Mitos de Abertura Para Desacreditar Já

    O jovem sentou-se em frente ao computador para a sua primeira aula com o novo treinador. Ele ultrapassou os 1800 pontos de rating no último torneio. Seu sorriso ia de orelha a orelha e era hora de corrigir os erros para seguir avançando. Abriu o Skype e conectou-se com um Mestre Internacional estrangeiro que vive no Brasil há algum tempo. Ansioso para superar seus problemas contra 1.d4, acabou surpreendido pelo Mestre. 

     

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    – No meu país as coisas funcionam um pouco diferente. Aqui vocês aprendem a jogar pela abertura, mas lá iniciamos pelos finais. Pelas suas partidas, vi que você tem muitas deficiências nessa fase do jogo e trabalharemos nisso. Falou o Mestre.

    O menino substituiu o sorriso por um olhar sério e acompanhou a aula de finais de torres complexos. Quando a aula acabou, o pai – responsável por pagar as aulas – lhe perguntou:

    – E aí filho, gostou?

    – Gostei pai, mas ainda não sei como jogar contra 1.d4.

    O pai suspendeu o pacote de aulas com o Mestre estrangeiro e foi atrás de um novo treinador, “um que ensinasse ele a jogar contra 1.d4”.

     

    A Supervalorização da Abertura

    A história acima ilustra o ensino do xadrez no Brasil (não na Academia Rafael Leitão, claro). O estudo de aberturas é supervalorizado em detrimento das outras fases do jogo. Não adianta conhecer 10, 15 lances de uma determinada variante e no lance seguinte entregar uma peça ou cometer um grave erro posicional. 

     

    “Eu Sempre Perco Na Abertura”

    Esse é o primeiro mito a ser desacreditado. É comum ouvir de enxadristas frases como: “ele jogou 1.e3, eu me confundi e por isso eu perdi”. Raramente as partidas são decididas na abertura. Até certo nível, as partidas são decididas majoritariamente no cálculo. Quem credita as derrotas às aberturas, foca muito tempo nessa parte do jogo e freia a evolução.

    Foi surpreendido na abertura? Mantenha a calma, lembre-se dos princípios básicos do xadrez (desenvolvimento, domínio do centro, etc), do espírito da abertura e calcule! 

     

    “É Preciso Ter Todas as Variantes Estudadas”

    Quem acredita no mito anterior, fatalmente irá acreditar nesse também. O estudo de aberturas é um trabalho sem fim. O treino deve ser direcionado para as variantes clássicas e não é necessário se preocupar tanto com as variantes raras. Mais do que decorar posições, o importante é entender o espírito da abertura. Ver partidas modelo ajuda muito nesse sentido. Quando se compreende o espírito, é mais fácil se virar mesmo sem saber a teoria.

     

    “Os Grandes Mestres Sabem Tudo de Abertura”

    Talvez para os Grandes Mestres acima de 2650 pontos de rating isso esteja mais próximo da realidade. Contudo, para a maioria isso não reflete a realidade. O Rafael Leitão é um exemplo. Ele afirmou que quando se tornou GM, aos 18 anos, não tinha nenhuma super preparação.

    Ou seja, esqueça essa ideia do que os Grandes Mestres sabem tudo de abertura. Isso não é um requisito para jogar bem xadrez. Como já mencionado, o importante é ter um repertório bem definido, conhecer as partidas modelo e estudar as variantes clássicas.

     

    “Meu Adversário Sabe Muito Mais de Abertura, Estou Ferrado!”

    Não comece um jogo desanimado porque acha que o adversário sabe mais teoria de abertura. Esqueça essa ideia, quando você treina abertura do jeito correto (pra quem não entendeu ainda: repertório bem definido, partidas modelo, variantes clássicas), torna-se capaz de lutar em quaisquer condições. Isso traz confiança e lhe aproxima da vitória. Bons estudos!

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    Texto escrito pelo MF William Cruz

    4 Responder para “Mitos de Abertura Para Desacreditar Já”

    • Leandro

      Escapo de tudo isso, mas me encaixo quase na primeira.
      Gosto de jogar minha abertura, quando isso não é possível... eu fico meio chateado.
      :)

    • Anderson

      Ai surge um dilema. Porque primeiro estudar finais se eu não passo nem do meio-jogo?

      • Marcos Antônio

        Quando se estuda final e tática você melhora o cálculo. Portanto, quando melhora o cálculo você não cai mais em armadilhas ou golpes táticos nas aberturas... Na minha mera opinião, o estudo sério nas aberturas são para jogadores acima de 2400 de rating, abaixo disso: apenas uma vez por semana para aprender as variantes clássicas e formar um repertório, o resto da semana estudar muito final, estratégia, resolver posições de tática diariamente e analisar partidas comentadas.
        Este artigo foi excelente!! Passarei adiante!!!

        • Rafael Leitão

          Obrigado! Eu concordo com você: a partir de 2400 as aberturas são muito importantes.

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