Grandes Enxadristas: A História De Lev Polugaevsky

    Grandes Enxadristas: Lev Polugaevsky

     

    Quando a história do xadrez é relatada, naturalmente, toda ênfase é dada para os campeões mundiais. No entanto, de um ponto de vista mais técnico, é indiscutível a importância dos estudos produzidos por jogadores que sequer tenham lutado pelo maior título do planeta. O enxadrista Lev Abramovich Polugaevsky se encaixa perfeitamente nessa descrição.

     

    Primeiros Passos

    Polugaevsky nasceu na União Soviética em 1934. O enxadrista apareceu para o mundo do xadrez em 1953, quando conquistou a segunda colocação em um forte torneio da federação russa, o que lhe rendeu o título de Grande Mestre. Em 1961 e 1965 foi vice-campeão do fortíssimo Campeonato da U.R.S.S. e finalmente conquistou o título em 1967 e 1968. Além disso, se destacou em diversos torneios internacionais, incluindo as Olimpíadas de Xadrez.

     

    Torneio de Candidatos

    Korchnoi, Karpov, Petrosian e Polugaievsky

     

    Apesar de já ser um dos melhores enxadristas do mundo na década de 1960, Polugaevsky só conseguiu uma vaga para o Torneio de Candidatos em 1974, tendo fracassado em oportunidades anteriores. Naquela época, o Torneio de Candidatos era disputado por oito jogadores, no sistema de matchs eliminatórios. Ainda nas quartas de final, Polugaevsky sucumbiu a Anatoly Karpov por 5.5 x 2.5. Nesse mesmo torneio, o brasileiro Henrique Mecking também caiu nas quartas de final, este para Victor Korchnoi, por 7.5 x 5.5.

    No ciclo seguinte, em 1977, Polugaevsky conseguiu voltar para o torneio de candidatos e, nas quartas de final, derrotou Henrique Mecking por 6.5 x 5.5. Porém, na semifinal perdeu para Korchnoi por 8.5 x 4.5. Em sua terceira e última tentativa, em 1980, Polugaievsky massacrou Mikhail Tal por 5.5 x 2.5 nas quartas, porém, mais uma vez, perdeu para Korchnoi na semifinal. Desta vez, a derrota veio apenas nas partidas rápidas, o resultado final ficou em 7.5 x 6.5.

     

    Contribuições

     O enxadrista soviético era um estudioso sem igual. Quando a partida era adiada, naquele tempo isso era possível, “Poluga” encontrava soluções caseiras como ninguém, como por exemplo, nos duelos com Geller (1968) e Grigoric (1970). Além disso, sua contribuição para a teoria de aberturas, em especial na Defesa Siciliana, tem valor incomensurável para o xadrez.

    7…b5, Variante Polugaievsky da Defesa Siciliana

     

    O Dia Que Fischer Temeu Polugaevsky

    No Interzonal de Mallorca em 1970, Robert James Fischer jogaria com o enxadrista russo de brancas. Para contar essa história pegarei as próprias palavras de Polugaevsky no livro Meus Grandes Predecessores – Volume III:

    “Meu treinador (GM Boleslavsky) e eu chegamos à conclusão de que Fischer não me temeria. Não tínhamos dúvidas de que jogaria 1.e4, e isso significava uma Defesa Siciliana. Cheguei ao tabuleiro uns 30 segundos atrasado, Fischer não estava na mesa e o peão estava em c4. O que é isso? Pensei que tinha me enganado de mesa. Fiquei de pé, olhei ao redor e confirmei que toda minha preparação de abertura havia sido em vão. Fischer jogou 1.c4 pela primeira vez em sua vida! ”

    A partida terminou em empate e ,segundo a opinião de Garry Kasparov, no livro mencionado de sua autoria,: “Não é difícil de entender por que, em uma partida tão importante, Fischer descartou sua jogada preferida (1.e4). Seu rival era um especialista na Defesa Siciliana, sobretudo na variante Najdorf, que também era a arma favorita do estadunidense. A contribuição de Polugaevsky para a teoria de aberturas foi, provavelmente, ainda mais significativa que a do próprio Fischer”, afirma Kasparov.

     

    Por Que Polugaevsky Não Chegou Ainda Mais Longe?

     

    “Segundo Kasparov, faltaram qualidades combativas”

    De fato, segundo Kasparov, Polugaevsky resolveu, com êxito, todos os problemas de abertura criados pelos adversários nos Torneios de Candidatos. Tal não conseguiu superar a Siciliana de Lev, enquanto Mecking não foi capaz de igualar nem com brancas, nem com pretas. Karpov e Korchnoi venceram os matchs, porém, tiveram dificuldades de abertura e só conseguiram as vitórias nas complicações do meio jogo.

    “Nos momentos críticos dos matchs com Karpov e Korchnoi, Polugaevsky não demonstrou carência de qualidades enxadrísticas, mas, talvez, de qualidades puramente combativas, que são necessárias para vencer os rivais mais duros. Em outras palavras, Polugaevsky não podia suportar a tensão da luta”, explica Kasparov.

    Lev Abramovich Polugaevsky morreu no ano de 1995, em Paris, na França. Seus restos mortais estão no Cemitério de Montparnasse, onde também se encontra a tumba de Alekhine.

     

     

    E você, já conhece as partidas do Polugaevsky? Concorda com a explicação polêmica do Kasparov? Deixe sua opinião nos comentários.

     

    Referência bibliográfica: “Mis Geniales Predecesores – Parte III”, Kasparov, Garry, pág. 79 a 105.

     

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    3 Responder para “Grandes Enxadristas: A História De Lev Polugaevsky”

    • Cleib

      Muito boa a matéria

    • José Renato Vieira

      Boa matéria, mas poderia colocar uma partida do Poluga como exemplo.

    • Plínio

      Eu era jovem e acompanhei o duelo entre Mequinho e Polugaievski nos jornais. Lembro-me (se a memória não me engana) que Mequinho sempre tinha leve vantagem, a partida era suspensa e ele nunca conseguia impor sua vantagem e, assim, recuperar a derrota sofrida no começo do duelo. Polugaievski sempre achava uma maneira de se defender. É isso? Acho que valeria a pena retomar esse match. Dizia-se que a doença de Mequinho teve origem na frustração dessa derrota. Confere?

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