A Convocação do Brasil para a Olimpíada de Xadrez
OBS: Este artigo foi escrito pelo redator da Academia Rafael Leitão
Quando o técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, revelou a lista de convocados para a Copa do Mundo de 2002, torcida e imprensa pressionaram o treinador. Ninguém conseguiu entender como Scolari pode deixar o craque Romário de fora. Como o Brasil conquistou o penta, a ausência do baixinho acabou esquecida.
Já em 2010, o apelo popular era pela convocação das jovens promessas Neymar e Ganso. Dunga manteve-se firme e não cedeu a pressão. Neymar e Ganso não foram e o Brasil caiu para a Holanda, nas quartas de final. Dunga é culpado pelo fracasso até hoje.
Campeão em 1994, Romário chorou após ser cortado por lesão em 1998 e também não foi convocado em 2002
As histórias do mundo da bola relevam que nunca é fácil selecionar jogadores e a decisão tomada jamais será unânime. De todo modo, por mais que as escolhas sejam discutíveis, a figura do técnico transmite credibilidade para a seleção de futebol, seja ela vencedora ou não. Afinal, parte-se do princípio que as escolhas do técnico têm o objetivo de formar o melhor time possível.
Equipes Olímpicas de Xadrez
De fato, tradicionalmente, o treinador não tem o mesmo grau de importância em uma equipe de xadrez, porém, sem a figura do técnico, como definir nossos melhores representantes? A Confederação Brasileira de Xadrez (CBX) tentou criar regras para definir as equipes brasileiras na Olimpíada de 2018, a ser realizada em Batumi, na Geórgia, entre os dias 23 de setembro a 07 de outubro.
Contudo, o texto com os critérios é ambíguo, incompleto, e causou divergências. No fim, os convocados são: GM Rafael Leitão, GM Alexandr Fier, GM Henrique Mecking, GM Luis Paulo Supi e GM Felipe El Debs. Já para a equipe feminina foram convocadas: MF Juliana Terao, WMF Julia Alboredo, WMF Suzana Chang, Kathiê Goulart e Ana Rothebarth.
Equipe feminina na Olimpíada de 2012, em Istambul: Vanessa Feliciano, Juliana Terao, Vanessa Gazola e Artêmis Pamela. Suzana Chang também integrou a equipe. Seis anos depois, apenas Terao e Chang seguem no time
Ainda que os critérios para a formação da equipe olímpica feminina precisem de ajustes, as maiores polêmicas foram em relação à equipe masculina. Antes de mais detalhes, confira o texto da regra para a escolha da equipe masculina na íntegra.
Art. 3º A convocação da equipe absoluta observará os seguintes parâmetros:
I – 5 jogadores que obtiverem os melhores ratings na FRL de maio de 2018.
II – O período para obtenção dos ratings inicia no dia 01/01/2017 e finda no dia 01/05/2018 (ciclo olímpico absoluto)
III – O nº mínimo de partidas válidas para rating FIDE durante o ciclo olímpico será de 45 (quarenta e cinco) para que o jogador esteja habilitado a ser convocado.
Polêmicas
No dia 1º de maio de 2018, a FIDE divulgou a lista de rating e o ranking brasileiro apareceu da seguinte maneira:
# | Name | Title | Fed | Rating |
1 | Leitao, Rafael | G | BRA | 2619 |
2 | Fier, Alexandr | G | BRA | 2580 |
3 | Mecking, Henrique | G | BRA | 2576 |
4 | Supi, Luis Paulo | G | BRA | 2565 |
5 | Mekhitarian, Krikor Sevag | G | BRA | 2545 |
5 | El Debs, Felipe de Cresce | G | BRA | 2545 |
Como é possível notar, o GM Krikor Mekhitarian e o GM Felipe El Debs estão com a mesma pontuação e, na regra da CBX, não há qualquer menção sobre os critérios de desempate para a escolha entre jogadores com o mesmo rating. No fim, a CBX escolheu El Debs com base no desempenho em Olimpíadas anteriores, critério no mínimo duvidoso e escolhido a posteriori.
GM Krikor Mekhitarian ficou de fora
A outra polêmica refere-se ao número de partidas disputadas entre 01 de janeiro de 2017 e 01 de maio de 2018. Segundo a CBX, os números foram os seguintes:
GM Rafael Leitão – 52 partidas
GM Alexandr Fier – 388 partidas (a atividade de Fier impressiona)
GM Henrique Mecking – 45 partidas
GM Luis Paulo Supi – 65 partidas
GM Felipe El Debs – 78 partidas
De acordo com algumas interpretações, as 45 partidas deveriam ser de xadrez convencional. No entanto, isso não ficou explícito na regra e as partidas em ritmos acelerados também foram contabilizadas.
O GM Rafael Leitão jogou 45 partidas de xadrez convencional no período, porém, em uma delas o adversário não foi e um outro oponente não tinha rating, o que – injustamente – reduziu o número para 43. Mais uma vez, a regra não diz nada a respeito desses importantes detalhes. De fato, o GM Rafael Leitão também jogou um fortíssimo torneio de rápidas na China, no dia 22 de abril de 2017. Estas partidas foram suficientes para completar o número de jogos.
Classificação final – The first of BIRCS Chess Masters
1 | GM | Yu Yangyi | CHN | 2791 | 7,0 |
2 | GM | Sethuraman S.P. | IND | 2546 | 6,5 |
3 | GM | Motylev Alexander | RUS | 2657 | 5,5 |
4 | GM | Potkin Vladimir | RUS | 2644 | 5,5 |
5 | GM | Li Chao B | CHN | 2702 | 5,5 |
6 | GM | Ganguly Surya Shekhar | IND | 2650 | 4,5 |
7 | GM | Leitao Rafael | BRA | 2637 | 4,5 |
8 | GM | Fier Alexandr | BRA | 2538 | 4,0 |
9 | IM | Steel Henry Robert | RSA | 2414 | 1,5 |
10 | IM | Cawdery Daniel | RSA | 2436 | 0,5 |
O caso mais emblemático é o do GM Henrique Mecking. Mequinho disputou apenas 25 partidas de xadrez convencional e os outros 20 jogos foram disputados em ritmos rápidos, o que gerou inúmeros debates nas redes sociais.
Henrique Mecking (Mequinho) foi convocado
Não há como negar a importância de critérios objetivos para a formação das equipes olímpicas do Brasil. No entanto, a CBX precisa aperfeiçoar o texto a fim de excluir ambiguidades e preencher todas as lacunas deixadas pelas regras atuais.
Ao analisar uma regra, é preciso considerar o “espírito da lei”, ou seja, para o que ela realmente serve. Nesse contexto, as regras da CBX têm a finalidade de definir a melhor equipe possível para o Brasil. E quanto a isso, não restam dúvidas de que o GM Krikor Mekhitarian poderia estar entre os convocados. Além de obter bons resultados, Krikor também é um dos Grandes Mestres mais ativos do país. O GM Felipe El Debs também merece estar na equipe.
Nesse contexto, o sistema de escolha – definido pela CBX – para a definição das equipes olímpicas pode ser considerado justo? Deixe sua opinião nos comentários.
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Injusto pq o mestre joga as rápidas e não perde o rating no pensado que é o principal critério. Por óbvio que deveria ser considera o ritmo que será jogado na olimpíada até para incentivar a participação dos mestres em torneios. Pela lei está tudo certo, pela moral, nem Leitão nem Mequinho deveriam estar.
Respeito sua opinião, apesar de discordar totalmente da parte que me toca.
Não estou dizendo isso porque estou neste site, mas no caso do Leitão ele não pode ser prejudicado porque um dos seus adversários tomou WO. Ora bolas, se você estava presente pra jogar e seu adversário não aparece, você não pode ser punido. Quanto à partida contra o adversário sem rating, penso que ela não deveria ser considerada, isso partindo do pressuposto que um jogador com rating CBX não perderá rating caso seja derrotado numa partida dessa. De toda forma, o mais absurdo é o regulamento não conseguir deixar claro quais são os critérios a serem utilizados. Amadorismo ao extremo. Eu penso que as partidas rápidas não deveriam fazer parte das 45 partidas, já que nas Olimpíadas será jogado o xadrez clássico. De toda forma, como as regras tem sentido ambíguo, fica difícil dizer que esse está certo é aquele está errado. Acho uma pena o Krikor não estar na equipe, mas fico feliz pelo Rafael, que tem feito muito pelo xadrez nacional, assim como o Krikor.
Concordo com o texto apresentado, haja vista que o regulamento deveria ser mais claro e deixar especificativamente que o ritmo é o clássico.
A convocação do GM Henrique Mecking ao meu ver foi injusta, não se discute o legado desse Grande Mestre, mas hoje o GM Krikor está mais em forma para representar a equipe Olímpica, além da questão de ter jogado apenas poucas partinas no ritmo clássico...
Independentemente do GM Rafael Leitão ter efetivamente jogado as 45 partidas ou 43, entendo que por ser o top Brasil deveria ser convocado, talvez deveria existir essa menção no regulamento, bem como a convocação do Campeão brasileiro do ano anterior...
Não concordei quanto ao critério desempate entre GM Krikor Mekhitarian e GM Felipe El Debs, no mínimo deveria ocorrer o confronto entre os enxadristas para definir a vaga.
Além dos critérios de seleção não serem claros que acabara colocando o Mequinho, fazendo com que o Krikor e o Debs disputassem a última vaga, o desempate entre eles parece ter sido algo pessoal, dado que o Krikor foi um dos que foram contrários ao aumento de 50% da taxa da CBX.
Costumeiramente, assim como na Federação Brasileira de Futebol, a CBF, quem vai na contramão das suas decisões costuma sofrer penalidades. Talvez a colocação do Krikor como reserva depoia de aceitar as partidas do Leitão (esse menos grave e mais compreensível), sobretudo, a do Mequinho, dá abertura a várias coisas, dentre elas as "teorias de conspiração"... Sei não!
Injusto só para os quintos colocados , poderia ter um mate entre os dois , quem ganhasse primeiro ficaria com a vaga.
Injusto para os quintos colocados, poderia promover , mate entre os dois , quem vencesse primeiro , ficaria com a vaga, simples e justo.
A Confederação Brasileira de Xadrez acaba de convocar o GM Krikor Sevag Mehktarian para integrar a Equipe Olímpica Absoluta, devido a desistência do GM Henrique Mecking, por questões pessoais. Krikor terá até o dia 05/06/2018 para confirmar após receber o email de convocação. Fim da polêmica, por enquanto.
Mecking resolveu a polêmica. Tenho certeza que o nosso maior GM fez justiça.
O time ficou bom. Ok, talvez pudesse ser um pouco diferente, mas está bom… é uma pena ver o Krikor de fora, e é legal ver o Supi na lista. Pode ser que Mequinho não esteja em seu melhor momento, mas por outro lado é impactante ver o grande nome da história do xadrez brasileiro marcando presença em um grande evento internacional. De modo geral, e isso inclui o estimado Rafael Leitão, seria muito bom para o xadrez nacional se os GMs jogassem com uma boa frequência (ok… também não precisa ser nenhum Fier! rsrsrs). Parabéns à CBX por instituir uma regra, mas agora é importante aprimorar os critérios o quanto antes, já pensando na próxima. Boa sorte a todos!!
O jovem talento Roberto Watanabe que foi aos 18 anos Campeão Brasileiro Absoluto e aos 19 anos titulado Mestre Internacional ao vencer o Campeonato Panamericano juvenil, mesmo como campeão brasileiro não foi chamado para as Olimpíadas, causou tamanha frustração em não ser chamado para representar o Brasil q abandonou o xadrez.