Os Quatro Maiores Duelos Históricos Jamais Realizados

    Os Quatro Maiores Duelos Históricos Jamais Realizados

    Infelizmente a história do Campeonato Mundial de Xadrez foi escrita com algumas lacunas. Por diferentes razões, os melhores enxadristas de algumas épocas simplesmente não mediram força. Esses confrontos inexistentes instigam o imaginário do público que, na falha tentativa de preencher o vazio histórico, insiste em determinar um destino para o match. A seguir, confira os bastidores dos quatro maiores duelos jamais realizados.

     

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    1- Fischer x Karpov

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    Fischer e Karpov fariam um dos matchs mais espetaculares da história

     

    O americano Robert (Bobby) James Fischer venceu o soviético Boris Spassky em 1972, no que foi intitulado o “match do século”, e tornou-se campeão mundial aos 29 anos. O Torneio de Candidatos de 1974 foi realizado para definir um novo desafiante. O soviético Anatoly Karpov venceu a competição que contou com a participação do brasileiro Henrique Mecking.

    O duelo Fischer x Karpov deveria acontecer no final de 1974 ou em 1975. Fischer com 32 anos e Karpov com 24, ambos em grande forma. O sistema de disputa do match foi a grande discussão da época. Fischer queria um duelo ilimitado, no qual os empates não contariam e seria campeão mundial quem vencesse 10 partidas, porém, em caso de 9×9, o campeão manteria o título e dividiria o prêmio.

    Após inúmeras reviravoltas, a FIDE aceitou a proposta de Fischer, porém, por 32 votos a favor e 35 contra, rejeitou a regra do 9×9. Fischer respondeu ao seu estilo: “Como deixei claro no meu telegrama aos delegados da FIDE, as condições de jogo propostas não eram negociáveis. A FIDE decidiu contra a minha participação no Campeonato Mundial de Xadrez de 1975. Por isso, renuncio ao título do Campeonato Mundial da FIDE”.

    Em abril de 1975 Karpov foi declarado Campeão Mundial. Para o soviético, a situação não foi positiva: “Eu não sei como Fischer se sente sobre isso, mas eu considero uma grande perda que nunca tenhamos jogado. Eu me senti como uma criança quando lhe oferecem um brinquedo maravilhoso, mas depois, no último momento, o brinquedo é tirado”.

    O Grande Mestre Rafael Leitão perguntou para Karpov quem venceria o match. Sempre muito otimista, Karpov disse que Fischer seria ligeiramente favorito, talvez com 60% de chances. Já o polêmico Korchnoi, quando questionado se em 1978 ele ou Karpov teriam chance contra Fischer, respondeu: “Fischer venceria mesmo se jogasse com nós dois ao mesmo tempo!”.

     

    2- Judit Polgar x Hou Yifan

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    No Torneio de Gibraltar de 2012 Hou Yifan venceu Judit Polgar

     

    A húngara Judit Polgar é a melhor enxadrista da história. Dominou o xadrez feminino entre meados da década de 1990 e 2015. É a única mulher a ter superado a barreira dos 2700 pontos no ranking da FIDE. Também foi a única enxadrista a entrar no top 10 do mundo, sendo considerada uma possível candidata ao Campeonato Mundial Absoluto no início dos anos 2000.

    Em 2010, Hou Yifan tornou-se campeã mundial aos 16 anos, a mais jovem da história. Reafirmou seu título nos matchs de 2011, 2013 e 2016, lidera o ranking feminino da FIDE desde 2015, ano marcado pela alternância na liderança com Judit Polgar.

    Polgar nasceu em 1976 e Hou Yifan em 1994. Mesmo com 18 anos de diferença, seria fantástico um match entre 2010 e 2015. Judit Polgar seria favorita, mas tudo poderia acontecer. O melhor de tudo: o duelo colocaria o xadrez feminino em outro patamar.

    O match jamais foi discutido. Ao longo da carreira ambas as enxadristas discordaram da fórmula do Campeonato Mundial Feminino imposta pela FIDE. Por essa razão, Judit nunca tentou venceu a competição e a chinesa renunciou ao título.

     

    3- Alekhine x Keres

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    Keres não aceitou jogar em 1943, Alekhine rejeitou um acordo anos antes

     

    Alexander Alekhine derrotou José Raúl Capablanca e conquistou o título mundial em 1927. Perdeu a coroa em 1935 para Max Euwe e recuperou em 1937. No ano de 1938, Paul Keres venceu o Torneio de AVRO, considerado um dos torneios mais fortes da história.

    Classificação final AVRO 1938: 1-Keres 8.5, 2-Fine 8.5, 3-Botvinnik 7.5, 4-Euwe 7.0, 5- Reshevsky 7.0, 6- Alekhine 7.0 7- Capablanca 6.0, 8- Flohr 4.5. Após essa fantástica conquista, Paul Keres  tornou-se um desafiante natural de Alekhine.

    Como as negociações eram complexas, Keres desafiou o ex-campeão mundial Euwe, pois entendia que o vencedor teria o direito moral de desafiar o campeão. O duelo com Euwe foi muito interessante e Keres venceu pela diferença mínima: 7,5 x 6,5. No entanto, mesmo após a vitória, Keres não conseguiu entrar em acordo com Alekhine para realizar o match pelo título mundial.

    Em 1943, ambos os jogadores se encontraram. O campeão mundial também participava dos torneios alemães, e Alekhine propôs um match pelo título. Mesmo com reais chances de vitória, Keres rejeitou a proposta. Desta vez, foi Alekhine quem reclamou da decisão: “todos eles estão esperando que eu complete os sessenta!”, referindo-se aos demais candidatos.

    No entanto, de acordo com a biografia de Keres, o enxadrista tinha a consciência de que, entre todos os aspirantes ao título mundial, ele era o único que vivia do lado errado e, nessas condições, um match com Alekhine seria comprometedor. Infelizmente, Alekhine faleceu em 1946 e o match nunca aconteceu.

     

    4- Lasker x Rubinstein

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    Lasker x Rubinstein

     

    Em 1894, Emanuel Lasker derrotou William Steinitz e tornou-se o segundo campeão mundial oficial de xadrez. Akiba Rubinstein se fez conhecido a partir de 1906, quando conquistou a terceira colocação no torneio de Ostende (Bélgica), atrás dos renomados Schlechter e Maroczy.

    Na terceira rodada de São Petersburgo, em 1909, Akiba Rubinstein derrotou o então campeão mundial, Emanuel Lasker, em uma partida histórica. Por fim, ambos acabaram compartilhando a primeira posição com 14.5 em 18 rodadas, 3.5 pontos na frente do terceiro colocado. Destaque também para o torneio de San Sebastian, Espanha (1911), onde Akiba venceu José Raul Capablanca.

    De fato, entre 1907 e 1912 ficou claro que Akiba Rubinstein era o desafiante natural para o match pelo Campeonato Mundial. No entanto, sem maiores julgamentos, é possível dizer que os acordos com Lasker eram difíceis, pois não existia uma regulamentação específica para o match. Até o horário das partidas, manhã ou tarde, foi um empecilho para a realização da disputa.

    No livro Meus Grandes Predecessores – Volume I é possível encontrar algumas opiniões sobre o tema:

    Botvinnik: “Lasker, como um grande psicólogo, sabia quando deveria evitar um match (pela excelente forma do rival), e quando, por outro lado, era conveniente lutar. Assim fez com Tarrasch, Rubinstein e Capablanca. Contudo, devemos condená-lo por isso? Não existiam regras e o campeão fazia seus critérios. Nesse sentido, Lasker era diferente de Steinitz, que nunca rejeitou um desafio”.

    Na opinião de Kasparov, o perfil de Rubinstein também não contribuia nas negociações: “… era extraordinariamente modesto e tímido, mas o mais importante era a sua falta de praticidade”.

    Já na sequência, Lasker defende a profissionalização, conta seus temores e justifica suas ações: “Estava disposto a jogar contra qualquer um, mas com uma única condição: o mundo do xadrez deveria querer ver o duelo e esse desejo deveria se confirmar verbalmente e materialmente. Não quero ser objeto de exploração. Kieseritzky, Zukertort, Mackenzie, Pillsbury e Steinitz acabaram nas mãos da assistência social, com transtornos mentais, morrendo nos hospitais. Eu estava disposto a entregar minha habilidade, enriquecendo o mundo do xadrez, desde que fosse com responsabilidade e compromisso”.

    De uma forma ou outra, infelizmente, o match Lasker x Rubinstein nunca aconteceu. A Primeira Guerra Mundial iniciou em 1914 e Akiba Rubinstein foi seriamente prejudicado. A precariedade e a angústia da ocasião afetaram definitivamente seu sistema nervoso. O enxadrista ainda teve uma ou outra atuação positiva na década de 1920, mas os problemas psiquiátricos deixaram seu comportamento excêntrico.

     

    Entre os duelos mencionados, qual seria o mais fantástico? Deixe sua opinião nos comentários.

     

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    10 Responder para “Os Quatro Maiores Duelos Históricos Jamais Realizados”

    • Wagner marinho

      Acho que duas revanches faltaram.. capa x alekhine. E kramnik x kasparov

    • Rilton Conti

      Sem dúvida o mais incrível confronto que a história gostaria de ter registrado, seria Fisher x karpov! Agora, se eu pudesse, gostaria de ver todos!

    • Job

      O caso de Rubinstein é bem triste, pois no seu melhor momento uma série de circunstâncias impediram que tentasse o título mundial. E eu acho que ele teria batido Lasker.

    • Wendell

      Lasker x Rubinstein seria maravilhoso.

    • Michel

      Um match que iria ser um dos mais belos da história : Alekhine x Botvinnik

      • Candido

        Paul Morphy x Stauton , infelizmente Stauton correu

    • DECIO MOREIRA ROCHA

      Fischer x Karpov e Steinitz x Morphi seriam demais, um no seculo XX e outro no século XIX

    • Marquinhos Santana

      Fischer e Karpov é de fato a maior lacuna devido ao nível avançado dos dois e do próprio xadrez da época mas faltou nessa lista Morphy e Stauton

    • Paulo

      A revanche Capablanca x Alekhine!!

    • Sandro

      Karpov vs Fischer

      Seria incrível ver Fischer jogar contra o estilo de Karpov.

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