A Visita de Alexander Alekhine ao Brasil
A Olimpíada de Xadrez de 1939, realizada em Buenos Aires, entre 24 de agosto a 19 de setembro, coincidiu com o início dos conflitos da II Guerra Mundial. O evento foi marcante para o xadrez mundial e deixou seu legado não apenas para o xadrez argentino, mas também para o Brasil.
Entre os meses de maio e junho daquele ano, o então campeão mundial – Alexander Alekhine – aproveitou a viagem olímpica para visitar o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro. Considerado um dos melhores de toda a história, Alekhine fez algumas exibições em terras brasileiras.
A simultânea de Alekhine
No dia 26 de maio de 1939, o enxadrista soviético realizou uma simultânea com relógio contra 12 jogadores, dentre os quais estavam os cinco integrantes da equipe olímpica brasileira: Octávio Trompowsky, Walter Oswaldo Cruz, Adhemar da Silva Rocha, Oswaldo Cruz Filho e João Souza Mendes.
Alekhine em exibição às cegas na Europa
Contra este seleto grupo, que representava a elite do xadrez nacional, Alekhine foi implacável e fez 4×1, com empates contra Octávio Trompowsky e João Souza Mendes. No entanto, contra os outros enxadristas, Alekhine teve piedade e o placar final da simultânea acabou apertado: 6,5 x 5,5 para o campeão mundial com 4 vitórias, 5 empates e 3 derrotas.
Miguel Pereira Filho, Orlando Rôças Jr e Luiz Felippe Burlamaqui conseguiram derrotar o campeão mundial. Além de Trompowsky e Souza Mendes, Manuel Madeira de Ley, Joaquim Almeida Pinto e Jayme Schreibman Moses empataram com Alekhine. Barbosa de Oliveira também participou do evento e, assim como W. Cruz, A.Silva Rocha e O. Cruz, acabou derrotado.
Partidas amistosas
Além desta simultânea, a redação da Academia Rafael Leitão encontrou duas partidas amistosas de Alekhine no Brasil. Em 20 de maio, Alekhine disputou um duelo em dupla e com consulta (na época não existiam os supercomputadores de hoje e, por isso, esse tipo de prática era interessante).
No primeiro confronto, Alekhine e Walter Cruz enfrentaram Oswaldo Cruz e Silva Rocha. Em um Gambito de Dama recusado, O.Cruz e Silva Rocha sucumbiram no lance 47 com as peças pretas.
Já no dia 31 de maio, Trompowski e Silva Rocha enfrentaram Alekhine e Oswaldo Cruz. Os brasileiros colocaram em prática a abertura Trompowski e forçaram um empate na 17ª jogada. O campeão mundial resumiu o duelo como: “uma breve partida com certo interesse teórico”.
Impressões sobre o xadrez brasileiro
Também em seu livro de análises, Alexander Alekhine fez referências sobre o xadrez no Brasil em 1939 e as perspectivas para a equipe nacional nas Olimpíadas de Buenos Aires. Confira o texto do campeão mundial:
“Com o maior prazer aproveito esta oportunidade para confirmar uma impressão muito favorável a respeito do atual estado da cultura enxadrística nesta capital (Alekhine se refere ao Rio de Janeiro).
Tendo empreendido há vários meses uma turnê enxadrística pela América do Sul e, tendo encontrado nessa ocasião os melhores jogadores de quase todos os países, posso afirmar que o xadrez brasileiro ocupa um dos primeiros postos. A equipe brasileira pode, portanto, ter a legítima esperança de obter uma posição honrosa em Buenos Aires (nas Olimpíadas).
Termino agradecendo, com muita sinceridade, a toda comunidade enxadrística do Rio de Janeiro pela amável acolhida que me proporcionaram, e confio muito que esta não será a última vez que esta bela cidade conte comigo entre seus admiradores”.
Equipe olímpica brasileira em 1939
Na dramática Olimpíada de 1939, o Brasil terminou na 14ª colocação, uma posição atrás do Chile. Já a Argentina foi a 5ª colocada. O título ficou com a equipe da Alemanha.
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Referências Bibliográficas:
Gran Ajedrez – A. Alekhine 4ª edición, 1982.
Brasil Base: disponível em http://www.brasilbase.pro.br/
Em qual lugar no Rio de Janeiro?
Na sede do Clube de Xadrez do Rio de Janeiro, conforme o Jornal Correio da Manhã (RJ) de 28/05/1939.
Acho que não é preciso classificar Alekhine como um jogador "soviético". Apesar de russo por nascimento, ele era um dissidente do regime comunista de Moscou e sempre representou a França em competições internacionais após 1918.
O fato de ser perseguido pelo regime não anula sua nacionalidade! Acredito que a França ganhou com seu xadrez e ele conseguiu se manter vivo, c'est la vie.