Já diria Camões: “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, pois “todo o mundo é composto de mudança”. E foi assim que, pensando em mudanças, Magnus Carlsen, atual Campeão Mundial, acabou virando manchete em vários dos principais sites de xadrez do mundo.
Em sua página pessoal do Facebook, Carlsen expressou, mais uma vez, sua discórdia frente ao, segundo ele, injusto sistema de disputa do Campeonato Mundial, propondo outro formato – que lembraria os Campeonatos eliminatórios já utilizados anteriormente pela FIDE (formato este que causou grande polêmica e concedeu a coroa para Alexander Khalifman, Ruslan Ponomariov, Rustam Kasimdzhanov…).
Nas palavras do Campeão Mundial Magnus Carlsen:
“Antes de viajar aos EUA e preparar-me para a Copa Sinquefield, senti que era importante compartilhar o que tanto venho refletindo: o formato do Campeonato Mundial.
Primeiro quero esclarecer que tenho um grande respeito e reverência por todos os campeões mundiais que vieram antes de mim e por aqueles que têm contribuído para a profissionalização de xadrez. O match contra V. Anand em Chennai e, depois, em Sochi, foram experiências igualmente maravilhosas. Fiquei surpreso com a intensidade do formato do jogo, bem como o interesse massivo da mídia e do público. Sei que as pessoas estão trabalhando duro para organizar o clico do Campeonato do Mundo de 2014-2016, e eu estou muito ansioso para o jogo que acontecerá em novembro de 2016 contra o vencedor do Torneio de Candidatos, no início do mesmo ano.
Contudo, venho pensando faz muito tempo – e eu expressei isso publicamente – que deve haver um novo sistema para definir o Campeão do Mundo, e que seja por sua vez equilibrado e justo. Aqueles que tenham seguido o xadrez de elite durante vários anos recordarão que eu levantei a questão sobre os privilégios que possuem o Campeão Mundial antes da Classificação para o Match de 2013.
Em resumo, acredito firmemente que o mundo do xadrez deve evoluir para um sistema mais justo. E como fazê-lo? Durante muito tempo eu considerei que passar a um evento de knock-out anual, similar à Copa do Mundo, seria mais equitativo. Esta mudança, de fato, aumentaria as probabilidades de conseguir o Campeonato do Mundo para quase todos os enxadristas, com exceção do atual Campeão do Mundo, e potencialmente alguns outros jogadores que já são favorecidos pelo formato atual.
Isso resultaria na criação de eventos de qualificação regionais que seriam combinados com sites dedicados aos melhores ranqueados, a participação de todos os melhores jogadores do mundo e do título do Campeonato do Mundo em jogo. Realmente acredito que isso tornaria o ciclo do Campeonato do Mundo mais acessível para todos.
Em conclusão, recomendo encarecidamente a FIDE que analise a maneira de modernizar o formato do ciclo do Campeonato do Mundo.
O que acham? Estão de acordo que o ciclo de Campeonato Mundial de Xadrez se beneficiaria com um novo sistema?”
Assim falou Magnus Carlsen, o Campeão Mundial (e é louvável a sua coerência de pensamento, já que sempre se colocou contra o sistema utilizado para o Campeonato Mundial – inclusive se recusando a jogá-lo durante um bom tempo – e agora, mesmo estando do lado “beneficiado”, continua com o mesmo ponto de vista).
Logo em seguida vários comentários encheram a postagem – alguns criticando e outros apoiando o jovem campeão. Evidentemente: existem prós e contras sobre manter o sistema atual ou adotar uma proposta como a de Carlsen.
Sem sombra de dúvidas, hoje, o campeão mundial possui alguns privilégios sobre seus rivais (que devem passar por um longo ciclo de classificação, enquanto ele só esperara o novo adversário). Além disso, o “sistema Carlsen” tem a vantagem de ser fácil de entender e, acontecendo em ciclos mais curtos do que hoje em dia, talvez, poderia chamar mais a atenção da mídia – ou, por outro lado, banalizar a disputa (como foi o caso, muito provavelmente, da época em que a FIDE utilizou algo semelhante).
É preciso considerar também que o sistema atual goza de boa reputação entre a maioria dos enxadristas que disputam – ou mesmo os aficionados que assistem – o ciclo para o Mundial. Além disso, existe toda uma tradição acerca da disputa. O mais do que prestigiado Torneio dos Candidatos é um dos eventos mais esperados do mundo enxadrístico (sendo alguns tão memoráveis quanto a própria disputa do título mundial – vide, por exemplo, o torneio de Candidatos de Londres em 2013).
O GM Rafael Leitão deu sua opinião sobre o assunto:
“Acho o atual sistema de disputa muito melhor do que o proposto por Magnus. O sistema com um Torneio de Candidatos, seguido de um match entre o Campeão Mundial e o desafiante, evoca as memórias dos áureos tempos do xadrez no século XX. Trocar o sistema atual por um com campeões mundiais que mudam ano a ano, definidos por um torneio eliminatório, formato que já foi testado e gerou vencedores como Khalifman, Ponomariov e Kasimdzhanov (todos grandes jogadores, mas nenhum – nem de perto – com nível para ser campeão mundial) é o mesmo que trocar um jantar em um belo restaurante por uma comida rápida em um fast food”.
E você? O que acha? Qual sistema seria o melhor para a disputa do Campeonato Mundial?
Fontes: ChessBase, Chess24.
Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão em 13.08.2015.
Quando vc listou Khalifman (?), Ponomariov (??) e Kasimdzhanov (???) como campeões mundiais, já respondeu tudo. Sem mais comentários.
Melhor é como está agora. Mais emocionante, com grande expetativa na definição final de quem será o desafiante, e com um espaçamento razoável entre os duelos finais de cerca de dois anos.
É verdade que no formato de hoje o atual campeão mundial tem o grande privilégio de apenas esperar tranquilamente pelo seu opositor, definido no Torneio de Candidatos. Mas é uma fórmula tradicional, histórica, e eu creio que, apesar de não ser a mais justa, é a melhor de forma que o xadrez continue a despertar a atenção do público. Qualquer mudança seria ruim para o xadrez. Imaginem no tênis, se a contagem dentro de um game mudasse de 0 - 15 - 30 - 40 - game para 0 - 1 - 2 - 3 - 4. Perderia a graça. Embora disputa fosse a mesma, perde-se o glamour. Perde-se a graça!
Não acho que Ponomariov, Khalifman e Kasimdzhanov sejam maus jogadores. Seria melhor se o sistema de disputa fosse igual a copa do mundo de futebol com torneios continentais classificatório s para esta disputa. Seria mais legal.
Com certeza são excelentes jogadores, mas para ser Campeão Mundial é preciso ser gênio :)
Acho melhor o sistema do Carlsen. No futebol da Libertadores é assim e é muito emocionante. Certo, não se compara com a qualidade da Champions, por exemplo... Mas ver um Once Caldas campeão só motiva os grandes clubes para melhorarem no ano seguinte
Acho muito bom o sistema atual,o cara que se torna campeão mundial em cima do vencedor do torneio Fide , é justo esse privilégio.É gratificante de ambas as partes o vencedor dessa final .
Gosto do atual sistema, é clássico e histórico como o xadrez, também não considero injusto que o campeão apenas defenda o seu título, é uma forma de valorizar o que foi conquistado.
Considero o modelo atual ainda o melhor. Eu faria apenas duas mudanças: conceder ao vencedor do torneio de candidatos um prazo maior, se ele achar necessário, para recuperar-se do cansaço da campanha para chegar até ali; e aumentar o tempo de jogo: seis horas para 40 lances e mais seis horas para o resto. Vale lembrar que os campeonatos de Go, para títulos de alto nível, não tem tempo estipulado, cada partida durando às vezes o mais de 24 horas (o Go é um jogo chatíssimo, mas tido em altíssima conta no Japão).
Cara, chatíssimo é a sua opinião, eu gosto tanto do Go quanto gosto do xadrez, é um jogo muito estratégico.
Eu acho melhor o sistema atual é como no UFC , quem quiser tirar meu cinturão tem que subir a escadinha passando pelos oponentes até chegar em mim. Justo