Lá pela década de 70 do século passado, um encontro inusitado, embora lógico, imortalizou o xadrez da época: URSS vs Resto do Mundo. De um lado, Spassky; Petrosian; Tal; Botvinnik; Smyslov; dentre outros campeões soviéticos; Fischer; Larsen; Portisch; Gligoric; Najdorf; e mais alguns outros “ocidentais”, defendendo o “resto do mundo” – e, com isso, “o mundo livre”. Sintomas da “Guerra Fria” que foram levados ao máximo no match Fischer e Spassky (mas que, de toda forma, o xadrez agradeceu).
Hoje em dia, reunir grandes estrelas num encontro como esse parece impensável. Mas, de alguma forma, ainda se tenta algo parecido – embora ainda muito distante daqueles gloriosos anos 70…
Entre os dias 15 e 20 deste mês, em Yinzhou, distrito de Ningbo, China, se realizou um espetacular encontro entre duas superpotências enxadrísticas: a tradicional Rússia e a ascendente China (para saber mais sobre o fenômeno enxadrístico chinês, veja uma nossa matéria, clicando aqui). As partidas, tanto no Absoluto quanto no feminino, foram disputadas a cinco tabuleiros – pelo sistema Scheveningen – e em cinco rodadas.
As equipes foram formadas da seguinte maneira:
RÚSSIA
Absoluto: Peter Svidler, Nikita Vitiugov, Maxim Matlakov, Vladimir Fedoseev e Daniil Dubov.
Feminino: Valentina Gunina, Olga Girya, Aleksandra Goryachkina, Natalia Pogonina e Alina Kashlinskaya.
CHINA
Absoluto: Yu Yangyi, Wei Yi, Bu Xiangzhi (foto em destaque), Lu Shanglei y Wang Chen.
Feminino: Tan Zhongyi, Shen Yang, Huang Qian, Lei Tingjie, Ding Yixin.
[NOTA: Alexandre Sigrist, enxadrista do interior de São Paulo, diz que o segredo do sucesso chinês por equipes está na escalação – que é feita em menos de 10 segundos: Yu, Wei, Bu, Lu, Wang. Você concorda?]
Provavelmente para descontrair, o primeiro embate entre os gigantes foi no blitz. Os chineses venceram na categoria absoluta, 26-24, e na categoria feminina, 28-22. Com 6.0 pontos, Lu Shanglei e Yu Yangyi foram os maiores pontuadores – seguidos por Vladimir Fedoseev e Daniil Dubov com 5.5 pontos.
No absoluto, nas partidas tradicionais (pensadas), depois de três rodadas, os chineses lideravam por 9-6. Na segunda metade da disputa a equipe russa até conseguiu melhorar o desempenho, empatando os matchs da 4ª e 5ª rodada. Mas, naturalmente, isso não foi o suficiente para recuperar os pontos perdidos e, portanto, a China venceu a encontro por 14-11. Os melhores jogadores individuais foram Bu Xianghzi e Maxim Matlakov – ambos com 4,0 pontos em 5,0 possíveis.
[Maxim Matlakov]
Mas um dos grandes destaques foi o jovem GM chinês de 16 anos Yi Wei. Difícil imaginar um torneio com maior aprendizado do que este para Yi Wei: de vitórias importantíssimas, como contra Fedoseev; a derrotas lentas e sofridas, como contra Svidler – veja estas partidas, analisadas, aqui e aqui.
No feminino, as russas, até a primeira metade do encontro, pareciam fazer melhor do que os homens, e lideravam por 8-7. Mas, em seguida, as russas acabaram perdendo os matchs das rodadas 4ª e 5ª pelo surpreendentemente placar de 4-1(!). Sendo assim, mais uma vitória chinesa no encontro: 15-10. A Artilheira da equipe chinesa foi Shen Yang com 4.0 (de 5,0); enquanto na equipe russa, Alina Kashlinskaya com apenas 50% dos pontos (2,5). Ao final, portanto, uma vitória acachapante da equipe chinesa.
[Shen Yang]
[Alina Kashlinskaya]
É evidente que a Rússia, ao menos no Absoluto, não contou com sua força máxima – Kramnik, Grischuk, Morozevich, etc. Mas as vitórias dos chineses no blitz, no absoluto e no feminino (em suma: até no “cara e coroa”) só reforça a tese: Sim, o gigante acordou.
Fontes: Chessbase
Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão 21.07.2015.
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