Karjakin 4 X 0 China: O Exército De Um Homem Só

     

    “Longe da multidão

    Somos um exército, o exército de um homem só

    No difícil exercício de viver em paz

    Somos um exército, o exército de um homem só”

    (Engenheiros do Hawaii)

    Entre os dias 15 e 20 do mês passado, em Yinzhou, distrito de Ningbo, China, realizou-se um espetacular encontro entre duas superpotências enxadrísticas: a tradicional Rússia e a ascendente China. A vitória da China foi acachapante: no rápido; no pensado; no masculino; no feminino; até “no cara ou coroa” (para saber mais sobre esse emocionante duelo, leia nossa reportagem sobre ele aqui).

    Recentemente, de 29 de julho a 1 de agosto, em “Bolshoi Ussuriysky Island”, China, um novo e inusitado encontro aconteceu entre Rússia e China. Ou melhor: entre Sergey Karjakin e China!

     

    O “inusitado” se deve ao sistema escolhido para a disputa: é escolhido um representante de cada equipe para iniciar o match. Os dois jogadores se enfrentam numa única partida nocaute. Caso essa acabe em empate, o desempate é feito por meio de duas partidas blitz (5 minutos com 3 segundos de acréscimo). Se mesmo assim o empate persistir, vai-se para o Armageddon (brancas com 5 minutos e negras 4 – o empate é das negras: as brancas são obrigadas a vencer). Finalmente, depois da “maratona”, o jogador vencedor fica para o dia seguinte. O Match continua assim até que todos os membros de uma mesma equipe tenham perdido.

    Este exótico sistema de disputa, um tal de “super go team tournament system”, é já bem comum nos torneios de Go na China e, na verdade, nem mesmo é inédito no xadrez, pois já fui utilizado em alguns torneios de exibição.

    A equipe chinesa contou com o mesmo time, exceção apenas de Wang Yue, vencedor das últimas Olimpíadas:

    1. Wei Yi
    2. Ding Liren
    3. Ni Hua
    4. Yu Yangyi

     

    Enquanto a Rússia “levou” a seguinte equipe:

    1. Sergey Karjakin
    2. Evgeny Tomashevsky
    3. Alexander Morozevich
    4. Ian Nepomniachtchi

     

    É bem claro agora, pelo título de nossa matéria, e as devidas explicações sobre o sistema utilizado para a disputa, o que aconteceu: Sergey Karjakin espetacularmente venceu TODA a equipe chinesa, um após o outro, e nem deu chance para que seus compatriotas jogassem – ou mesmo, algum deles, aparecessem nas fotos. Vários sites internacionais de renome até levantaram a teoria que, por exemplo, Alexander Morozevich nem teria viajado para lá. Muita confiança no companheiro de equipe ou “ponte aérea” eficaz? Fica a dúvida.

    [Enquanto o companheiro joga, os outros só podem assistir. O time da China estava aí, na torcida… Mas cadê os Russos?]

     

    Na primeira rodada, Karjakin empatou com a jovem promessa chinesa Wei Yi na partida regular, mas depois ganhou o duelo de partidas blitz por 2-0 – fazendo valer, portanto, a experiência em detrimento da força e do estilo tenaz de Wei Yi. Resumo: Karjakin 2,5: 0,5 Wei Yi.

    Na segunda rodada Karjakin enfrentou o número um da China, Ding Liren. Karjakin mais uma vez empatou a partida clássica, mas nas partidas relâmpagos encontrou maior resistência – ganhando de negras a primeira, mas perdendo de brancas a segunda. Contudo, no Armageddon, Karjakin, de negras, conseguiu segurar Ding Liren e continuar na disputa. Resumo: Karjakin 3: 2 Ding Liren.

    [Ding Liren vs Karjakin: Foi por pouco, mas o número um da China não conseguiu segurar Karjakin]

     

    Na terceira rodada, Karjakin enfrentou Ni Hua e, sem muita dramaticidade para blitz ou armageddon, venceu o chinês já primeira partida – e de forma muito instrutiva. Em uma típica estrutura da Petroff, Ni Hua, de pretas, cometeu um sério erro. Veja a partida e suas análises aqui.

    Yu Yangyi, na quarta rodada, não teve sorte melhor que os companheiros de equipe. Karjakin 2,5: 0,5 Yu Yangyi.

    Sem sombra de dúvidas um dos resultados mais fantásticos da carreira de Sergey Karjakin e um duríssimo golpe na campeã olímpica China – em cada jogador e na união do time e até na Muralha da China. Verdadeiro “strike”.

    Por fim, a parte dois do match acontecerá somente em dezembro, mas desta vez na Rússia. Melhor sorte para os chineses e, quem sabe, desta vez, Morozevich apareça em alguma foto.

     

    Fontes: Chessbase, Chess24.

     

    Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão em 07.08.2015.

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