Grandes Enxadristas: Evgeny Sveshnikov
Mesmo sem chegar aos níveis competitivos mais altos, alguns enxadristas também marcaram seus nomes na história pela contribuição teórica ao jogo. Nosso caso mais emblemático é a Abertura Trompowsky (1.d4 Cf6 2.Bg5), desenvolvida pelo brasileiro Octávio Figueira Trompowsky de Almeida.
[Conheça a brilhante carreira de Octávio Trompowsky]
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Contudo, o intuito destas palavras é homenagear outro lendário enxadrista: Evgeny Ellinovich Sveshnikov. Prestou atenção no sobrenome?
Sveshnikov em diferentes fases da vida
Defesa Siciliana
Sveshnikov… Sim, aquele que batizou a famosa variante da Defesa Siciliana (1.e4 c5 2. Cf3 Cc6 3.d4 cxd4 4. Cxd4 Cf6 5.Cc3 e5).
O lance 5…e5 marca o início da variante. As negras debilitam a casa d5 em troca de espaço e um desenvolvimento mais cômodo.
Evgeny Sveshnikov nasceu na Rússia (União Soviética) no dia 11 de fevereiro de 1950 e faleceu no último dia 18 de agosto, aos 71 anos.
Engenheiro, o soviético dedicou-se plenamente ao xadrez em meados dos anos 1970, quando participou de diversos torneios internacionais a partir de então. Em 1977, conquistou o título de Grande Mestre.
Nos anos 1990, mudou-se para Riga e representou a Letônia nas Olimpíadas de 2004, 2006, 2008 e 2010. Em 2016, ganhou o Campeonato Mundial Sênior (+65).
Seu currículo é marcado por vitórias importantes contra adversários da elite: GM Judit Polgar, GM Viktor Korchnoi, bem como alguns empates com futuros campeões mundiais: Anand, Kasparov, Karpov, Smyslov e Tal.
De Lasker-Pelikan para Sveshnikov
Em 1988, Sveshnikov publicou uma monografia sobre a variante que levaria o seu nome. A posição era conhecida como variante Lasker-Pelikan e já havia sido jogada desde 1910, no match Lasker x Schlechter. Contudo, os aprimoramentos de Sveshnikov nas variantes são inegáveis.
Polêmica
O russo acreditava que as partidas eram propriedades intelectuais dos jogadores e os enxadristas deveriam receber pela divulgação dos jogos.
Segundo Sveshnikov, só os 20 melhores do mundo possuem suficientes patrocínios para viver do xadrez e essa é uma maneira de rentabilizar a profissão. Além disso, de acordo com ele, a proposta reduziria os empates rápidos, afinal, ninguém compraria uma partida de apenas 10 lances.
Por essa razão, com frequência só aceitava convites de torneios no qual suas partidas não fossem enviadas para empresas como ChessBase ou a Chess Assistant. Às vezes, também se recusava a entregar as planilhas e exigia que seus jogos fossem excluídos das transmissões ao vivo.
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Texto escrito pelo MF William Ferreira da Cruz
É curioso que Sveshnikov, além de ter aperfeiçoado a variante Lasker-Pelikan, também compartilhasse com Lasker a ideia da propriedade intelectual das partidas. Acredito que o empenho em possibilitar a profissionalização dos jogadores é louvável, mas o método inviável desde a época de Lasker. Imagine atualmente, com todos as mídias disponíveis, procurar controlar o acesso às partidas. Imagino que o caminho seja ir construindo associações fortes, como no futebol ou no tênis, para ir popularizando o esporte e construindo vários circuitos de torneios que permitam a mais jogadores viver do xadrez. Contudo, mesmo a ATP não consegue oferecer condições de sobreviver do esporte para mais do que uma elite de cerca de 1000 jogadores no mundo. Gostaria de saber a opinião do Rafael Leitão, que além de ter sido campeão mundial mais de uma vez, tornou-se um campeão em viver profissionalmente do xadrez, mas para isso teve sua carreira de enxadrista, prejudicada. Afinal, e mais uma vez é só a opinião de um capivara, se o Rafael tivesse tido melhores condições institucionais, públicas ou privadas, teria chegado entre os 40 ou 20 melhores do mundo e ficado por lá durante um bom tempo, como um certo Lelo que conseguiu isso e não é ou foi melhor do que o Rafael.
Parabéns pelo artigo e pelo trabalho de vocês.
Luiz Gustavo
Onde saiu Lelo leia-se Leko. Esses corretores automáticos...
Obrigado, Luiz. Eu também acho que a sugestão do Sveshnikov é inviável, mas a preocupação dele é digna: melhores condições para os profissionais. É possível viver de xadrez, mas como você bem observou, a maioria precisa "sacrificar" o próprio jogo, limitando os resultados nos torneios.
Eu concordo com a visão do Sveshnikov na teoria. Partidas de xadrez, comumente, são obras de arte; posições únicas, repetidas apenas uma vez na história, que marcam épocas após cada lance. Além disso, o problema que ele relatava é real: o esporte é muito seleto, o que diminui o interesse geral e também limita a possibilidade de jogadores talentosos se dedicarem a quem tem mais estrutura financeira. Essa conjunção de "algo único" + "dificuldade em se manter" me faz crer que deveria existir algum tipo de royaltie ou direito de imagem, sim, mesmo que em valores pequenos. O problema, como disse o amigo acima, é a prática disso; o esporte não tem audiência o suficiente para ter direitos de transmissão relevantes (ainda), e a disponibilidade de diversos meios de acesso é mais importante ao xadrez do que essa valorização, que durante um longo período será pífia, dos jogadores de alto nível. É mais interessante - por conta desses fatores práticos - fazer um trabalho de divulgação, retenção de audiência, e exploração da miríade de possibilidades interativas que o xadrez carrega.
Acredito que os grandes enxadristas e comunicadores brasileiros contemporâneos estão conseguindo derreter a barreira entre o acesso e atenção das audiências, e os efeitos práticos disso são muito mais positivos do que direitos de imagem que não seriam valores expressivos por conta do baixo alcance. No futuro, tenho certeza que haverão mais e mais possibilidades para enxadristas ganharem com sua habilidade: transmissões, patrocínios, torneios, aulas, livros, sites, tudo isso é potencializado com esse trabalho de amplitude feito por vocês. A comunidade agradece e, se eu puder ser um pouco presunçoso, o jogo também.
A ideia de que as partidas são propriedade intelectual dos enxadristas fazia algum sentido até meados do século passado, mas hoje vivemos em uma época em que a informação circula com mais liberdade. O mundo deve encontrar outras formas de recompensar financeiramente os jogadores, mas sem mergulhar o xadrez em um complexo sistema de leis de propriedade intelectual.