Grenke Chess Classic: Vitória de Aronian, O Impoluto

    Nessas últimas semanas diversos torneios fortíssimos, acontecendo concomitantemente, ocasionaram uma verdadeira overdose de xadrez de alto nível para todos os amantes do nosso nobre jogo.

    Além do Grenke Chess Classic, que falaremos a seguir, aconteceram: o Aberto de Reykjavik, vencido pelo humanista Anish Giri; o importante, para o futuro, Campeonato Chinês; a merecida homenagem em vida ao ex-campeão mundial Anatoly Karpov no 18º Karpov Poikovsky; o Shamkir Chess – Gashimov Memorial, vencido por Mamedyarov, “o Lenhador” – e com direito a vitória, e a quebra de uma invencibilidade de 65 partidas!, em cima de Wesley So; as aventuras brasileiras em terras chinesas no 1º BRICS Chess Masters e o Zonal 2.4, que aconteceu em Florianópolis. Ou seja: é muito xadrez!

    Mas tudo isso já foi ou ainda será assunto noutras oportunidades…

    Hoje, aqui na Academia, seguiremos com nosso trabalho historiográfico (tão amado por alguns de nossos mais fervorosos fãs) e que consiste em resgatarmos “direto do túnel do tempo” importantíssimos torneios acontecidos há mais de meio século… Ou simplesmente acontecidos no mês passado. Vamos falar do Grenke Chess Classic.

     

    Grenke Chess Classic: Surpresas, Decepções e Penteados

    O Grenke Chess Classic aconteceu em Karlsruhe (ou Carlruhe) e, posteriormente, em Baden-Baden – ambas as cidades no sudoeste da Alemanha – de 15 a 22 de abril. Curiosidade: um dos primeiros, ou talvez o primeiro, grande torneio internacional de xadrez aconteceu justamente na cidade de Baden-Baden, em 1870, e foi vencido pelo genial enxadrista alemão Adolf Anderssen (1818-1879). O então campeão mundial Wilhelm Steinitz (1836-1900) ficou em segundo lugar.

    O torneio principal – principal, pois durante três dias, em Karlsruhe, aconteceu o Grenke Chess Open, torneio aberto – contou com a participação de oito jogadores, sendo o número um o atual campeão mundial Magnus Carlsen (2862), seguido por Fabiano Caruana (2817); Maxime Vachier-Lagrave (2803); Levon Aronian (2774); Arkadij Naiditsch (2702); Hou Yifan (2649); Matthias Blübaum (2632); e Georg Meier (2630).

     

     

    Mas mesmo antes de começar o torneio todas as atenções recaíram em cima do Campeão Mundial. Embora, desta vez, o motivo não tenha sido necessariamente por conta do xadrez: Magnus deu o ar da graça não apenas com um par de óculos – que, segundo ele, seria uma recomendação médica –, mas, principalmente, com uma vasta e exuberante cabeleira que suscitou os mais diversos comentários – que, com certeza, não é recomendação médica.

     

    O que dizer? Ele é o Campeão Mundial…

    … Mas não está imune à internet.

     

    Isso nos lembra aquela antiga música: “cabelo, cabeleira”…

    “cabeluda, descabelada”.

    Felizmente a surpresa capilar de Carlsen foi rapidamente colocada em segundo plano após o início do torneio. Tudo por conta da surpreendente atuação da chinesa Hou Yifan nas três primeiras rodadas – em que esteve até mesmo liderando a competição. Já na primeira rodada Yifan venceu, e venceu bem, o terceiro melhor jogador do mundo: o ítalo-americano Fabiano Caruana. Nas palavras do nosso GM Rafael Leitão: “Hou Yifan demoliu Caruana em uma excelente partida posicional” (clique aqui e confira). Na segunda rodada Hou Yifan venceu, de pretas, em um ataque fulminante, Georg Meier (aqui) e, em seguida, empatou, por cima, com ninguém menos que Carlsen. Mas o que poderia ser o torneio perfeito da chinesa começou a escapar na quarta rodada – após perder um difícil final para Vachier-Lagrave. Hou Yifan ainda empatou com Bluebaum, na quinta, e Naiditsch, na sétima, mas perdeu para Aronian na sexta – portanto, ao final, somando 50% dos pontos. Entretanto, apesar da segunda metade do torneio decepcionante, Yifan, sem dúvidas, deu amostras de que tem potencial para suprir o lugar da húngara Judith Polgar na elite do xadrez mundial.

     

    [Hou Yifan na sua memorável vitória da primeira rodada contra o número 3 do mundo, Fabiano Caruana]

     

    Um pouco decepcionante foi a atuação do alemão Arkadij Naiditsh e, principalmente, do francês Maxime Vachier-Lagrave – os dois também ficaram apenas no 50% dos pontos. Já Georg Meier e Matthias Blübaum, apesar de dividirem a última posição com apenas 2,0 pontos cada, aguentaram firme a “prova de fogo”. O jovem Meier, por exemplo, conseguiu um empate na primeira rodada contra Aronian; enquanto Blübaum também conseguiu arrancar meio ponto do campeão mundial na mesma rodada. Caruana e Carlsen somaram 4 pontos, mas Carlsen, invicto, teve melhor critério de desempate. Curiosamente, tanto Carlsen quanto Caruana, ultimamente, têm sofrido algumas críticas – de que ambos estariam um pouco distante do melhor xadrez de cada um. É provável… Mas, imaginem então quando estiveram em seus melhores?

     

    Aronian: O Cara

    A melhor frase para definir uma vitória de Aronian num torneio deste nível vem, simplesmente, do eterno campeão mundial Gary Kasparov: “o mundo do xadrez é um lugar melhor quando Aronian está jogando bem”. A atuação do GM armênio foi espetacular: 5,5 pontos em 7 possíveis – 4 vitórias e 3 empates. Objetivamente, Aronian chegou a passar alguns sufocos (escapando por muito pouco da derrota): como na primeira rodada, contra Georg Meier; e na segunda, contra Carlsen – embora esta tenha sido uma complexa e longa batalha que pouco valida a matemática fria e impessoal das engines (na transmissão oficial do evento o GM húngaro Peter Leko chegou a classificar essa partida como “maravilhosa” e “arte pura”).

    Após isso, Aronian jogou quatro partidas impecáveis: brilhante e cirúrgica vitória contra Vachier-Lagrave; instrutiva vitória contra Blübaum; uma aula de iniciativa contra Naiditsch – espetacular!; e uma amostra da força do par de bispos contra Hou Yifan na sexta rodada. Com esses resultados Aronian sagrou-se campeão da quarta edição do Grenke Chess Classic com uma rodada de antecedência. O que talvez explique o enorme deslize na última rodada, contra Caruana – que após perder uma peça por um peão de maneira infantil, continuou jogando por inércia (segundo o próprio). Entretanto, no final, após algumas decisões questionáveis, Aronian, com peça e torre a mais (!), deixou passar um contrajogo de Caruana e devolveu a gentileza que havia recebido no meio jogo. Mas… Nem só de show vive um campeão. Às vezes é preciso um algo a mais – nem que seja sorte ou coisa parecida.

     

    [O pódio: Caruana (terceiro); Aronian (campeão); e Carlsen (segundo)]

     

     

    Qual será o nosso próximo torneio de que falaremos?

    Opções não faltam!

     

    FONTES

    Site Oficial

    Chess24

    Chess Base

    Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão 12.05.2017.

     

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