De Kotov a Dvoretsky
A primeira menção da literatura enxadrística à técnica dos Lances Candidatos (de agora em diante referida como “LC”) remete ao clássico “Pense Como Um Grande Mestre”, de Alexander Kotov. A obra, escrita no início da década de 50 (tenho uma edição em espanhol de 1974, que meu pai adquiriu em 1977), deve sua fama principalmente ao capítulo em que o grande mestre russo explica sua técnica para calcular corretamente. Segundo Kotov, amadores calculam indo e voltando nas mesmas variantes, sem chegar a qualquer conclusão na maioria dos casos.
De forma resumida, sua recomendação para calcular corretamente era a utilização do LC para criar uma “árvore de análises”, mais ou menos assim: a) selecionar todos os lances interessantes em uma determinada posição; b) calculá-los de forma ordenada, sem jamais voltar ao início da variante; c) fazer o mesmo para o adversário; d) tirar conclusões para todas as linhas.
Assim, dependendo da posição, a árvore de análises pode ser composta por apenas um tronco (variante forçada) ou ter muitas ramificações (posições com muitos LC). Eu me lembro de ter lido cada detalhe desse capítulo do livro, inclusive tentando desenhar a árvore de análises para cada exercício.
Mas a visão de Kotov era muito rígida e nenhum grande mestre calcula dessa forma. De todas as maneiras o conceito é bastante útil para encontrar ideias em posições com muitas possibilidades. A ideia de Kotov acabou sendo revisada e aprimorada por autores como Dvoretsky e Aagard.
Como Realmente Utilizar A Técnica dos Lances Candidatos?
A melhor forma de calcular, na minha opinião, é a recomendada por John Nunn em seu livro “Secrets of Practical Chess”. Primeiro devemos realizar uma “visão geral” da posição, analisando as jogadas mais tentadoras e as linhas mais forçadas. Neste momento não devemos nos preocupar com uma lista minuciosa de candidatos. Em muitos casos, quando a posição não é tão complexa, esta visão geral já será suficiente para encontrar a melhor jogada. Nos casos mais complicados, depois da rápida análise das variantes mais forçadas, devemos voltar à posição inicial da análise e, utilizando as ideias estudadas na visão geral, fazer uma minuciosa lista dos lances candidatos.
Curiosamente, o próprio Kotov deixa passar vários LC nas suas análises, conforme veremos. Mas aqui devo fazer justiça a ele: na sua época não havia computador para checar as variantes.
Ofereço aos leitores um dos exemplos mais interessantes deste histórico capítulo do “Pense Como Um Grande Mestre” (clique aqui para baixar as análises em pgn). Para que o treino tenha o efeito desejado, sugiro que analise como jogaria em todas as três posições dos diagramas. Tente utilizar a técnica sugerida de visão geral + lances candidatos. Para saber de quem é a jogada nas posições, observe o círculo ao lado de cada diagrama.
Gostou de saber um pouco mais sobre as técnicas de cálculo? Discorda de alguma ideia ou gostaria de acrescentar algo? Deixe sua opinião nos comentários!
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Escrito pelo GM Rafael Leitão em 05.10.2016.
• Na foto: Petrosian, Kotov, Keres, Averbakh e Geller.
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