Início Brilhante
Nascido em 1937, Boris Vasilievich Spassky teve um início de carreira brilhante. Em 1953, aos 16 anos, venceu Vasily Smyslov no Torneio Internacional de Bucareste e conquistou o título de Mestre Internacional. Apenas três anos mais tarde, disputou seu primeiro Torneio de Candidatos – realizado em Amsterdã – e compartilhou a terceira colocação, atrás apenas de Paul Keres e do campeão Smyslov.
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O jovem Spassky em 1956
Rivalidade com Tal
Ainda em 1956, Spassky compartilhou a primeira posição do Campeonato Soviético com Mark Taimanov e Yuri Averbakh. Boris terminou em terceiro nos desempates. Contudo, o enxadrista finalizou com um ponto na frente da outra estrela da nova geração, Mikhail Tal. Os papéis se inverteram no ano seguinte, quando Tal foi campeão soviético com um ponto e meio na frente de Spassky, o quarto colocado. Esses torneios desenvolveram uma rivalidade entre os líderes da nova geração: Boris Spassky e Mikhail Tal. A diferença de idade entre eles é inferior a três meses.
Boris Spassky x Mikhail Tal – Riga 1958
Campeonato Soviético de 1958
Dono de um estilo de jogo universal, Spassky desejava demonstrar sua superioridade no Campeonato Soviético de 1958, realizado em Riga, na Letônia, a terra natal do seu principal rival. Naquele ano, o campeonato nacional também foi válido como Zonal e classificou os quatro melhores para o Interzonal – na época, a fase anterior do Torneio de Candidatos.
Após doze das dezoito rodadas, Spassky liderava com nove pontos, um na frente de Petrosian e dois de Tal. Boris se deixou levar pela vontade de conquistar o título nacional a qualquer custo e passou a jogar mal. Nas cinco rodadas seguintes, três empates e duas derrotas: para Kotov e Gurgenizde, adversários que não estavam entre os mais fortes do torneio.
Última Rodada
Antes da última rodada, a situação já era bem diferente. Tal e Petrosian dividiam a liderança. Bronstein estava meio ponto atrás, enquanto Spassky e Averbakh estavam a um ponto dos líderes. Eram cinco lendas do xadrez para apenas quatro vagas no Interzonal. Petrosian, Bronstein e Averbakh empataram suas partidas sem muita luta e sobrou apenas o confronto decisivo: Spassky x Tal.
A Tragédia
No lance 23, quando a partida chegou a um final equilibrado, Tal ofereceu empate e Spassky recusou. Um empate faria com que Tal e Petrosian disputassem um match pelo título soviético e Spassky precisaria enfrentar Averbakh pela última vaga ao Interzonal.
Posição após o lance 24. Jogam as brancas. Um lances antes, Spassky recusou empate
Após ter o pedido de empate negado, Tal cometeu algumas pequenas imprecisões e Spassky tomou a iniciativa. A partida então foi postergada para o dia seguinte. Os analistas trabalharam duro durante a noite, mas a posição não era simples.
Posição após 45…De6, quando a partida foi postergada. Jogam as brancas
Quando amanheceu e o duelo continuou, Spassky teve algumas possibilidades de vitória, mas as desperdiçou. De fato, ele cometeu erros graves e, no desespero, ofereceu empate. Tal simplesmente lhe respondeu: “vamos seguir jogando”. Tudo estava acabado!
Posição após 73…f5. As brancas abandonaram
Quando a vitória e o título foram consumados, ovacionado, Tal foi sacado do cenário nos ombros dos seus seguidores. Por outro lado, Spassky enxugava as lágrimas enquanto se retirava. Um verdadeiro drama, finalizar em quinto! Um adeus momentâneo as aspirações pelo Campeonato Mundial.
Depois da partida, Tal subiu como um cometa até se tornar Campeão Mundial em 1960. Já a carreira de Spassky ficou em xeque, parecia que seu sistema nervoso não estava preparado para provas tão severas. Spassky teve de esperar quase uma década para amadurecer seu jogo e conquistar o mundo.
Veja aqui a partida completa entre Spassky e Tal.
A Redenção de Spassky
Spassky superou a “Tragédia de Riga” e se tornou o melhor jogador do mundo na metade da década de 60 até finalmente derrotar Tigran Petrosian em 1969. Muitas foram as provações na vida desse grande enxadrista, desde a sobrevivência durante o Cerco de Leningrado até as lutas no tabuleiro com grandes lendas como Tal, Petrosian, Fischer, Karpov e tantos outros.
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Referências Bibliográficas:
Garry Kasparov – Meus Grandes Predecessores – Volume III
Texto escrito pelo MF William Cruz e editado pelo GM Rafael Leitão.
Se a ideia é homenagear Spassky, de tantas partidas esplêndidas, porquê eleger uma derrota vexante como esta. Talvez fosse melhor assumir que a intenção era enaltecer a estrela de Tal.
Acho que você não entendeu a partida e muito menos a intenção do artigo.
Cara, essa derrota do Spassky é uma das melhores historias de superaçao no xadrez. O Spassky é um cara conhecido mais pelas derrotas que pelas vitorias, pq era nao apenas um otimo enxadrista, mas também uma pessoa de personalidade fenomenal, com reais emoçoes mostradas durante o tabuleiro. O objetivo do artigo é mostrar uma historia de superaçao, além da necessidade de uma certa dose de humildade e aprendizado, ver que mesmo um gênio erra e sente a dor das derrotas, mas também é capaz de se recuperar, ainda que a longo prazo. Se o Rafael vir isso: Salve ao brasileiro que venceu Karpov e Judit Polgar! haha Vc sempre foi uma inspiraçao, te vi aos 8 anos e tiramos uma foto, ver GM's como vc me guiou até meu titulo brasileiro de blitz Sub-14 em 2012! Valeu, lenda!
Obrigado pela mensagem e pelo elogio, Alexandre! Me manda essa foto! :) Um abraço.
Além de grande enxadrista, Spassky era um cidadão extremamente ético e elegante com seus adversários. Perder ou ganhar é natural de qualquer competição esportiva. Já reproduzi todas as partidas dele com o Bobby Fischer (esse rasgava dinheiro, há,há) e, na minha opinião, Spassky jogou perturbado com a obrigação de ganhar em face da "Guerra Fria" entre seu país (URSS) e EUA. Isso contou muito negativamente.