O Torneio Mais Forte de Todos os Tempos? – Parte II

    Altibox Norway Chess 2017: o torneio mais forte de todos os tempos?

     

    Nota do GM Rafael Leitão: Esse artigo foi escrito antes dos resultados da rodada de hoje. A atualização com meu breve comentário vai no final do artigo.

     

    Ontem foi o último dia livre daquele que tem sido considerado um dos torneios mais fortes de todos os tempos. Faltam apenas duas rodadas para sabermos quem será o grande campeão do Altibox Norway Chess 2017 – que está acontecendo na cidade de Stavanger, no norte da Noruega. E embora o evento ocorra nas terras do campeão mundial, Magnus Carlsen, depois do começo arrasador, parece ter se tornado um mero espectador da luta pelo título.

     

    Curiosamente, para Magnus, o Norway Chess parece despertar uma relação de amor e ódio. Em 2015 o norueguês passou por uma verdadeira tragédia shakespeariana, com uma atuação catastrófica: antepenúltimo lugar com apenas 2 vitórias, 3 empates e 4(!) derrotas. Mas no ano passado a história foi bem outra: campeão com 6 pontos, sendo 4 vitórias, 4 empates e 1 derrota (para dar aquela emoção). Verdadeiro sucesso de bilheteria. Entretanto… E desta vez? Bem…

     

    Embora não seja uma atuação tão lamentável quanto a de 2015, sem dúvida nenhuma ela está muito (mas muito) longe do esperado. É inegável, ainda que fiel ao seu estilo, a sempre busca pela vitória do campeão mundial em todas as partidas – ainda mais num torneio em que, como regra, não é permitido oferecer empate (há que se jogar até rei contra rei, na maioria dos casos).

     

    Entretanto, as vitórias não chegaram desta vez…

     

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    Terceira rodada

     

    Na terceira rodada, de brancas, contra Nakamura, nos comentários que Carlsen deu após a partida, ficou muito claro que ele realmente não viu diversas ideias de seu oponente – que jogou de forma energética o meio jogo.

     

    Portanto, considerando a partida em si e seus comentários no post mortem, o empate até que foi um bom resultado para o campeão mundial (Mas… talvez um presságio de que as coisas não estavam muito bem. E do que viria em seguida).

     

    Todavia, ao contrário, para Nakamura, o empate foi praticamente uma vitória. O GM norte-americano chegou a comentar em sua conta no Twitter:

     

    Comecei a perceber que sou a única pessoa que vai ser capaz de parar Sauron [dos livros/filmes Senhor dos Anéis] no contexto da história do xadrez.

     

    Mas… Como bem observou o GM Anish Giri:

    “O perigo é acabar como o Smeagol!

     

    Embora, na sequência de comentários, o maior perigo mesmo foi levantado pelo GM inglês Nigel Short, que perguntou para Nakamura: “Você está se candidatando para a Presidência da Fide?”.

     

    Baixe a base de partidas do dia atualizada até 10.06.17

     

    Quarta rodada

     

    Voltando ao torneio, na quarta rodada tivemos uma das rodadas mais memoráveis dos últimos tempos. Mesmo os empates entre Caruana x Kramnik e So e Karjakin não foram destituídos de interesse – em que os jogadores russos demonstraram toda a técnica defensiva de sua escola.

     

    Mas do outro lado da balança, Giri venceu Anand numa partida que o ex-campeão mundial não teve a menor chance. Do começo ao fim. A outra vitória da rodada foi a de Nakamura contra Vachier-Lagrave, em que o norte-americano experimentou, e com sucesso, o pouco usual 6.Bd3 contra a defesa Najdorf (aqui).

     

    Mas a grande vitória (já apontada como favorita para a melhor partida do ano) foi a de Levon Aronian contra ele, Magnus Carlsen. E não, Magnus sequer jogou mal. Aronian, sim, que jogou um xadrez fascinante. Primeiro, ainda na abertura, foi um sacrifício de peão na ala da dama (na coletiva de impressa Aronian disse que tinha preparada essa ideia desde 2003!) e depois um clássico sacrifício (guilhotina francesa?) com Bxh7+ na ala de rei.

     

    Em determinado momento as brancas estão jogando com, simplesmente, uma torre a menos. A partida foi memorável não apenas pelos sacríficos, profundos e posicionais, de Aronian, mas também pela tenaz resistência de Carlsen. Um dia, e uma partida, inesquecível para o xadrez mundial (aliás, falando de “inesquecível”, adivinhem para quem foi a única derrota de Carlsen no Norway do ano passado?)

     

    Simplesmente inesquecível

     

    O GM russo Peter Svidler, que comenta ao vivo o evento para o site Chess24, disse durante a transmissão:

     

    Este jogo, em particular, penso que é extremamente importante porque apresenta, mais ou menos, tudo o que você gostaria de ver em um jogo de xadrez: uma novidade teórica importante; seguida de um sacrifício muito interessante, e com um propósito que normalmente você não vê tão facilmente, e que era o de isolar a dama do adversário – não, você não irá ganha-la nos movimentos seguintes. É uma espécie de plano a longo prazo destinado a jogar contra essa mal colocada dama em a3. E, depois, um sacrifício muito lindo, embora talvez desnecessário, em h7. Alguns erros devem ter acontecido durante o controle do tempo, mas, em geral, foi uma partida muito bem jogada, em particular por Lev, é claro. Ganhar um jogo como este, contra o campeão do mundo, é, obviamente, extremamente gratificante.

     

    (clique aqui e confira essa espetacular partida com as análises do GM Rafael Leitão).

     

    Mas, como dizem, “Sorte no jogo, azar no amor”. Ou seja: o contrário também vale, certo? Pelo jeito, sim. Pois bem: alguns sites tem noticiado que a vida de Carlsen, extra-tabuleiro, estaria passado por uma nova fase. Aproveitando que dia 12 foi, pelo menos aqui no Brasil, dia dos namorados, então…

     

    Synne Christin Larsen, de 22 anos, teria oficializado o namorado com o campeão mundial no dia 22 de Fevereiro desta ano. Apesar da derrota, Carlsen até pareceu estar mais “controlado” emocionalmente – sentindo menos o peso da derrota.

     

    Será? Ainda sim, fica a pergunta mais importante: será que Synne teria algum parentesco com o lendário GM dinamarquês Bent Larsen? Provavelmente não, mas já que caímos no terreno da fofoca, não custa perguntar.

     

    Quinta rodada

     

    E voltando mais uma vez para o xadrez, após a memorável quarta rodada, um pouco de calmaria: todas as partidas da quinta terminaram em empate. Um verdadeiro banho de água fria nos torcedores…

     

    …Embora a sexta rodada tenha retornado com mais emoções. E, mais uma vez, inclusive nos empates.

     

    Giri pressionou So desde o início, até mesmo sacrificando alguns peões e jogando sem nenhum medo de ficar com o rei exposto – acreditando na atividade de suas peças. Giri, que tantas vezes é taxado por empatar demais, parece não estar se preocupando muito com isso e “soltando o braço”. Empate, mas grande partida.

     

    Nakamura x Karjakin e Carlsen x Vachier-Lagrave terminaram também em empate, com um pouco mais de luta no primeiro embate – embora não o suficiente. E Carlsen segue sem ganhar…

     

    Já o cinco vezes campeão do mundo Anand derrotou Caruana com as peças pretas e em grande forma. Entretanto, mais uma vez a cena foi rodada por Aronian que venceu o também ex-campeão mundial Kramnik.

     

    O russo jogou dois lances muito imprecisos por volta do lance 20 e encontrou-se em dificuldades. Novamente Aronian mostrou-se implacável. Outra grande vitória (aqui).

     

    Após estas 6 rodadas, o classificação é a seguinte:

     

     

    JogadoresRtgPerfPts
    1Nakamura,Hikaru278529174.0/6
    Aronian,Levon279329204.0/6
    3Karjakin,Sergey278127953.0/6
    Kramnik,Vladimir280827953.0/6
    Giri,Anish277127983.0/6
    So,Wesley281227963.0/6
    7Carlsen,Magnus283227362.5/6
    Caruana,Fabiano280827412.5/6
    Vachier-Lagrave,Maxime279627452.5/6
    Anand,Viswanathan278627382.5/6

     

    Na sétima rodada, teremos:

     

    Ronda 7 (14 de julho)
    Wesley SoFabiano Caruana
    Vishy AnandHikaru Nakamura
    M. Vachier-LagraveAnish Giri
    Sergey KarjakinLevon Aronian
    Vladimir KramnikMagnus Carlsen

     

    Nota do GM Rafael Leitão:

    A sétima rodada teve duas partidas espetaculares. A vitória de Aronian, de pretas, contra Karjakin teve algumas ideias extraordinárias. Aronian vem mostrando um grande xadrez e se continuar assim será um forte candidato a tirar a coroa de Magnus.

    Já Kramnik afundou ainda mais o campeão mundial. O velho Vlad mostrou que ainda é uma força a ser temida. Essa partida será analisada para a seção “partida do dia” de amanhã.

    Uma curiosidade: ambas as partidas foram na Italiana, a nova “abertura da moda” na elite do xadrez mundial.

    Quem será que levará o torneio mais forte de todos os tempos? Façam suas apostas!

     

    FONTES

    ChessBase

    Chess24

    Site Oficial

     

    Escrito por Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão 14-06-2017

     

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    Uma resposta para “O Torneio Mais Forte de Todos os Tempos? – Parte II”

    • Leonardo

      Inicialmente pensei em Magnus Carlsen como o favorito, mas acompanhando os jogos, vejo Levon Aronian com o título.

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