Um Pouco Mais Sobre Teimour Radjabov, o Campeão da Copa do Mundo

    OBS: O texto abaixo foi escrito pelo MF William Cruz, redator da Academia, e não necessariamente refletem a opinião do GM Rafael Leitão

    Frio, sem ambições e com um pé na aposentadoria. Assim a imprensa internacional descreveu Teimour Radjabov ao longo do último mês. Enquanto os jornalistas tentavam compreender o fenômeno Radjabov, o enxadrista do Azerbaijão eliminava os favoritos Ding Liren (3º no ranking mundial), Maxime Vachier-Lagrave (6º) e Shakhriyar Mamedyarov (7º), até conquistar o título da Copa do Mundo de Xadrez 2019.

    Por mais que a descrição inicial seja coerente, a cobertura não se ateve a principal característica da personalidade de Radjabov: o altíssimo nível de consciência. O enxadrista compreende suas próprias limitações e parece não sofrer da doença egocêntrica que atinge, em diferentes medidas, muitos Grandes Mestres.

    O foco na realidade e a incrível capacidade de dimensionar os próprios êxitos dão a sensação de que Radjabov é um personagem retirado da peça “Hamlet”, de William Shakespeare. Assim como Hamlet, Radjabov consegue se distanciar das emoções do momento e manter uma visão geral do contexto.

    Por essa característica psicológica, Radjabov não ficou eufórico com a conquista. Ele foi cobrado a respeito e sua resposta surpreende. “Na verdade, não faz diferença para mim no geral”. Essa frieza veio com o amadurecimento. Aos 32 anos, Radjabov não é o mesmo de outros anos.

    “A comemoração era diferente quando eu tinha 15 ou 16 anos. Quando venci o Garry Kasparov, em Linares 2003, eu fiquei realmente feliz naquele momento. Não posso compará-lo com hoje de alguma forma, mesmo que seja um título e que lá tenha sido apenas uma vitória em uma partida”, afirmou o campeão.

    Agora, as atenções de Radjabov vão para o Torneio de Candidatos, a ser realizado no primeiro semestre de 2020. Com grande senso de humor, o enxadrista afirmou que sua preparação será feita com tranquilidade e que o anúncio “não deve ser uma revelação preocupante para Magnus Carlsen”. Assim como ele, o vice-campeão Ding Liren também garantiu vaga no torneio que define o próximo desafiante pelo Campeonato Mundial.

    Cerimônia de premiação: Radjabov, Ding Liren, Vachier-Lagrave e Yu Yangyi, o quarto colocado. Nenhum deles parecia muito animado…

     

    Experiência e Favoritismo

    Radjabov não é um enxadrista velho, pelo contrário, porém, sua experiência é inegável. São 96 partidas clássicas contra os cinco campeões mundiais do seu tempo: Kasparov, Topalov, Kramnik, Anand e Carlsen. Contra esse seleto grupo de jogadores, Radjabov empatou 72 jogos, venceu 6 e perdeu 18.

    Nascido em Baku, ocupou a quarta colocação no ranking da FIDE com 2793 pontos no ano de 2007. Disputou os Torneios de Candidatos de 2011 e 2013. Tornou-se Grande Mestre aos 14 anos e 14 dias, o 12º enxadrista mais jovem da história a ter o título de GM.

    Com um histórico desse nível, faz sentido o grande favoritismo dado – pela mídia internacional – a Ding Liren e Vachier-Lagrave nos duelos contra Radjabov?

    Radjabov superou Ding Liren nas partidas de blitz

     

    Os jornalistas se basearam nos resultados recentes dos adversários, enquanto que Radjabov esteve com certa inatividade para um enxadrista desse nível. No entanto, poucos lembram a atuação de Radjabov na Olimpíada de Batumi, em 2018. Teimour conquistou a medalha de bronze no terceiro tabuleiro com quatro vitórias e seis empates. Seu rating performance foi de 2788 pontos. Destaque para a vitória contra Wesley So (2776), dos Estados Unidos.

    Com o título da Copa do Mundo, Radjabov faturou $110 mil dólares e saltou para a nona colocação no ranking da FIDE com 2767 pontos. Agora ele se junta à seleta lista de campeões da Copa: Levon Aronian (2005 e 2017), Gata Kamsky (2007), Boris Gelfand (2009), Peter Svidler (2011), Vladimir Kramnik (2013) e Sergey Karjakin (2015).

     

    Mais Sobre a Copa do Mundo

    A Copa do Mundo de Xadrez 2019 foi realizada na cidade siberiana de Khanty-Mansiysk, na Rússia, entre os dias 9 de setembro de 4 de outubro. Como já mencionado, o chinês Ding Liren foi o vice-campeão e o francês Maxime Vachier-Lagrave terminou na terceira colocação após vencer o chinês Yu Yangyi nos desempates.

     

    Você acha que Radjabov veio para ficar ou apenas dará uma passadinha pelo top 10? Deixe sua opinião nos comentários.

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    Imagens: Site Oficial.

    Texto escrito pelo MF William Cruz.

     

     

    2 Responder para “Um Pouco Mais Sobre Teimour Radjabov, o Campeão da Copa do Mundo”

    • Vazken

      Ocorre que Radjabov não precisa de renda do xadrez para viver, pois pertence a uma família da oligarquia do seu país. Isto explica a sua inatividade e falta de entusiasmo.

    • Adriano Oliveira

      Radjabov sempre foi um jogador sólido e conservador. Me lembro bem de que eu queria ver todas as partidas dos torneios, exceto as dele por que eram empates em demasia. Hoje, já consigo ver diferente. Talvez ele estivesse buscando se estabilizar, estudar cada um, e ao mesmo tempo suas dificuldades. Agora ele saiu da zona de conforto, e me parece outro jogador. Suas partidas contra o Xiong e o Liren foram das melhores da Copa

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