O Campeonato Brasileiro Feminino aconteceu no Clube de Xadrez da Guanabara, no Rio de Janeiro, entre os dias 17 a 23 de fevereiro. O evento reacendeu o debate sobre as revistas em torneios de xadrez. Isso porque, durante a competição, a equipe de arbitragem revistou as enxadristas.
O campeão mundial, Magnus Carlsen, também não escapou das revistas
Nenhuma jogadora foi acusada de utilizar recursos eletrônicos durante os jogos. Então, por que as revistas aconteceram? O assunto rendeu nas redes sociais e o árbitro principal do evento, AI Alexandre Lima, explicou o ocorrido.
“É um procedimento recomendado pela FIDE e que deve ser realizado nos principais torneios. O critério de escolha para quais jogadoras deveriam ser revistadas foi aleatório. O mesmo foi realizado pela AN Claudia Aquino, seguindo todas as normas pertinentes”, afirmou Lima em sua conta no Facebook.
A enxadrista Thauane de Medeiros foi uma das primeiras a serem revistadas e questionou: “… por que as revistas só começaram na quinta rodada, na metade do torneio?” Após quatro rodadas, Thauane (1983 de rating FIDE) e a MF Juliana Terao (2256) lideravam o torneio com 100% de aproveitamento. Thauane Medeiros foi revistada durante o duelo com Juliana Terao e nada de irregular foi encontrado.
No mesmo dia também foram revistadas as enxadristas WFM Regina Bonfim e WIM Vanessa Feliciano.
Short recusou a revista nas Olimpíadas
Com Short não houve acordo e a revista não foi realizada
De fato, seguindo as regras da FIDE, a arbitragem pode revistar enxadristas se assim desejar. Na Olimpíada de Baku, em 2016, o GM inglês Nigel Short se recusou a passar pela revista durante sua partida contra o GM chinês Li Chao (2746). Com a recusa, Short poderia perder o ponto. E o pior, a Inglaterra que venceu o confronto por 3×1, ficaria no 2×2 com a China.
Contudo, o polêmico enxadrista foi absolvido das punições, mas mesmo assim soltou o verbo nas redes sociais. “Aqueles que apoiam a ideia de revistar jogadores eletronicamente durante uma partida são idiotas que não sabem nada sobre xadrez”, afirmou Short – em inglês – no Twitter.
Fraudes e paranoias
Não há como negar a existência dos dois lados da moeda. Se por um lado, alguns enxadristas utilizam recursos eletrônicos para ganhar partidas de modo fraudulento (equipe da França nas Olimpíadas de 2011), e, nesses casos, as revistas se justificam. Por outro lado, acusações injustas também acontecem, prejudicando o desempenho do jogador.
Vale lembrar o caso do Campeonato Europeu de 2015, realizado em Chakvi, Geórgia. A WGM romena Mihaela Sandu, 38 anos e 2300 de FIDE, liderava o torneio com 100% de aproveitamento após cinco rodadas. Sandu era a pré-ranqueada número 45 e foi acusada de fraude em duas cartas entregues à organização. A primeira foi assinada por 32 enxadristas, e a segunda – que cita nominalmente a jogadora – por 15 enxadristas.
A WGM Mihaela Sandu foi injustiçada no Europeu Feminino
A arbitragem atendeu as solicitações do primeiro documento, mas considerou a segunda carta como “injusta, insultante e criadora de desnecessária pressão psicológica”. Depois do ocorrido a enxadrista perdeu três partidas consecutivas. Na época, o GM Rafael Leitão analisou as cinco partidas “polêmicas” de Sandu e opinou sobre o tema.
“Nestas 5 partidas, temos um pouco de todos os erros comuns a nós, mortais: erros de cálculo (vários), arremates imprecisos, erros posicionais… A única coisa que não há é o indício de ajuda externa”, afirmou Leitão.
A difícil aplicação da revista
Neste cenário de paranoia e fraudes, nunca é fácil decidir quem e quando o (a) enxadrista será revistado (a). Em um torneio com 10 jogadoras, como é o caso do Campeonato Brasileiro Feminino, a arbitragem pode revistar todas as enxadristas, mas qual seria a solução se o torneio tivesse centenas de jogadoras?
GM Boris Gelfand no detector de metais
Por fim, a Redação da Academia Rafael Leitão não concorda com a revista como apenas “um procedimento recomendado pela FIDE”. No cenário ideal, ela deveria acontecer apenas em casos extremos, quando um jogador ou um árbitro realmente notam algo de errado na postura de determinado enxadrista e estão convictos para levar o caso até a última instância. Na dúvida, a FIDE deveria respeitar a presunção de inocência e orientar os árbitros a não fazerem revistas.
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Acredito que deveria ser no esquema vestibular/concurso, todos revistados no inicio, quando se vai ao banheiro revista novamente, alem de so utilizar os banheiros "aprovados" pela organização
A Olimpíada citada no texto foi a de 2010.
Eu estava lá como árbitro, e o GM Leitão representando o Brasil.
PS: Não sei quem é o redator, mas ele (ou eles) é muito bom !