Continental 2017: Um Relato Pessoal – Parte I

    Continental Das Américas 2017

     

    A classificação heroica de Fier; quando bons torneios viram pesadelos e outras histórias

    Artigo escrito pelo MI Renato Quintiliano

     

    Para a maioria dos enxadristas latino-americanos, o Continental é a competição mais importante do ano, com um grande número de GM’s, MI’s e fortes jogadores, propiciando chances de norma para aqueles que se destacam, e quem sabe até mesmo uma vaga para a Copa do Mundo de xadrez.

     

    Esse ano, o torneio foi realizado na bela cidade de Medellín, na Colômbia, e dava 6 vagas para a copa do mundo, que será realizada em setembro em Tbilisi, na Geórgia. Desde 2014 participei de todos os Continentais, e sempre vi esse torneio como uma boa oportunidade para testar meu jogo em partidas duras contra jogadores talentosos de todo continente, uma oportunidade rara que os enxadristas brasileiros, em sua maioria, não têm, e que é muito útil para notar os pontos fortes e fracos do próprio jogo, testar as aberturas, ser submetido a longas partidas e muitos outros benefícios que podemos tirar de torneios fortes para a evolução de nosso jogo.

     

    Por isso, foquei um pouco mais na preparação física e estudo de novas aberturas para usar nesse torneio, esperando viajar em boa forma e com ideias diferentes para surpreender nas partidas. Foram 11 dias de viagem e muitas experiências, e para falar sobre elas, dividi esse artigo em algumas partes: A cidade de Medellín, A organização, O torneio dos brasileiros e O torneio d’O Brasileiro: GM Fier na Copa do Mundo!

     

     



     

    A cidade de Medellín

     

    Há cerca de um ano, soube, extraoficialmente, que o Continental de 2017 seria realizado em Medellín. Não conhecia a Colômbia, por isso fiquei animado com a possibilidade de viajar para um novo país. Entretanto, quando foi confirmada essa informação, já haviam outros fatores que tornavam a viagem especial.

     

    Todos ainda temos na memória a terrível tragédia com a Chapecoense no fim de 2016, mas igualmente gravadas estão a solidariedade e empatia demonstradas pelo povo colombiano, o respeito por nossa dor e as condolências e homenagens que prestaram a nossos atletas. Isso posto, estava ansioso por conhecer a cidade e esse povo ao qual o Brasil deve apenas gratidão.

     

    Essas impressões não poderiam se confirmar mais verdadeiras. As pessoas realmente eram muito simpáticas e receptivas, e em todos os lugares que estive fui muito bem tratado. Medellín tem um clima agradável, nunca muito calor ou muito frio, o que lhe conferiu o apelido de “cidade da eterna Primavera”. É cercada por bonitas montanhas, e é uma cidade bastante limpa e bem cuidada.

     

     

     

    Um dia, após o café da manhã, fui ao estádio do Atlético Nacional, que ficava muito próximo do hotel oficial do torneio, e por sorte haviam visitas guiadas gratuitas lá. O Nacional era a equipe que enfrentaria a Chapecoense na final da Copa Sulamericana de 2016, e há duas placas de homenagem em seu estádio, onde Medellín reconhece Chapecó como cidade-irmã, mais uma prova da solidariedade dos colombianos.

     

     

     

    Esse foi o cenário de batalhas entre enxadristas de todo continente por alguns dias, um lugar agradável e que acolheu muito bem a todos.

     

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    A Organização

     

    Os organizadores estavam empenhados em proporcionar um grande evento em Medellín, algo digno de ser lembrado, e podemos dizer que, salvo alguns pontos, alcançaram seus objetivos.

     

    O primeiro sucesso foi inesperado, já que o diretor do torneio me confessou que eles esperavam pouco mais de 100 inscritos, sendo que houve mais de 250 participantes, o que lhes deu uma tarefa extra de última hora para acomodar a todos, tarefa que com alguns ajustes foi solucionada.

     

    Na cerimônia de abertura estavam presentes importantes representantes do xadrez local, colombiano e do governo, e o torneio contou com apoio de vários patrocinadores, públicos e privados. Foram cantados os hinos da Colômbia e de Antioquia (a província onde se encontra Medellín) e mais uma vez a identidade forte do povo colombiano veio à tona, com todos cantando com vontade e orgulhosos.

     

    Houve um desfile de bandeiras onde jovens talentos do xadrez colombiano apresentaram os países presentes no XII Continental das Américas, e em seguida uma apresentação de dança com ritmos típicos do país (apresentações de dança são comuns em eventos de grande porte da FIDE). Em seguida, um pequeno coquetel com comes e bebes, e tinha sido dada a largada a um belo XII Continental das Américas!

     

    Também foi montada uma excelente equipe de imprensa, com forte divulgação nas redes sociais (Facebook e Twitter), fazendo enquetes e interações com o público, transmissões em tempo real em vídeo do salão de jogos, além de muitas fotos. O site chess24.com contava com transmissão ao vivo dos 20 primeiros tabuleiros e comentários dos MI David Martinez e WMF Damaris Abarca. Também foram feitas várias entrevistas com os jogadores, e o autor dessas linhas concedeu uma de alguns minutos após a terceira rodada (quando a vida ainda era bela e, com 3/3, se encontrava entre os líderes).

     

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    Durante o Continental também houve o lançamento do livro do GM cubano Lázaro Bruzón, onde analisa e comenta suas 40 melhores partidas em uma longa carreira no xadrez. Ali, o GM cubano falou um pouco sobre o xadrez e a rotina de treinamento em Cuba, um país que apoia desde muito novos seus talentos, e que periodicamente produz novos GM’s. Mais um exemplo de que a massificação em grande escala do esporte através do xadrez escolar é o melhor caminho, e que nós, enxadristas brasileiros, apesar do apoio pífio (para não dizer nulo), ainda sonhamos ver um dia em nosso país, que hoje vê o esforço muito mais de nossos enxadristas e pessoas ligadas ao esporte do que de dirigentes e governantes, sendo responsável pelos poucos frutos colhidos.

     

     

    Infelizmente, apesar do louvável esforço da organização, alguns pontos negativos têm de ser destacados. Primeiramente, era comum haver problemas com a iluminação do salão de jogos durante as rodadas, nos quais as luzes piscavam e até mesmo apagavam por algum tempo. Esse problema foi corrigido ao longo do torneio mas nunca chegou a ser 100% solucionado.

     

    Também havia problemas recorrentes com ruídos e barulhos de conversa em tom muito alto… da arbitragem! Esse ponto negativo se destacou muito mais, porque era paradoxal um evento de organização com tão alto nível de comprometimento, contar com árbitros tão despreparados: as conversas entre eles eram altas e frequentes, mesmo após muitos jogadores (inclusive GM’s) expressarem grande descontentamento, e num determinado momento fizemos até uma piada de que já era possível apostar em qual momento da rodada tocaria um celular no salão de jogos (nesse dia, por exemplo, isso aconteceu 10 minutos após essa conversa).

     

    Esses são os únicos pontos negativos, (mas que honestamente, estamos até acostumados a ver em torneios no Brasil) de uma organização de outra forma perfeita. Não há como discordar, os colombianos merecem os parabéns pelo grande evento que foi o XII Continental das Américas!

     

     

    A segunda parte do artigo será publicada em breve, com o relato da participação brasileira no evento.

     

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    Uma resposta para “Continental 2017: Um Relato Pessoal – Parte I”

    • Frederico Simões Soares

      Bom artigo elaborado pelo MI Renato Quintiliano que está de parabéns por seu espírito desportivo e gratidão diante da solidariedade do povo colombiano. É muito bom ver o xadrez do nosso país sendo representado por profissionais que dão seu sangue para conseguir uma melhoria e popularidade, e essa parceria do Quintiliano com o GM Rafael Leitão é muito louvável de compartilhar os acontecimentos enxadrísticos. Mais uma vez meus parabéns!!! Abraço

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