Depois de um longo período de incertezas, finalmente foram realizados, no início do mês de dezembro, os Jogos Abertos do Interior de São Paulo 2015.
As polêmicas que giraram em torno da realização, ou não, do evento foram um acontecimento à parte. Até mesmo o Governador do Estado de São Paulo teve de intervir para garantir a realização dos jogos.
Inicialmente, o torneio se realizaria em São Bernardo do Campo. Depois a notícia é que a cidade sede seria Ribeirão Preto, mas, por fim, os jogos foram realizados na cidade de Barretos, conhecida nacionalmente pela Festa do Peão de Boiadeiro e pelo Hospital do Câncer, que é referência no tratamento da doença.
Apesar de Barretos ser uma cidade bastante acolhedora, lamentavelmente o local da realização das partidas de xadrez deixou muito a desejar: um salão de jogos que não oferecia mínimas condições para os enxadristas, com uma iluminação precária e um calor que beirava os 40 graus.
Sobre o episódio, o GM Rafael Leitão fez um desabafo: “as condições oferecidas esse ano foram insalubres. O salão de jogos estava em uma temperatura próxima de 40 graus, em Barretos que é uma cidade muito quente. Havia alguns poucos ventiladores funcionando de maneira débil, além da péssima iluminação, que devia ser o problema principal, mas virou secundário, porque o fato de você conseguir respirar com decência já era difícil naquele calor e devido à tensão das partidas, que naturalmente eleva a temperatura do corpo, principalmente nos momentos finais, não é exagero dizer que o jogador podia até mesmo desmaiar durante a partida. A verdade é que, lamentavelmente, naquelas condições a integridade física dos enxadristas foi colocada em risco. Isso foi um desrespeito com os jogadores de xadrez, uma arte extremamente nobre, que mexe com o intelecto e exige boas condições para você conseguir jogar boas partidas”.
O fato é que os anos de ouro dos Jogos Abertos do Interior de São Paulo ficaram para trás. Não se joga nas condições oficiais da Fide, com acréscimo de tempo, porque não há relógios para todos os competidores. A burocracia desnecessária para a contratação de estrangeiros tira um pouco do brilho do evento, que já contou com participações memoráveis de enxadristas internacionais como Valery Salov, Alexei Fedorov, Rubén Felgaer, dentre tantos outros.
A remuneração paga hoje aos jogadores nem se compara ao que já foi um dia, o que é um grande baque para os atletas, que antes podiam contar com uma importante ajuda mensal para manter a rotina de treinos e participações em torneios. Saudosos os tempos de equipes como Guarulhos e Americana, que chegou a ser composta pela equipe olímpica brasileira.
Outro ponto que merece duras críticas é que as partidas não são transmitidas e não ficam para a posteridade. E como é triste quando uma obra de arte se perde no tempo. Qual o sentido de terem sido jogadas fantásticas partidas durantes os jogos se elas não serão reproduzidas para as próximas gerações?
Ah! Sim! As partidas…
Apesar de tudo, jogou-se um bom xadrez em Barretos.
Alguns duelos emblemáticos figuraram na seção Partida do Dia, como, por exemplo, Fier x Vescovi, Milos x Caldeira, Campelo x Delgado, Leitão x Mareco, Evandro Barbosa x Mareco, Sega x Leitão e Leitão x Mequinho.
A equipe campeã do masculino, divisão especial, foi a de São José dos Campos, composta por Sandro Mareco, Alexandr Fier, Diego di Berardino e Mateus Nakajo. O imponente quarteto dominou a competição desde o início, mas a sorte poderia ser diferente. Na primeira rodada a equipe, por alguma razão, foi escalada de maneira errada, o que poderia ter custado dois pontos. Mas a equipe adversária só percebeu o erro depois de assinada a súmula do match. Melhor assim: é preferível quando as competições são decididas no tabuleiro e não por um detalhe burocrático.
O pódio foi completado com as equipes de São Bernardo do Campo (Leitão, Milos, Andrés e Cícero Braga) e Osasco (Evandro Barbosa, Vescovi, Quintiliano e Pelikian).
Na divisão especial feminino, a vitória foi da equipe de São Bernardo do Campo, seguida de Mogi das Cruzes e de Osasco.
O ano de 2016 começará repleto de incertezas para os enxadristas que costumam participar dos Jogos Abertos. Torcemos para que os dias de glória sejam retomados!
Veja o vídeo com o resumo de um dia dos Jogos Abertos!
Escrito por Equipe Academia Rafael Leitão em 17.12.2015.
Realmente lamentável a situação descrita das dependências. O governo devia investir mais no xadrez, oferecer patrocínios aos titulados e aos clubes de xadrez, além de promover parcerias para a realização de mais torneios de alto nível em São Paulo. Ficamos na inocente esperança de que um dia isso possa ocorrer.
Há muito o que se mudar em nosso país.
De fato foi um grande desrespeito a pessoas com dons artísticos como são os jogadores de xadrez.
Abs de
Ivan Tadeu ...