Grandes Enxadristas: Mikhail Botvinnik

    A Trajetória de Grandes Conquistas de Mikhail Botvinnik

    Mikhail Moisseievitch Botvinnik nasceu em 17 de agosto de 1911, em Kuokkala, hoje chamada Repino, no Grão-ducado da Finlândia, então parte do Império Russo. De origem judaica, foi criado por sua mãe após a separação de seus pais.

    Botvinnik, ao contrário de muitos campeões mundiais, não foi um prodígio do xadrez. Aos 13 anos enfrentou Emmanuel Lasker em uma simultânea e foi obrigado a abandonar após 15 lances, porque Lasker jogou lentamente e “já era hora de um aluno escolar estar dormindo”.

    Contra José Raul Capablanca a história foi diferente. Aos 14 anos Botvinnik o venceu em uma simultânea que contou com 30 participantes, realizada na cidade que viria a se chamar Leningrado. Segundo Botvinnik, apesar da fama de cavalheiro, Capablanca teria ficado “bastante irritado” e, ao abandonar a partida, teria derrubado as peças do tabuleiro. Alguns anos mais tarde, no famoso torneio de Avro 1938, eles se reencontraram e Botvinnik venceu uma das melhores partidas da história do xadrez.

    Em 1931, ele sagrou-se campeão de xadrez soviético pela primeira vez, feito repetido em 1933, 1939, 1941, 1945 e 1952.

    Com a morte do então campeão mundial Alexander Alekhine, em 1946, foi realizado um torneio em 1948 em Haia e Moscou, conquistado por Botvinnik. Ele permaneceu com a coroa campeão do mundo até 1957, quando foi destronado por Vasily Smislov. Após usar seu prestígio junto à FIDE, forçou uma revanche e retornou a seu posto de 1958. Em 1960, novamente perdeu a coroa, mas desta vez para Mikhail Tal. Reconquistou o título em 1961, permanecendo até 1963, quando Tigran Petrosian tornou-se o mais novo campeão de xadrez do planeta.

     

     

    A Escola Soviética de Xadrez

    O apelido de “O Patriarca” foi consequência do estilo que Botvinnik empreendeu ao xadrez soviético ao desenvolver seu próprio método de treinamento. No livro “Cem Jogos de Xadrez”, de 1951, ele descreveu sua preparação para matches e torneios, cuja principal característica era o rigor mental e físico. O método conta com orientações como passar de 15 a 20 dias no campo, respirando ar fresco e interromper totalmente as atividades enxadrísticas 5 dias antes da competição para que o jogador possa descansar, pois, do contrário, ele acreditava que o entusiasmo pela batalha podia ser perdido.

    Seguindo a sua própria metodologia, Botvinnik chegou a pagar para um adversário soprar fumaça em seu rosto durante as partidas para criar imunidade ao tabaco, já que o norte-americano Samuel Reshevsky era um fumante compulsivo. Na década de 1960, ele montou uma escola de xadrez, que teve ilustres alunos, como Anatoly Karpov e Garry Kasparov.

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    [Garry Kasparov e Mikhail Botvinnik]

     

    A Influência Comunista

    O momento histórico em que Mikhail Botvinnik nasceu e cresceu deixou marcas profundas em sua personalidade, pois ele pertencia à primeira geração de soviéticos a atingir a maturidade sob o comunismo. Por causa disso, ele permaneceu stalinista por toda sua vida, fiel ao comunismo e orgulhoso das conquistas soviéticas, recusando-se a enxergar o alto preço que foi pago à época.

    Seu fascínio era tamanho que chegou a enviar cartas ao alto escalão do partido comunista para sugerir uma estratégia de como atingir uma dominação global sem haver uma guerra mundial. Além disso, ele, que havia estudado engenharia elétrica, verdadeiramente acreditava que se suas ideias tivessem sido seguidas, a Ex-URSS jamais teria ficado atrás do Ocidente no assunto tecnologia.

    O enxadrista era tido como o preferido do partido comunista, que usava o sucesso soviético no xadrez como arma de propaganda do sistema. Por causa disso, Botvinnik fazia jus a uma série de regalias, dentre elas a permissão para viajar com a esposa ao exterior, um carro particular e uma ordem assinada pelo próprio Stalin que lhe concedia 250 litros de gasolina – artigos raríssimos para os cidadãos comuns. Mas, como tudo tem seu preço, tantos privilégios lhe obrigavam a alimentar constantemente seu status no cenário enxadrístico mundial.

    A proteção a Botvinnik era tanta que por diversas vezes foi acusado de ser beneficiado por pressões do partido comunista sobre seus adversários. Os casos mais emblemáticos são o de Paul Keres no Torneio de 1948 que definiu o novo campeão mundial após a morte de Alekhine e o de David Bronstein, desafiante em 1951, quando Botvinnik manteve o título pela primeira vez. As suspeitas de interferência do partido comunista nos episódios nunca foram comprovadas e é certo que em ambos os casos Botvinnik tinha reais condições de vencer por seus próprios méritos.

     

    Aposentadoria e Morte

    O Patriarca do Xadrez Soviético nunca permitiu que o jogo assumisse o controle de sua vida. Formado em engenharia elétrica, Mikhail Botvinnik exilava-se por longos períodos para se dedicar à sua obra científica, chegando a passar 3 anos longe dos tabuleiros.

    Na década de 1970, após aposentar-se das competições, ele produziu importantes pesquisas sobre programas de xadrez para computador.

    Botvinnik faleceu em Moscou no dia 05 de maio de 1995, deixando seu legado não só para o xadrez russo, mas para todo o mundo.

     

    Gostou de conhecer a história de Mikhail Botvinnik? Confira também nosso post sobre todos os campeões mundiais de xadrez.

     

     

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    4 Responder para “Grandes Enxadristas: Mikhail Botvinnik”

    • Gustavo Brandão Messenberg

      Parabéns pelo bom texto a respeito de Mikhail Botvinnik (1911/1995) certamente um dos maiores enxadristas de todos os tempos.
      Como há alusão ao match torneio de 1948, com a devida vênia gostaria de trazer outras informações que podem ajudam a entender a atuação do grande enxadrista que foi Paul Keres (1916/1975) nesse evento.
      Como também há alusão ao match de 1951, gostaria com a mesma vênia trazer informações da atuação de David Bronstein (1924/2006) nessa ocasião.
      Não vou entrar na questão dos Interzonais, dos Candidatos e outras, que naquela época era a fórmula estabelecida pela FIDE para definir o desafiante ao campeão mundial de xadrez. Esse tema entre outras coisas é extenso e o espaço aqui é pequeno para isso.
      Quanto a Paul Keres transcrevo algumas palavras, publicadas há algum tempo em um periódico espanhol : "-...Façamos um pequeno resumo. Provávelmente não houve repressões diretas nem tampouco promessas de perder o Campeonato do Mundo, porém a atmosfera que rodeava a Keres foi tão densa e opressiva que quando teve que enfrentar a prova mais difícil de sua vida, o duelo torneio de 1948, chegou a ele num estado muito distante do ótimo".
      A reportagem é mais ampla e esclarecedora, todavia no texto acima o articulista sugere a possível razão do rendimento abaixo do esperado do grande Paul Keres nesse importante evento.
      Não podemos esquecer que o estoniano Paul Keres já havia tido problemas em 1941, após a anexação da Estonia à URSS, ocasião em que participou dum match-torneio pelo título de campeão absoluto da URSS. Botvinnik (vencedor) Keres, Smyslov e Boleslavsky (nessa ordem de classificação final) participaram desse evento que tinha como objetivo definir qual o representante soviético poderia desafiar o russo naturalizado francês Alexander Alekhine (1892/1946).
      Já em 1948, após portanto a Segunda Guerra, que terminou em 1945, Paul Keres tinha participado de alguns eventos enxadrísticos disputados em territórios dominados pelos nazistas... Essa é uma outra história, mas essa participação de Paul Keres trouxe-lhe problemas perante as autoridades soviéticas...

      E quanto a atuação do ucraniano David Bronstein, ele próprio em uma extensa entrevista publicada em 1997 comentou : "-...Vocês não terminam de compreender o estado de ânimo em que me encontrava então. Se resume assim: nem sequer queria ganhar a Botvinnik. Tinha muita apreensão. O que se passaria se ganhasse e de repente me visse obrigado a frequentar membros do Governo, participar de reuniões oficiais?" Em outro trecho da mesma entrevista: "-...Sabia que era forte, que era bom e que jogava melhor que Botvinnik, porém não tinha interesse algum em ser campeão do mundo...".

    • André Luiz Villares Monteiro

      Acho muito justa toda homenagem a Mikhail Botvinnik quando se fala dos grandes nomes do enxadrismo mundial!!
      Não houve, a meu ver, um outro nome que tivesse tanto destaque no xadrez, em diversas áreas, como Mikhail Botvinnik!! Enquanto outros se destacaram (e até com maior relevância) nos resultados de tabuleiro, Botvinnik obteve ótimos resultados em várias áreas: como jogador (sendo campeão mundial e quando perdia, tinha forças suficientes para reverter o jogo!), como árbitro, como dirigente, como treinador, como engenheiro desenvolvendo programas de xadrez, etc.
      Para mim, o grande nome da história do enxadrismo mundial!! Enfim, o meu ídolo internacional!

    • Nery Junior

      Artigo muito bom!! Mas, só falou 1 partida do Botivinnik, analisada com os próprios comentários do GM Rafael, sem Engine, seria nota 1000!

    • Wágner

      Parabéns pelo texto Rafael!

      Li recentemente no livro Garry Kasparov sobre Garry Kasparov- volume 1, que o talento e vitalidade de GK, aos 10 anos, faziam com que Botvinnik, aos 62, se sentisse mais jovem. Palavras de Nikitin.

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