Nem só de príncipes e meninos prodígios vive o Xadrez. E, por nossa sorte, nem só de tragédias – veja mais, aqui. Depois de um desastroso início de torneio para o campeão mundial Magnus Carlsen (0,5 em 4,0!) – de perder uma partida por falta de conhecimento do regulamento do torneio (contra Topalov); uma derrota cândida (contra Caruana); outra derrota e, desta vez, mais violenta (contra Anand) –, a “Máquina do Mundo” (vide Dante, Camões, Drummond) voltou a andar nos trilhos.
Portanto, aqui, pela última vez (assim esperamos!), citamos Shakespeare – via Hamlet, claro:
Pasmem: o Jovem Campeão mundial é humano. Demasiadamente humano. E ainda bem – pois, quando o oposto acontecer, só irá sobrar torcermos para algo próximo a um filme B como “Gigantes de Aço” ou, pior ainda, vivermos numa distopia a la “Exterminador do Futuro” (e quem não garante que não será de um StockFisch da vida que surgirá uma SkyNet? Só o tempo dirá…).
Mas expurguemos os fantasmas. Que venha um novo dia. Ou melhor, um “velho” dia.
Quinta rodada
Em Vachier-Lagrave e Giri tivemos: muita teoria! Pouca emoção. Empate. Fim.
Em Nakamura e Anand, apesar de também ter prevalecido o empate, houve alguma emoção – muito por “culpa” de Nakamura (e isso quase lhe custou mais do que só dividir o ponto).
E Carlsen, claro, venceu – o que é bem óbvio, pois, ao contrário, pelo drama das últimas notícias aqui publicadas, uma derrota poderia significar um texto escrito no mais puro “sangue, suor e lágrimas”. Teríamos, então, um “Diário do Jovem Wherter” moderno, do qual jovens apaixonados, mas desiludidos, se suicidariam – voltando a jogar Gambitos do Rei, Contra-gambitos Albin e outros que tais. É bom tê-lo de volta, Jovem Príncipe Magnus: vencendo, de brancas, a Grischuk, e numa partida própria do seu estilo: abertura pouco teórica, posição quase igualada, mas, claro, Carlsen conseguindo tirar “leite de pedra” e vencer (veja a partida aqui).
E não foi só Carlsen que fez as pazes com a vitória (por mais clichê que a frase possa ser – depois de tanto Shakespeare, é melhor cairmos um pouco no trivial. E não existe lugar melhor para isso do que a vitória): Aronian venceu Caruana. Depois de um meio jogo praticamente igualado, com mínima vantagem de Aronian, Caruana se precipitou mais uma vez (como aconteceu em sua derrota contra Nakamura) e acabou entrando num final perdido.
Por fim, Hammer e Topalov. Grande partida do GM Norueguês: sacrifícios, ataque e defesa… Mas, Mefistófeles. Sim, já dissemos aqui e repetimos: a essência de Mefistófeles em Topalov ultrapassou a questão física e agora vem se concretizando também no xadrez. Em posição completamente (ou ABSURDAMENTE) empatada, Hammer deu o segundo grande presente norueguês para Topalov – e, com isso, a liderança isolada para o GM Búlgaro. É como diz o ditado: “O Diabo não é esperto porque é diabo…”.
Sexta Rodada
É provável que a torcida norueguesa para Magnus, na partida desta rodada, contra Nakamura, tenha sido um pouco maior do que nas partidas anteriores – principalmente depois da declaração de Nakamura (veja mais no link aqui). Magnus tentou: se afastou da linha que usou na partida contra Topalov e, apesar de cair numa posição muito igualada, quase conseguiu alguma coisa – mas só quase. Carlsen voltou? É provável. Mas, como já dissemos, ele ainda é humano – e se nem JC fez milagres sempre, imagina MC…
Já Caruana até que tentou e obteve uma posição interessante contra Hammer, depois do tratamento exótico que deu a abertura – mas Hammer soube manter a defesa e, desta vez, sem interferências “mefistóficas”, foi selado o empate.
E mais uma partida de Giri cheira teoria – agora contra Aronian. Contudo, a discussão da teoria entre os dois não trouxeram grandes novidades e a pressão branca não foi suficiente. Mais um empate decretado.
Finalmente, as duas grandes partidas que valeram a rodada e vieram demonstrar que o mundo é “dos velhos”: esqueça Carlsen, Giri, Caruana. A vez é de Topalov (líder) e Anand (brilhante).
Grischuck, de brancas contra Topalov, não teve muita sorte nas complicações e a vitória de Topalov foi quase burocrática. O GM búlgaro é líder isolado com 5,5 (1,5 na frente do segundo colocado!). Jogando firme e com uma sorte fenomenal: assim não tem nem como discutir (Mefistófeles sorri).
Toda forma, a partida da rodada foi mesmo Anand e Vachier-Lagrave. Recentemente Anand venceu uma brilhante partida contra Wesley So no Memorial Gashimov (veja o vídeo gratuito com a análise do GM Rafael Leitão aqui) – e, como vimos aqui na Academia, contra Carlsen, neste Norway Chess, Anand deu outro show. Contra Vachier, Anand castigou a imprecisão das negras e, como diria o MI Hélder Câmara em suas saudosas colunas, Anand “jogou até a pia da cozinha” no GM francês: vitória arrasadora – Anand parece ser outro depois da perda do match contra Carlsen (talvez por agora não ter o peso da coroa e nem o peso de ser o melhor. Ele só é ele mesmo. Anand – o que, evidentemente, é algo extraordinário de ser). Veja a partida aqui.
A Classificação até agora é:
Topalov (5,5); Nakamura e Anand, (4,0); Giri (3,5); Vachier-Lagrave (2.5); Aronian e Caruana (2.5); Carlsen e Grischuk (2); Hammer (1,5)
Atualização 23.06.15: Tudo continua na mesma depois da sétima rodada, terminada agora há pouco. Pela primeira vez no torneio, todas as partidas terminaram empatadas! Chama a atenção o empate rápido de Carlsen, ainda que de pretas, contra Vachier Lagrave. Será que o campeão mundial desistiu de lutar e quer logo que o torneio acabe?
Site oficial: aqui
Imagens: chessbase.com
Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão 23.06.2015.
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