Os Grandes Jogadores de Xadrez: Mequinho

    Poucas pessoas sabem, mas o Brasil é a terra natal de um dos grandes jogadores de xadrez da história mundial. Henrique Mecking, popularmente conhecido como Mequinho, teve uma grande carreira no esporte, chegando a ocupar a 3ª colocação no ranking mundial. Sua brilhante ascensão e inúmeras vitórias o renderam diversos títulos, participações em grandes programas da televisão brasileira e até mesmo desfiles em carro aberto.

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    Tendo sua carreira interrompida no auge por uma grave doença, Mequinho é hoje uma lenda viva, com uma história de muita fé, vitórias e lutas que marcaram sua vida. Conheça um pouco mais da história desse grande enxadrista brasileiro!

     

    Infância e juventude de um gênio

    Nascido no dia 23 de janeiro de 1952 em Santa Cruz do Sul — RS, Mequinho teve uma infância diferente da dos garotos de sua época. Carrinhos, bola de futebol, bonecos, nada disto fazia parte de suas brincadeiras: aos 5 anos de idade, sua mãe, Maria José, lhe deu seu primeiro tabuleiro de xadrez e o orientou como movimentar cavalos, bispos, torres e todas as peças do jogo. Antes mesmo de aprender a ler, Mequinho já surpreendia a todos com sua incrível habilidade e inteligência diante do tabuleiro.

    Já aos seis anos de idade, era fiel companheiro de seu pai, Paulo Hugo, no clube de xadrez da cidade, de onde rapidamente se tornou membro. Aos 9 anos, Mequinho deu a primeira demonstração do brilhantismo e genialidade que o mundo do xadrez conheceria alguns anos mais tarde, ficando em segundo lugar em um campeonato regional disputado contra jogadores muito mais velhos. Aos 12 anos sua carreira começou a deslanchar com a conquista do campeonato gaúcho de xadrez e já no ano seguinte, aos 13, Mequinho se consagrou campeão brasileiro.

    Aos 15 anos de idade ele se tornou o mais jovem jogador a vencer um campeonato continental, recorde batido ao vencer o campeonato Sul-Americano de 1967. Essa conquista concedeu a Mequinho outro feito, o de se tornar um dos mais jovens Mestres Internacionais da história do esporte. O espetacular desempenho do garoto prodígio durante sua infância e juventude pode ser comparado apenas com outros gigantes do esporte, como o americano Bobby Fischer, ex-campeão mundial e tido por muitos como o melhor de todos os tempos, e o russo Garry Kasparov, também ex-campeão mundial. Aos 18 anos Mequinho inclusive chegou a enfrentar Fischer, que já naquela época era considerado o mais forte enxadrista da história, mas o confronto terminou empatado. Veja as análises do GM Rafael Leitão sobre esta partida clicando aqui. Alguns meses mais tarde eles se enfrentaram novamente e Fischer venceu uma famosa partida, começando com 1.b3.

    Na escola, Mequinho também demonstrava ser um garoto acima da média e suas notas eram sempre excelentes, principalmente em matemática. Inicialmente sua mãe resistiu quanto à prática profissional do esporte, pois Mequinho acabava por faltar várias aulas. Porém, diante de notas incontestáveis mesmo com tantas faltas, logo sua mãe se conformou e passou a apoiar a escolha do filho.

     

    Anos 70: da gloria à luta pela vida

    Mequinho

    A década de 70 foi de longe a década mais marcante da vida de Mequinho. Aos 18 anos veio o título do Torneio Internacional de Bogotá, disputado na Colômbia, em 1970. No ano seguinte veio a conquista do torneio Internacional de Vrsac, esse disputado na antiga Iugoslávia. Em 1972, Mequinho já estampava diversos jornais brasileiros, que o exibiam com orgulho por seus feitos representando o país mundo a fora. Sua conquista? Precisamente no dia 13 de janeiro de 1972, aos 19 anos de idade, Henrique Mecking se tornava não apenas um dos mais jovens enxadristas a alcançar o título de grande mestre internacional, mas também o primeiro brasileiro a conquistar tal honra.

    Essa conquista veio após empatar uma partida com o romeno Victor Cocaltea na 14ª rodada do torneio de Hastings, disputado na Inglaterra. Quando retornou ao Brasil após o torneio, a bateria da escola de samba da Mangueira aguardava por Mequinho no aeroporto, mas o sucesso e a fama não subiram à sua cabeça e ele ainda se consagrou campeão Sul-Americano novamente naquele ano.

    Em 1973 era a vez de classificar-se para o Torneio dos Candidatos, última eliminatória do Campeonato Mundial, com a conquista do Torneio Interzonal de Petrópolis — RJ, mas Mequinho acabou derrotado pelo russo Viktor Korchnoi e foi eliminado em seu primeiro match. Mesmo assim, Mequinho jogou nesse match uma das melhores partidas de sua carreira. O ano de 75 marcou 2 vices campeonatos em sua carreira. Primeiro foi o Torneio Internacional de Las Palmas, disputado na Espanha e, em seguida, o Torneio Internacional de Manila, disputado nas Filipinas. No ano seguinte Mequinho venceu o Torneio Interzonal de Manila e se classificou outra vez para o Torneio dos Candidatos, onde acabou novamente sendo eliminado em seu primeiro match, dessa vez pelo também russo Lev Polugaevsky.

    Em 78 Mequinho atingiu o auge de sua carreira ao alcançar o posto de terceiro melhor jogador do mundo no ranking da Federação Internacional de Xadrez — FIDE, com 2635 pontos, atrás apenas de seu algoz no Torneio dos Candidatos de 74, Viktor Korchnoi, e do campeão mundial da época e um dos maiores jogadores de todos os tempos, o russo Anatoly Karpov. Infelizmente, o mesmo ano que marcou o auge de sua carreira também foi o ano em que Mequinho teve de começar a enfrentar o mais difícil adversário de sua vida: a miastenia grave.

     

    Xeque: miastenia grave

    A miastenia grave é uma doença autoimune que ataca e debilita o sistema nervoso e os músculos — isso significa que o sistema imune do corpo de Mequinho passou a produzir anticorpos que atacavam os receptores localizados no lado muscular de sua junção neuromuscular. No auge da doença, sua debilitação era tamanha que ele não tinha força sequer para mastigar e alimentar-se, e foi exatamente nessa época que alguns médicos chegaram a dizer que ele poderia morrer a qualquer momento.

    Acostumado a vencer grandes desafios, Mequinho se apoiou em sua fé: ingressou na Renovação Carismática Católica e hoje, segundo o próprio, está curado de sua doença. Foram mais de 30 anos entre tratamentos no Brasil e nos Estados Unidos, remédios diários e alimentação extremamente regrada, além de visitas a cidades milagrosas e participações em grupos de oração. Sua forte e crescente ligação com a Igreja Católica o levou a graduar-se em Filosofia e Teologia, área à qual hoje dedica a maior parte de seu tempo, além da realização de um outro sonho: voltar a ser um dos grandes jogadores de xadrez do mundo.

     

    O grande trunfo do xadrez

     

    Mequinho
    Mequinho sendo observado pelo menino Rafael Leitão durante entrevista à Rede Globo. O pequeno enxadrista estava sendo recepcionado pelos 3 Grandes Mestres brasileiros após vencer o campeonato mundial sub-12, em 1991.

     

    A fama de Mequinho chegou a ser tamanha que ele foi citado pelo músico Raul Seixas em sua música “Super Herois”: “Quem é que o Brasil não reconhece no grande trunfo do xadrez”, “Adivinha quem era? Mequinho”.

    Vencedor nos tabuleiros e vencedor na vida, Henrique Mecking é um dos grandes jogadores de xadrez da história e um motivo de orgulho para todos os que se dedicam à prática do esporte. E você, já conhecia a história desse gênio brasileiro? Deixe seus comentários!

     

     

    26 Responder para “Os Grandes Jogadores de Xadrez: Mequinho”

    • João Zirpoli

      Muitos dizem Rafael que a doença não passara de medo de enfrentar os adversários mais fortes. O fato é que os governos militares não deram nenhum apoio ao nosso gênio do chess, e aí ele caiu sozinho feito um painho no Torneio de Candidatos. Abs

      • Rodrigo

        Brasileiros têm o péssimo costume de desqualificar o que brasileiro. Para esses cretinos é muito fácil dizer que que Mequinho se borrou de medo e outras sandices. Isto revela toda a ignorância desses idiotas. Se sentem mortalmente atingidos porque Mequinho fez e faz sucesso às custas de seu talento e dedicação. Quanto aos outros, malandros e vagabundos que não se esforçam pra nada, as batatas.

      • Ricardo

        Medo ? O cara enfrentou o Fischer.

      • Jackson

        Acho mais fácil ele ter sido envenenado aos poucos por alguma droga para adquirir a doença, pessoas de terceiro mundo nunca tem apoio de ninguém. Mequinho enfrentou Tal, Fischer entre outros grandes enxadristas de grande renome de sua época, medo é que não foi. Mania que as pessoas tem de desqualificar nós brasileiros, pra mim Mequinho foi um herói, o resto é conversa fiada e teorias de conspiração.

    • Igor Sérgio

      Absolutamente fantástico! Parabéns pela matéria.

    • Charles

      Maravilhosa história e testemunho!

    • Gustavo Brandão Messenberg

      Há pouco que acrescentar ao que aqui foi escrito sobre Henrique da Costa Mecking. Como sempre as matérias redigidas neste espaço têm qualidade. Grato!!! A título de informação e a quem interessar possa, gostaria de informar que por volta de 2010 foi editado o livro "Méquinho - O Xadrez de um Grande Mestre" tendo como autores Henrique Mecking e Adriano Caldeira. Bom livro com partidas comentadas e outras informações. Bem anteriormente foi editado o livro "Méquinho o Perfil de um Gênio", tendo como autor Rubens A. Filguth. Este livro tem partidas comentadas e diversos depoimentos sobre a vida e carreira de Mecking.

    • Geraldo J F

      Lendo aqui e já em outro local antes sobre esse homem, esse guerreiro e importante jogador brasileiro e mundial, só agradecer por poder estar lendo algo tão estimulante!
      Parabéns ao nosso Campeão Mequinho!
      Parabéns ARL!

    • Lvt

      Não conhecia a historia motivadora desse campeão, vou usa-lo como exemplo nos meus cursos de venda.

    • Bruno

      O Mequinho foi o melhor enxadrista brasileiro e um dos melhores da América do Sul. É uma pena que logo em seu auge ele tenha ficado doente, espero que ele volte a representar o Brasil tão bem como antigamente.

    • Feancisco Evandro

      Só o fato de ter vencido Michel Tall e ter feito Bob Fischer lutar pelo empate no torneio dos candidatos, e ter vencido dois grande torneio internacionais, já o torna o maior jogador brasileiro de todos os tempos e devemos nos orgulhar desse fatp

    • Luiz Sérgio

      Ele é simplesmente um gênio!!!!

    • Marco

      Tenho como idolo e referencia no xadrez. Acho que lembrava Smyslov jogando.

    • Luís Boscato

      Lembro que no início dos anos 70, tive o primeiro contato com o xadrez. Minha mãe tinha uma livraria, onde vendia também jogos, e entre eles estava o "Xadrez do Mequinho". Foi amor a primeira vista! Não posso dizer que sou um grande jogador de xadrez, mas aprendi muito através dele, e procuro passar o pouco que sei. Afinal, muitos bons jogadores (melhores que eu - mas como costumo dizer, o Mestre só fica feliz quando seus pupilos se mostram melhor que ele) já saíram aqui de Carazinho.

    • Carlos

      Uma história impressionante, de um jogador impressionante! Imaginem: empatar com Fischer!
      Me lembro do match com Polugaevsky. Torci muito por este símbolo de um país de tantos valores, não só intelectuais, mas Morais e culturais. Em tempos tão tristes, dessa história brasileira, onde estamos sendo tão prejudicados, ler uma história como essa, me enche de esperança. E minha admiração por esta lenda viva, aumentou.

    • Jonathan Leblon

      Só tinha ouvido falar desse nome. Não conhecia toda história que o acompanhava, fiquei admirado mesmo. Grande homem de fé coragem e capacidade, orgulho da nossa nação. Somos não só o país do futebol mas também do xadrez. Pena que ainda não sabemos disso.

    • Agostinho Rogerio Gentine

      O pouco que sei sobre Xadrez devo-o ao Mequinho. Diante de seus feitos na década de ´70, na empresa em que eu trabalhava, o xadrez virou uma febre e eu, que nunca havia visto um tabuleiro de xadrez, comecei a jogar.
      Obrigado, Mequinho, e parabéns pelas suas vitórias no Xadrez e na Vida.

    • Bersony Oliveira

      A primeira vez que ouvi falar de Mequinho, foi quando meu tio lá no Maranhão estava aprendendo jogar xadrez e comprou um livro dele, (Tenho lembranças dele passar horas do dia lendo) em meados de 87 ou 88, meu tio foi longe nos jogos escolares daqueles anos. Jogou até em Portugal. Mequinho é um exemplo sim de superação, ainda tenho esperanças de um dia conhece-lo.

    • Flavio coutinho

      Quando o Mequinho jogou um match contra o Polugaievsk, arrumei para ele uma forma de receber uns cobres fazendo uma propaganda do extinto IBC, Instituto brasileiro do café, usando durante o jogo um casaco com a marca do IBC nas costas. Na época o valor foi uma merreca, 5.000,00 da moeda na época, fiz questão de não receber nada, apesar dele propor. Acho que a iniciativa deve voltar, seria uma forma de ajudarmos os nossos grandes enxadristas.

    • Edson Margarida

      Comecei a jogar xadrez com 16 anos e Mequinho já era campeão brasileiro aos 13 anos. Peguei todos os recortes de revistas, Fatos e Fotos, O Cruzeiros e colava no mural do CXF Clube de Xadrez de Florianópolis 1965. Dalí começou minha admiração por essa Lenda Brasileira chamada Mequinho. Perdi um ano de estudo só pra estudar xadrez pra ser campeão da 3° 2° e 1° Divisão de xadrez da Cidade. Perdi o campeonato da cidade pro Martinho de Haro. Dalí descobri que namorar era gostoso do que Jogar xadrez e abandonei o Clube. Ensinei xadrez pra minhas filhas e o meu neto. Fiquei muito triste com o sofrimento do Mequinho, rezei a Deus pra que ele se recuperar da doença. Fui conhecer o Mequinho pessoalmente com 67 anos e eu com 70, num campeonato aberto de xadrez em Floripa no Clube Lira de Florianópolis em 2019.

    • António Curado

      Excelente contributo para a História do Xadrez e História do Xadrez Brasileiro. Já a conhecia, mas a sua, é um bom relatório da trajetória de GM Mequinho. Obrigado.
      António Curado

    • Cláudia Albano Lourenço

      Na Década de 70, Mequinho foi homenageado como Enredo do Bloco Carnavalesco Unidos de São Cristóvão, zona norte do Rio de Janeiro, uma comunidade onde não se conhecia o Xadrez e ele levou esse legado. Muito importante para todos nós.

      • Marcelo A. Funke

        Um genio e infelizmente pouco reconhecido por ter sido Grande Mestre Internacional e 3o. colocado no ranking mundial

    • Paulo Groisman

      Grande ser humano!??

    • Rodney

      Contra fatos não há argumentos e apesar de eu ser super amador o xadrez é lindo e Mequinho foi e é sem dúvidas um gênio no Brasil e referência no mundo. Deveria ser lembrado com honras em nosso país.

    • Marcos padilha

      Mas é conhecido a má avaliação do grande Tigran Petrosian sobre o nosso Mecking:
      "a remark by ex-World Champion Tigran Petrosian, to be found in an excellent book, 'Opening Preparation' by Mark Dvoretsky and Artur Yusupov. In the middle of annotations to a game by Henrique Mecking in 1972 the authors quote Petrosian:
      "Mecking does not understand the significance of weak and strong squares. I have played him three times. In 1969 he lost to me owing to the weakness of his light squares. A year later he presented me with all the dark squares and again suffered defeat. And in the San Antonio tournament of 1972, Grandmaster Mecking again let me have dark-square control, and with it - victory. What distinguishes Mecking is lively piece play, but he has no genuine grasp of the underlying nature of a position; this is what makes me have doubts about his future as a player."
      texto tirado do site: "https://exeterchessclub.org.uk/content/weak-squares"

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