Copa do Mundo – Tromso 2013 (Parte II)

    Depois da dramática vitória contra o russo Inarkiev, tive que seguir a batalha já no dia seguinte contra outro russo, Alexander Morozevich (2739 então), que, salvo engano, já chegou até mesmo a ser número 1 do mundo no “live ratings”.

    Com um estilo criativo e caótico, Morozevich tem uma legião de fãs mundo afora,  alguns apreciadores de seu xadrez brilhante e imprevisível, outros de sua personalidade não menos original (suas entrevistas sempre são divertidas). Além disso, Moro é conhecido como um excelente jogador de partidas rápidas, o que tornava minha tarefa ainda mais difícil.

    Esgotado por conta de meu dramático desempate, quase não preparei para a primeira partida. Também ajudou o fato de que o russo joga literalmente qualquer abertura. Passo agora a comentários técnicos sobre a épica primeira partida, que pode ser visualizada aqui.

    Decidi enfrentar 1.e4 com uma Defesa Taimanov, um tipo de “bola de segurança”. Meu adversário optou por uma das variantes prediletas de Bobby Fischer: 5.Cb5 seguido de 6.Bf4, mas – como sempre – interpretando a posição de forma bem particular, escolheu o pouco jogado 9.Cd2!?

    Tomado de surpresa (ele já tinha vencido o Radjabov nessa linha esse ano, mas não me lembrava dessa partida), pensei bastante tempo em minha jogada 9. Devo dizer que a ideia branca é bastante interessante e é difícil apontar uma linha de igualdade sem um estudo mais aprofundado. 9…d5 é natural, mas parece que o branco pode conseguir certa vantagem no final. O imediato 9…Be6 também é possível, mas após 10.Cc4 b5 11.Cb6 Tb8 12.a4!? é difícil jogar a posição preta, especialmente sabendo que ele devia ter isso bem estudado. Decidi, então, por 9…Bg4!?.

    A posição requer muita análise. Talvez as brancas consigam alguma vantagem com o simples 10.Be2 Bxe2 11.Dxe2, mas durante a partida eu confiava em minha posição após 11…d5. Acho que jogamos bem até o lance 15. Mas minha decisão de abrir o flanco dama com 15…b4 foi bem duvidosa. O peão de “a” ficou mais vulnerável do que eu imaginava.

    Moro jogou um xadrez irrepreensível e conseguiu uma posição ganha. Entretanto, nem mesmo jogadores de 2700+ estão imunes aos dramas do apuro de tempo. A partir da jogada 31 a partida virou um show de erros, com ambos jogando no acréscimo. Uma pena que não encontrei a simples linha de ganho com 35…Cg3+. Eu vi o lance, mas depois de 36.hg Dh6+ 37.Rg1 Be3+ 38.Tf2 Bxf2+ 39.Rxf2, não vi o fatal 39…Df6+.

    No último lance do apuro cometi outro grave erro. O resultado natural seria o empate após o simples 40…Dg6 ou o sofisticado 40…Tb1!. Após 40…Cg3+?, a posição surpreendentemente é perdida, ainda que tive chances de defender mais tarde.

    Após essa dolorosa derrota, o espírito era de tentar reverter na partida seguinte, de brancas. Mais detalhes no próximo post!

    Link para a partida.

    0 Responder para “Copa do Mundo – Tromso 2013 (Parte II)”

    • Anônimo

      E a parte III?

    • Academia Rafael Leitão

      Em breve fechamos essa trilogia! Rsrs

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