5 Personalidades Que Jogavam Xadrez – Parte II

     

     

    Benjamin Franklin (1706-1790)

    O norte-americano Benjamin Franklin é conhecido por diversos motivos, mas, sobretudo, por ter sido um dos líderes da Revolução Americana, além de notório cientista – pioneiro nas pesquisas sobre eletricidade (quem já não ouviu falar do famoso experimento da pipa sendo erguida em meio a uma tempestade?). Mas o que nem todo mundo sabe é que Benjamin Franklin foi também um grande entusiasta do xadrez. Tanto é que em 1786 o inventor publicou um artigo no Columbian Magazine chamado A moral do xadrez. Em determinado momento de seu texto, Benjamin Franklin diz:

    O jogo do xadrez não é meramente uma diversão ociosa. Muitas valiosas qualidades da mente, úteis no decorrer da vida humana, são adquiridas ou reforçadas por ele, de forma a se tornarem habituais, disponíveis a qualquer momento. Pois a vida é uma espécie de xadrez, no qual muitas vezes temos pontos a ganhar, e competidores ou adversários para enfrentar, e onde há uma ampla variedade de fatos bons e ruins que em certa medida, são os efeitos da prudência, ou da sua falta.”.

     

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    E o cientista termina dando três conselhos enxadrísticos para os amantes do nosso nobre jogo. São eles:

     

    I – Previsão: olhar um pouco para o futuro e considerar as consequências que podem aguardar determinada ação. Pois ocorre continuamente ao jogador a seguinte reflexão: ‘Se eu mover esta peça, quais serão as vantagens da minha nova situação? Qual a utilidade que o meu adversário poderá obter com esta última para me causar problemas? Que outras movimentações posso fazer para dar apoio àquela jogada, defendendo-me do ataque dele?’

    II – Circunspeção: observar todo o tabuleiro, ou o cenário da ação, as relações e situações de cada peça individualmente, os perigos aos quais elas estão expostas, as várias possibilidades de se ajudarem mutuamente, as probabilidades de o adversário poder fazer esta ou aquela jogada, e atacar esta ou aquela peça. E que diferentes meios poderão ser usados para evitar esse ataque, ou fazer com que as consequências do mesmo se voltem contra seu autor.

    III – Precaução: não realizar nossas jogadas muito apressadamente. Adquirir-se melhor este hábito quando se observam estritamente as leis do jogo, tais como ‘se alguma peça for tocada, ela necessariamente deverá ser movida para algum lugar, e se ela for colocada em algum lugar, deverá ser deixada ali’. Por isso, é melhor que essas regras sejam observadas à medida que o jogo se torna cada vez mais a imagem da vida humana, e particularmente da guerra; onde, se ocuparmos inadvertidamente alguma posição ruim e perigosa, não teremos permissão do inimigo para retirar nossos soldados e colocá-los em maior segurança, mais sim, teremos de arcar com todas as consequências da nossa precipitação”.

     

    “Benjamin Franklin jogando xadrez”.

    Autor: Edward Harrison May (1824-1887)

     

    Fernando Pessoa (1888-1935)

    Quando falamos de poesia em Língua Portuguesa, Fernando Antônio Nogueira Pessoa, ou simplesmente Fernando Pessoa, talvez seja o nosso maior gênio – é, por exemplo, basicamente o que afirma o crítico norte-americano Harold Bloom em seu livro Gênio: os 100 autores mais criativos da história da literatura.

    A obra de Fernando Pessoa é quase tão extensa quanto rica. Ou melhor, as obras de Fernando Pessoa. Pois uma das características mais marcantes da poesia do poeta português foi o uso do heterônimo. Ao contrário do pseudônimo (quando escrevemos um texto e assinamos com outro nome que não o nosso, mas mantemos o nosso estilo e a nossa visão de mundo), os heterónimos constituem uma personalidade própria. Um estilo próprio – inclusive com toda uma biografia (data de nascimento, profissão, etc., no caso dos heterônimos de Pessoa).

    Segundo o pesquisador José Paulo Cavalcanti Filho, Pessoa possuiria, aproximadamente, 127 heterônimos (!). Dentre esses, três ganharam o maior destaque: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Inclusive, este último, possui um longo poema chamado Os jogadores de xadrez. No texto, enquanto uma cidade está sendo invadida e saqueada, dois jogadores de xadrez, alheios ao mundo, seguem “o seu jogo contínuo”. A indiferença dos jogadores é justificável, pois:

     

    “Quando o rei de marfim está em perigo,

    Que importa a carne e o osso

    Das irmãs e das mães e das crianças?

     

    Quando a torre não cobre

    A retirada da rainha branca,

    O saque pouco importa.

    E quando a mão confiada leva o xeque

    Ao rei do adversário,

    Pouco pesa na alma que lá longe

    Estejam morrendo filhos.”

    (O texto completo pode ser lido aqui).

     

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    Mas Fernando Pessoa não conhecia o xadrez apenas como material poético. O poeta português foi um assíduo frequentador de Clubes de Xadrez em Lisboa – inclusive chegando a disputar alguns campeonatos locais. A foto abaixo serve também como um bônus. Nela Pessoa enfrenta Edward Alexander Crowley, ou Aleister Crowley (1875-1947), famoso ocultista inglês – autor de Livro da Lei. As ideias de Crowley ficaram famosas no Brasil por terem influenciado o Manifesto da Sociedade Alternativa que, posteriormente, seria cantado pelo eterno “maluco beleza” Raul Seixas.

     

    Aleister Crowley x Fernando Pessoa

     

    Humphrey Bogart (1899-1957)

    “Nós sempre teremos Paris”. A cena final do filme Casablanca (1942) é uma das mais relembradas do cinema mundial. Humphrey DeForest Bogart foi eleito pelo American Film Institute como a maior estrela masculina do cinema norte-americano de todos os tempos e pela Entertainment Weekly como a maior lenda do cinema mundial. Humphrey Bogart ganhou o Oscar de melhor ator em 1951 pelo papel de Charlie Allnut em Uma aventura na África (1950). Mas é claro que, até hoje, o papel de Rick Blaine em Casablanca ainda é o preferido da maioria dos fãs.

    E logo no começo do filme temos uma cena onde Rick está em frente a um tabuleiro de xadrez analisando uma posição – a cena e a posição é amplamente analisada pelo enxadrista e teórico Luiz Roberto da Costa Júnior no livro Casablanca: Política, História e Semiótica no Cinema.

     

     

    E o xadrez não está ali apenas para cumprir uma metáfora sobre o enredo da história. Humphrey Bogart era um apaixonado pelo jogo. E, inclusive, jogava razoavelmente bem. Dizem que durante a época da grande depressão norte-americano pós 1929, Bogart chegou a sobreviver graças ao xadrez. Inclusive, o exótico gambito 1.d4 Cf6 2.g4?! é creditado ao ator.

     

    Papa João Paulo II (1920-2005)

    Nascido Karol Józef Wojtyła, João Paulo II foi um dos papas mais carismáticos da Igreja Católica. Dono de uma grande erudição, João Paulo II falava, além do polaco, sua língua materna, italiano, francês, alemão, inglês, espanhol, português, ucraniano, russo, servo-croata, esperanto, grego clássico e latim. E acrescente, dentro de toda essa erudição, o xadrez. Além de jogador durante a mocidade, João Paulo II também foi problemista. Algumas das suas composições chegaram até nós.

     

                                                                                                            Mate em dois

     

    Che Guevara (1928-1967)

    Amado por uns, odiado por outros, o argentino Ernesto Guevara de la Serna, ou simplesmente Che Guevara, foi um dos líderes e comandantes da Revolução Cubana de 1953 (com fim somente em 59, com a vitória de Che e Fidel Castro) e uma das personalidades mais emblemáticas do século XX.

    Seu retrato fotográfico feito por Alberto Korda é uma das imagens mais reproduzidas do mundo. Mas distante das questões políticas, sua paixão era o xadrez. Dizia o Comandante Che: “Nestes momentos de confrontações mundiais que se devem a sistemas ideológicos muito diferentes, o xadrez pode e é capaz de juntar as pessoas dos mais diversos países”. E complementava: “O xadrez é um passatempo, mas também, um educador do raciocínio e os países que têm grandes equipes enxadrísticas, estão à cabeça do mundo em outras esferas ainda mais importantes”.

    Mesmo após a Revolução Cubana, Che sempre conseguia um tempo para disputar algumas partidas em Cuba. Ou outras festividades envolvendo o xadrez. Por exemplo: Em 1962, em Havana, Che participou de uma simultânea contra o seu compatriota Miguel Najdorf. O resultado? Empate – proposta que partiu do Comandante Guevara. Claramente uma cortesia do sociável polaco-argentino.

    Mas diz a lenda que o grande Viktor Korchnoi não foi tão condescendente com Che. Ao enfrentar o polêmico líder em uma simultânea, os organizadores do evento (conhecendo o caráter lutador de Korchnoi) passaram uma instrução específica – você tem que oferecer empate!

    A simultânea começa e Korchnoi vence rapidamente Che Guevara. Terminado o evento, os pasmos organizadores lhe perguntam por que não havia oferecido empate. Sua reposta: “eu ia oferecer, mas percebi que ele não entende nada da Abertura Catalã”!

     

    Korchnoi- Che Guevara

    Simultânea em Havana, 1962

     

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    Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão 09-06-2017

     

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    3 Responder para “5 Personalidades Que Jogavam Xadrez – Parte II”

    • Ney caetano

      Me lembrei de João Guimarães Rosa. GM da literatura.

    • Newton

      Albert Einstein tbm jogava xadrez (e muito bem, por sinal). Eu vi no site chess news (chessbase.com) uma belíssima partida entre Einstein e o físico Robert Oppenheimer !!!

    • Carlos americano

      Dizem que Charles Chaplin, joga Xadrez,

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