Zurich, ou Zurique, na Suíça, é sinônimo de clássico para todos os enxadristas. Foi lá, em 1953, que aconteceu um dos maiores torneios de candidatos de todos os tempos – e que ficou famoso não apenas pela disputa em si, mas pelas intrigas e pressões políticas que cercaram o torneio. Subsequentemente, o livro Ajedrez de Torneo – Zurich 53, do GM David Brostein, vice-campeão da disputa, atrás de Vasily Smyslov, acabou por imortalizar Zurich no universo enxadrístico.
[O brilhante GM David Bronstein, autor do fundamental livro Ajedrez de Torneo – Zurich 53]
E desde 2012 a cidade suíça voltou a presentear o mundo do xadrez. O Zurich Chess Challenge, em sua quinta edição (que aconteceu agora: de 12 a 15 de Fevereiro), é sempre um interessante e aguardado torneio – pois, além das estrelas que o disputam, com partidas rápidas e blitz, acaba dando uma dose a mais de emoção para os espectadores. Os jogadores este ano foram Kramnik, Nakamura, Anand, Shirov, Aronian e Giri.
Inclusive, a emoção em Zurich já começa na forma como são definidos os números dos jogadores na tabela: um “singelo” torneio blitz. E foi ali, quando ainda estava só carregando a pistola, que Nakamura já começou a mostrar o motivo do por que ele é um dos gatilhos mais rápidos do xadrez mundial hoje – muito provavelmente atrás apenas de Magnus “Billy the Kid” Carlsen. A vitória de Nakamura contra Aronian (veja clicando aqui) reafirmou a lei máxima do velho-oeste: “Mate primeiro. Pergunte depois”.
[“Você é a doença. Eu sou a cura”. Ops, errei o filme…]
Embora tenha tido uma boa arrancada inicial (duas vitórias) e liderado boa parte da competição, Viswanathan Anand se viu o tempo inteiro perseguido por Kramnik e, claro, Nakamura. A excelente vitória de Anand frente a Aronian (veja clicando aqui) serviu para demostrar que o ex-campeão mundial parece estar recuperado do mau desempenho no recente torneio de Gibraltar. Já Aronian, Shirov e Giri, definitivamente, não apresentaram riscos aos demais participantes. Mas, claro, o destaque foi mesmo o cowboy norte-americano Hikaru Nakamura – campeão do torneio.
[Antes de sacar a arma: aquele o olhar por debaixo do chapéu…]
Além da vitória contra Aronian, tanto contra Shirov como contra Anand, Nakamura se encontrou em posições bem inferiores. Contudo, com o ritmo mais acelerado das partidas, Nakamura não deixou de apresentar problemas práticos aos seus adversários – inclusive vencendo a sua partida contra Shirov. Contra Anand a partida terminou em empate, mas, claro: alguns empates são praticamente uma vitória.
Ao final do torneio, Nakamura e Anand terminaram empatados em primeiro lugar. O mesmo que havia acontecido no ano passado. No ano anterior, contudo, a decisão se deu por meio de uma partida no estilo Armaggedon, enquanto este ano, para decepção dos fãs, pelos critérios de desempate (Sonneborn-Beger). E para decepção do próprio Nakamura: embora sabendo que seria beneficiado pelos critérios de desempate, deixou clara a sua inclinação para a decisão do campeão dentro das 64 casas. Nota: no ano passado Nakamura teria sido prejudicado caso a decisão ficasse apenas nos critérios. Jogou o Armaggedon e levou o título de Anand. E desta vez estava disposto a colocar a taça em jogo. Gostando ou não do jeito um pouco “marrento” de Nakamura, não dá para negar: ele gosta de “lutar a boa luta”. Seria este o espírito necessário para o desafiante do campeão mundial ou apenas um blefe ao pôr do sol tendo um revólver com poucas balas? Só o tempo dirá…
FONTES:
Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão 20.02.2016
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