes teria que ser uma vez para considerar trapaça e acontece n vezes

    • Joaquim Carlos Fares

      Não dá para enfrentar o computador. É uma máquina, fria, faz cálculos. Só isso. Entrei num App de xadrez e fui eliminando os primeiros níveis. Quando cheguei no nível Grande Mestre nunca mais ganhei. Fiquei com raiva mas depois refleti que não fazia o menor sentido eu sentir raiva da máquina. Não dá para ganhar no xadrez da mesma forma que não se pode fazer contas mais rápido que uma máquina. Na verdade me sinto um perfeito idiota jogando contra um computador.

    • Bruno Buzzacchi

      Acho que o importante era testar a capacidade de aperfeiçoamento da máquina, de forma a medir se ela conseguiria não superar, mas chegar perto da criatividade humana. O que se viu foi uma empresa mais preocupada em vencer um adversário da extinta URSS /guerra fria.
      A hipótese que o computador jogou errado para não entrar em loop é furada, o tabuleiro apresenta, a cada jogada, um número limitado de opções a todas as peças. Daí ele pode estudar jogadas futuras, mas se isso leva tempo demais, para um SUPER computador, ainda assim o software deveria escolher a jogada com melhor peso e jogar, dentro de um limite de tempo. Tudo que a IBM mostrou durante o jogo foi muito estranho...

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