Grandes Enxadristas: A História de Paul Keres
Paul Petrovich Keres nasceu em 7 de janeiro de 1916, em Narva, na Estônia. Na infância, aprendeu xadrez com seu pai e com seu o irmão mais velho. Em 1935, aos 19 anos, tornou-se campeão nacional após derrotar Gunnar Friedemann na decisão pelo título.
Olímpiadas: Keres e a Estônia
Ídolo na Estônia, Keres virou moeda
Melhor enxadrista local, Keres ganhou reconhecimento internacional nas Olímpiadas de Varsóvia, na Polônia, em 1935, quando jogou no primeiro tabuleiro e teve um aproveitamento de 65.8%.
Já nas Olímpiadas não oficiais de Munique (Alemanha), em 1936, Keres também jogou no tabuleiro 1 da Estônia e teve um rendimento de 77,5%. Já em Estocolmo (Suécia), em 1937, Keres mais uma vez teve um rendimento alto: 73,3%, sempre no tabuleiro principal.
Porém, seu maior feito olímpico pela Estônia aconteceu na Argentina em 1939. Com um rendimento de 76,3%: 12 vitórias, 5 empates e 2 derrotas, Keres conduziu sua seleção à inédita medalha de bronze.
Avro 1938
Após vencer em Margate, Reino Unido, Keres se tornou um real candidato ao título máximo do xadrez ao vencer o torneio de Avro, Holanda, em 1938. Há quem diga que este pode ser o torneio mais forte da história, conforme classificação a seguir:
- Paul Keres 8,5
- Reuben Fine 8,5
- Mikhail Botvinnik 7,5
- Max Euwe 7,0
- Samuel Reshevsky 7,0
- Alexander Alekhine 7,0
- José Raul Capablanca 6,0
- Salo Flohr 4,5
Curiosamente, nas quatorze rodadas disputadas, Keres saiu invicto com três vitórias e 11 empates.
O duelo com Euwe
De fato, no fim dos anos 1930, Keres tinha a intenção de enfrentar o campeão mundial Alekhine e, como as negociações eram complexas, Keres (24 anos) desafiou o ex-campeão mundial Euwe (38 anos), pois entendia que o vencedor teria o direito moral de desafiar o campeão. O duelo com Euwe foi muito interessante e Keres venceu pela diferença mínima: 7,5 x 6,5. No entanto, mesmo após a vitória, Keres não conseguiu entrar em acordo com Alekhine para a realizar no match pelo título mundial. Ainda sobre Euwe, um match revanche com Keres foi marcado para 1941, porém, não foi realizado em virtude da Segunda Guerra Mundial.
Keres x Fischer
União Soviética invade a Estônia
Quando a União Soviética invadiu a Estônia em 1940, a vida de Keres ficou complicada. Ele teve sua revista de xadrez fechada, a “Eesti Male” (Xadrez estoniano), que foi publicada entre 1936 e 1940. Além disso, o enxadrista sofreu com a nacionalização da sua conta bancária, onde depositava os prêmios dos torneios.
Nazistas invadem a Estônia
Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941 a Alemanha invade a Estônia, mas Keres se mantém no seu país de origem. O enxadrista ganhava a vida participando de torneios alemães e, por isso, era considerado um traidor pelos soviéticos. Paul alegava que as circunstâncias o obrigavam a jogar os torneios.
Chance única de enfrentar Alekhine
Em 1943, ambos os jogadores se encontraram. O campeão mundial também participava dos torneios alemães, e Alekhine propôs um match pelo título. Mesmo com reais chances de vitória, Keres rejeitou a proposta. Desta vez, foi Alekhine quem reclamou da decisão: “todos eles estão esperando que eu complete os sessenta! ”, referindo-se aos demais candidatos.
No entanto, de acordo com a bibliografia de Keres, o enxadrista tinha a consciência de que, entre todos os aspirantes ao título mundial, ele era o único que vivia do lado errado e, nessas condições, um match com Alekhine seria comprometedor. Infelizmente, Alekhine faleceu em 1946 e o match nunca aconteceu.
Mais problemas com os soviéticos
Quando a derrota dos alemães era evidente, a União Soviética foi retomando o controle da Estônia. Com medo de ter o mesmo destino de tantos outros compatriotas, em 1944, Keres e sua família e tentaram fugir para Suécia, no entanto, as lanchas que os levariam não apareceram. Paul foi interrogado pela KGB e impedido de jogar o Campeonato Soviético. Também foi impedido de jogar o primeiro torneio no pós-guerra, Groningen 1946. Uma punição pequena para os padrões do regime de Josef Stalin.
Botvinnik, o maior rival
Keres x Botvinnik
Desde os tempos de Alekhine, Keres e Botvinnik lutavam para saber quem seria o desafiante ao título mundial. O próprio Botvinnik reconhece a importância da rivalidade: “sem ela, eu não teria evoluído”.
No entanto, na visão de Kasparov, a diferença de status social favorecia Botvinnik. “Botvinnik tinha apoio das autoridades e sentia-se à vontade. Tinha um salário pessoal e até ganhou um automóvel de presente. Durante os períodos difíceis da guerra, foi evacuado para os Montes Urais e continuou treinando. Em compensação, Keres estava deprimido pela realidade soviética e pela atmosfera opressiva que não estava acostumado”.
De todo modo, Keres venceu o Campeonato Soviético em três ocasiões: 1947, 1950 e 1951. Além disso, agora com a equipe soviética, faturou as Olimpíadas de Xadrez em sete ocasiões: 1952, 1954, 1956, 1958, 1960, 1962 e 1964.
Chances reais de conquistar o título mundial
Após a morte de Alekhine, houve um match torneio com os cinco maiores nomes da época. O campeão seria proclamado campeão mundial. O evento foi realizado nas cidades de Haia, na Holanda, e em Moscou, na União Soviética. Os cinco jogadores foram: Keres, Botvinnik, Smyslov, Reshevsky e Euwe. Paul Keres fez 10,5 e terminou em terceiro. No match individual com o campeão Botvinnik, Keres perdeu 4×1.
O enfrentamento com Botvinnik era sempre difícil para o herói do artigo de hoje. Muitos suspeitam dos motivos pelos quais Keres nunca foi capaz de jogar o seu verdadeiro jogo contra o patriarca da Escola Soviética.
Torneio de Candidatos no formato Shuring
1950 – Keres terminou em 3º, Bronstein foi o campeão.
1953 – Keres também foi o 3º, Smyslov foi o campeão.
1956 – Keres terminou em 2º, Smyslov foi o campeão.
1959 – Keres foi o 2º mais uma vez, Tal foi o campeão.
1962- Keres foi 2º de novo, Petrosian foi o campeão.
Torneio de candidatos no formato eliminatório
1965- Keres foi eliminado para o campeão Boris Spassky, por 6×4, nas quartas de final.
É possível afirmar que Paul Petrovich Keres, apesar de todas as dificuldades impostas pela vida, lutou pelo título de Campeão Mundial de Xadrez desde a sua vitória em Avro, em 1938, até 1965. Ou seja, 27 anos na elite do xadrez mundial, sempre entre os melhores jogadores do mundo. Por isso, muitos o consideram um verdadeiro campeão sem coroa.
Na visão de Kasparov, “o fato de Keres não jogar, ao menos, um match pelo título mundial foi uma lástima para o xadrez, uma brincadeira perversa do destino. Nos momentos decisivos, às vezes, perdia os nervos. O pesadelo da guerra, o terror pós-guerra e o medo da prisão: deveria ser duro jogar depois de passar por tanta coisa”.
Kasparov ainda coloca uma hipótese diferente ao futuro de Keres: “Se a Estônia não fosse anexada, Keres seria um perigo real aos jogadores soviéticos. Talvez se tivesse desertado para o ocidente em 1944, poderia ser o desafiante número um e o torneio de 1948 poderia ter um desenlace diferente”.
Paul Keres e a FIDE
De fato, Keres era muito bem relacionado com a comunidade enxadrística mundial e todos o tratavam com respeito. Em 1974, no congresso da FIDE, o Dr. Euwe manifestou interesse em deixar o cargo e pediu para encontrarem um substituto. Keres foi um consenso, porém, quando questionado: “Paul, você pode resolver os assuntos do xadrez à margem da Federação Soviética? ”, a resposta foi direta: “Com independência, só posso escrever livros. ” Paul Keres teve um ataque cardíaco e faleceu no ano seguinte, em 1975.
E para você, o que faltou para Paul Keres ser campeão mundial? Deixe sua opinião nos comentários.
Referência Bibliográficas
“Meus Grandes Predecessores – volume II”, Kasparov, Garry.
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Os encontros entre os grandes jogadores que nunca ocorreram, ou ocorreram em condições desiguais, sempre será uma pena para o xadrez!
"O que faltou para Keres ser Campeão Mundial?" Ser comunista, evidentemente.
Parece que entregou o match para botwinik uma vez que este interveio junto às autoridades para soltar seu pai da cadeia, os especialistas estranharam seu baixo nivel enxadrístico!!!