COMEÇOU!
Finalmente começou a disputa máxima do xadrez mundial entre o atual Campeão Mundial, e número 1 da FIDE, o norueguês Magnus Carlsen (2857), e o russo Sergey Karjakin (2772) – hoje, número 9 do mundo.
Carlsen conquistou a coroa mundial em 2013 – depois de muito tempo adiando entrar na disputa pelo título, pois dizia não concordar com a maneira como esta era feita – em cima do indiano Viswanathan Anand. Um ano depois, Magnus fez a sua primeira defesa do título justamente contra Anand – e a superioridade do norueguês, mais uma vez, prevaleceu.
A disputa, que está acontecendo desta vez na cidade de Nova York, será de doze partidas – com intervalo a cada duas – e será decretado campeão aquele que primeiro somar 6,5 pontos. Caso persista o empate após as doze partidas, o match será decidido em um duelo de partidas rápidas. Um dia antes foi feito o sorteio das cores e coube ao defensor do título o primeiro lance do match.
Tudo pronto para o início. Todo o mundo enxadrístico ligado e eufórico para ver o primeiro lance ser realizado no tabuleiro. Ou quase todo mundo… Embora os lances da partida possam ser acompanhados em diversos sites, o site oficial do evento, este sim o único que possui imagem de câmera dos jogadores (inclusive uma moderna e exclusiva de 360º – que é péssima), está cobrando “Quinze Trumps” (ou seja, quinze dólares) para os internautas terem acesso as imagens ao vivo da disputa. Talvez o preço tenha sido para pagar o cachê de Woody Harrelson – indicado ao Oscar de melhor ator por sua atuação em O povo contra Larry Flynt (1996) –, responsável por executar o movimento 1.d4 a pedido do Campeão Mundial (veja aqui).
E após a resposta 1… Cf6 tivemos a primeira surpresa (por mais que Karjakin tenha negado isso na coletiva de imprensa após a partida): 2. Bg5 (!). Sim, pela primeira vez no match do título mundial, e para o delírio do nosso GM Alexandr Fier, a abertura do brasileiro Octávio Figueira Trompowsky de Almeida foi utilizada (você não sabia que a abertura Tompowsky era de um brasileiro? Pois é. O nome engana. Mas tudo bem: Clique aqui e conheça um pouco mais da história desta abertura que nasceu aqui em terras tupiniquins!).
Passada a primeira surpresa, outra, mais modesta, surgiu no lance 6. Bb5 – Karjakin não quis responder na coletiva de imprensa se este lance havia sido realmente uma surpresa para ele… Embora, com certeza, tenha sido uma surpresa a resposta de Carlsen para um jornalista: “Você quer dizer que a abertura não teve nada a ver com Donald Trump?”. Ao que Carlsen respondeu: “Bem, um pouco sim” – como o jornalista chegou a esta pergunta, também é um mistério… Mas ao que tudo indica, tudo começou com o pai do campeão mundial, Henrik Albert Carlsen, que soltou a pérola “Abertura TRUMPovsky” nos bastidores. Se Magnus perder o match e a família passar por dificuldades, com absoluta certeza o patriarca da família já tem um emprego certo.
Um dos momentos mais críticos da partida aconteceu após o lance de Carlsen 13. Dc3 e que parecia incluir um sacrifício de peão a troca de alguma atividade de suas peças e jogo contra algumas fraquezas estruturais das pretas. Clique aqui para ver o vídeo em que o nosso GM Rafael Leitão resume este primeiro momento crítico da batalha pelo Título Mundial (A Academia trabalhando a todo vapor!).
Mas… Karjakin parece ter demostrado que não está disposto a entrar em grandes aventuras sem um bom motivo. E, fiel a seu estilo, não teve medo de entrar em um final ligeiramente inferior, mas consideravelmente sólido.
Tô de boa…
Depois disso Carlsen até que tentou manter alguma pressão, mas Karjakin não parece ter passado nenhum sufoco para defender a posição – curiosamente o exímio finalista Ulf Andersson conseguiu vencer, obviamente de brancas, uma posição muito similar a da partida (com uma leve, mas talvez significante, alteração na estrutura de peões na ala da dama). Empate em 42 lances (clique aqui para reproduzir a partida e algumas análises deste primeiro encontro entre Carlsen x Karjakin).
O Andersson ganhou é? Hum…
E na já citada coletiva de imprensa, e como talvez já tenha dado para perceber, o empate parece ter beneficiado o humor, e o clima amistoso, entre os jogadores. Karjakin, na verdade, a exemplo da partida, na coletiva também ficou na defensiva e foi um pouco mais esquivo nas respostas – por exemplo, como dito acima, sobre as surpresas da abertura. Carlsen parecia estar um pouco mais solto, chegando mesmo a confidenciar que quando ele e Karjakin jogaram em 2005, pela primeira vez, Magnus achava que seu adversário jogava bem melhor que ele. Contudo, desta vez, “vamos ver se ainda continua assim”, disse o Campeão Mundial.
É muito comum um match com tamanha importância começar um pouco morno. Contudo, há que se ressaltar que a escolha um pouco exótica de Carlsen na abertura, talvez, sirva para deixar claro que o Campeão Mundial está a fim de levar o jogo para uma “luta aberta”, sem muita teoria, onde sua força bruta possa prevalecer. Mas Karjakin parece ter feito a lição de casa e está pronto para se defender – embora não tenha passado, desta vez, nem perto de precisar usar toda a tenacidade que lhe é costumeira – e, quem sabe, tomar alguma iniciativa quando essa possibilidade surgir…
COMEÇOU!
Para quem vai a sua torcida?
FONTES:
Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão 12-11-2016
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