Meus Treinadores de Xadrez Nos Títulos Mundiais
Até hoje sou o único brasileiro a conquistar títulos mundiais em categorias de idade. Isso não é coincidência, já que a tarefa é extraordinariamente difícil em um país sem tradição no xadrez.
É bom que se diga que na época do Mequinho só havia um torneio de categoria – o Campeonato Mundial Junvenil. Gilberto Milos chegou a ter boas participações na sua categoria, tendo, salvo engano, conquistado uma medalha de bronze. Giovanni Vescovi e Alexandr Fier foram vice-campeões na categoria sub-10.
Aliás, em meu primeiro Campeonato Mundial, disputado em Porto Rico em 1989, também conquistei o vice-campeonato. O detalhe é que eu fiz 10,5 em 11 rodadas (10 vitórias e um empate). O campeão, o indonésio Irwin Irnandi (que curiosamente parou de jogar depois) me venceu nos milésimos, critério de desempate que eu passei a odiar mortalmente pelo resto da minha carreira.
Mas em meus dois títulos mundiais os critérios estiveram ao meu favor. Por esse motivo para sempre amarei o escore acumulado, de longe meu critério de desempate predileto (acredito que o leitor me perdoará por essa preferência).
Além dos dois títulos e esse vice-campeonato, fui bronze em 1993, em Bratislava e vice em 1995, em Guarapuava.
Mas os meus títulos mundiais não foram conquistados sozinhos. Eu tive uma gigantesca ajuda dos meus treinadores em ambas as conquistas. Nesse artigo gostaria de detalhar, brevemente, a importância de todos que me ajudaram nessas duas conquistas.
Varsóvia 1991 – Título Mundial Sub-12
Em 1991, em Varsóvia (Polônia), no mundial sub-12, fui ajudado pelo meu pai e por Jefferson Pelikian. Nossa preparação consistia principalmente em estudar as partidas dos meus adversários usando o boletim do Campeonato Europeu, realizado pouco tempo antes.
Enfrentando Giovanni Vescovi no Campeonato Brasileiro sub-10 em SP (1987)
Realmente os tempos eram outros. Lembro de nossa felicidade quando encontramos os boletins à venda. Meus principais adversários estavam lá: Leko (que pouco tempo depois apareceu na lista de rating com mais de 2400 – depois disso quebrou o recorde de GM mais novo da história na época).
Especialmente contra Stevic a preparação “Pelikiânica” rendeu bons frutos. Acabei dominando meu adversário desde a abertura e vencendo uma importante partida. Mas a verdade é que ele iria se vingar
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Menorca 1996 – Título Mundial Sub-18
Já em 96, no Mundial sub-18 disputado em Menorca (Espanha), meu treinador era o GM Gilberto Milos. Já estávamos na era do computador. Usando bases de dados e a experiência de Milos, fomos capazes de prever com precisão as aberturas das partidas mais importantes.
Em uma das partidas, contra o grego Banikas (que terminou na terceira colocação), a preparação encaixou até a posição final! Literalmente tínhamos a posição montada em nosso tabuleiro no quarto do hotel. Eu estava de pretas e a abertura foi uma Índia do Rei, variante 4 peões. O empate de pretas estava de bom tamanho naquele momento.
Minha vitória decisiva na penúltima rodada, contra o americano Tal Shaked (que depois foi Campeão Mundial Juvenil) foi conseguida com uma novidade teórica sugerida por Milos. Curiosamente essa foi outra Índia do Rei variante dos 4 peões, mas dessa vez eu estava de brancas.
Título Mundial Sub-18
A história desses dois títulos confirma a importância de receber as orientações necessárias para guiar seu estudo.
Hoje em dia, felizmente, a tarefa é muito mais fácil, já que o aluno pode ter acesso ao método de treinamento de um grande mestre olhando vídeos online, tirando dúvidas via skype, analisando variantes com máquinas potentes.
Mas a importância de ter um treinador (mesmo que você não o conheça pessoalmente, no caso de vídeos online) nunca diminuirá. Estudar os conselhos de um forte enxadrista é a melhor forma de progredir no xadrez.
E você, tem um treinador de xadrez? Segue os conselhos de alguém grande mestre? Deixe sua mensagem nos comentários.
Escrito por GM Rafael Leitão em 11.07.17
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Meus parabéns campeão !!
Parabéns Rafael !!!
Que orgulho !!
Parabéns Rafael. Eu sempre ouvi falar do xadrez, mas somente comecei a jogar regularmente depois de me formar em Direito e passar em um concurso público. Hoje o xadrez é um hobby. Gostaria de estudar mais e participar de torneios. Tenho dois filhos pequenos e não tenho muito tempo livre. Às vezes brinco de xadrez com minha filha de 3 anos, de uma forma lúdica. Quem sabe ela não tome gosto.
Obrigado, Adriano. Sua história é semelhante à de muitos amantes do xadrez que em um momento deixam o amor pelo jogo "adormecido" para buscar a estabilidade e depois retornam, seja para aproveitá-lo agora que tem mais tempo ou para apresentar o jogo para os filhos. Espero que aproveite o material do site!
Professor nao tenho treinador e gostaria de saber como faço para adiquirir treinos para campeonatos?
Rafael Leitão: comecei a jogar no CXSP com o Pelikian e o Ivan Nogueira. Conheci também o Milos no CXSP. Grande satisfação em saber que tanto meu amigo Pelikian quanto Milos (do qual lembro como um cara simples mas, ao mesmo tempo, consciente da sua excelência no xadrez) te ajudaram a conquistar nossos dois únicos títulos mundiais. Eu e vc também nos conhecemos brevemente em uma simultânea dada por vc no CEPEUSP. Fomos depois eu, vc, o presidente da Associação Paulista e o Cordani, diretor do IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP, almoçar em Pinheiros. Lembra? Fico feliz também em ter-lhe desejado boa sorte para o mundial ganho por vc. Pelo menos com a "boa sorte" eu também contribuí, Rs. Abs
Belas lembranças, Alexandre! Um grande abraço.
Eu também joguei nesta simultânea!!! Acho que foi em 1996! Fiquei horas na vespera me preparando e logo na abertura eu ja estava perdido! Foi uma grande honra ter sido massacrado pelo mestre... !