Grandes Enxadristas: Max Euwe, o Campeão que Conciliou o Xadrez com Sua Profissão

    Conciliar uma carreira profissional com o xadrez é um desafio presente para muitos enxadristas. Muitos desistem no meio caminho, pois consideram impossível trabalhar várias horas diárias e ainda ter energia suficiente para evoluir no xadrez.

     

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    Porém, foi justamente esse o grande mérito de Max Euwe (1901-1981). Matemático, engenheiro, astrônomo, especialista em computadores e também, é claro, Campeão Mundial de Xadrez!

    Como um homem arranjou tempo e disposição para conseguir tantas coisas? É claro que o xadrez na época não exigia o profissionalismo dos tempos atuais, no qual crianças de 12 anos se tornam Grandes Mestres, porém, é preciso reconhecer que o campeão holandês era provido de alguma espécie de genialidade.

     

    Max Euwe, o matemático que foi campeão mundial de xadrez

     

    O Início

    Euwe já jogava xadrez aos 4 anos de idade e aos 12 foi admitido no Clube de Xadrez de Amsterdã. Aos 20 anos, concluiu sua licenciatura em matemática e, antes de se dedicar a profissão, resolveu doar um pouco do seu tempo ao xadrez. 

    Foi nesse período que conquistou o primeiro dos seus 12 títulos nacionais, além de empatar um match com o reconhecido Maroczy, 6×6, e obter 50% dos pontos no torneio de Budapeste, empatando com Alekhine e vencendo Bogoljubov.

    Euwe, então, avançou nos seus estudos da matemática, casou-se, e em 1926 decidiu retornar ao xadrez competitivo.  Aos 25 anos, ainda era o principal expoente holandês. O Clube de Amsterdã decidiu organizar para seu líder alguns matches contra os principais enxadristas do mundo. 

     

    O jovem Max

     

    O Primeiro Match com Alekhine

    Depois de negociações fracassadas com Lasker e Bogoljubov, um nome surpreendente aceitou o desafio: Alekhine, o então desafiante de Capablanca na disputa pelo Campeonato Mundial.

    Esse match amistoso entre ambos é pouco repercutido na história do xadrez, mas o fato é que ali Euwe já havia demonstrado ser um adversário duro para Alekhine, um prelúdio do que viria mais tarde.

    Antes do início do match, Euwe chegou a declarar que consideraria normal uma derrota por 7,5 x 2,5. Porém, o duelo foi equilibrado e terminou 5,5 x 4,5 para Alekhine. Nesse instante, ficou claro que havia surgido um enxadrista muito forte na Holanda. 

    Então, mais uma vez, Euwe retornou para a sua profissão. Ele só participava dos torneios durante as férias escolares.

     

    O Duelo com Capablanca

    Em 1928, a FIDE decidiu criar um match entre Bogoljubov e Euwe para definir um desafiante para Alekhine, que havia vencido Capablanca no ano anterior. Euwe perdeu o match pela diferença mínima 5,5 x 4,5. No fim daquele mesmo ano, Bogoljubov e Euwe jogaram um match revanche e Euwe voltou a perder pelo mesmo resultado. 

    No verão de 1929, Euwe participou do torneio de Carlsbad, compartilhando a 5ª colocação, atrás de Nimzovitsch, Capabablanca, Spielmann e Rubinstein.  Mas no verão seguinte, em mais umas férias, Euwe venceu o Torneio de Hastings na frente de Capablanca e Sultan Khan. 

    O “Comitê Euwe” conseguiu arrumar um match contra o ex-campeão mundial em julho de 1931. Capablanca levou a melhor por 6×4.

    Mesmo conseguindo jogar com relativo equilíbrio contra os principais enxadristas do mundo, Euwe abdicou do xadrez mais uma vez, em prol da sua carreira na matemática.

     

    Euwe Decide Lutar Pelo Campeonato Mundial

    Mais de dois anos depois, no final de 1933, o mestre austríaco Hans Kmoch conseguiu convencer Euwe de que ele poderia vencer Alekhine. Finalmente o holandês havia tomado a decisão de tentar ser campeão mundial. 

     O Comitê Euwe reuniu as condições necessárias e Alekhine aceitou o desafio, marcado para maio de 1935. Euwe baseou suas preparações em três componentes: físico, teórico e prático. O holandês foi o primeiro enxadrista a se preocupar com uma preparação física para os matches, método aperfeiçoado por Botvinnik no pós-guerra.

    A partir de então, a história é conhecida. Euwe venceu Alekhine por 15,5 x 14,5 e tornou-se o 5º campeão mundial oficial. Um reinado que durou relativamente pouco, pois Alekhine melhorou o seu jogo e, consciente das capacidades do seu poderoso rival, recuperou o título no rematch de 1937, 15,5 x 9,5.

     

    Alekhine x Euwe

     

    Últimos Anos na Elite

    Após perder o título, é interessante mencionar o match entre Max Euwe x Paul Keres (1939/1940) que deveria ser, ao menos do ponto de vista moral, um duelo de candidatos que definiria o próximo desafiante de Alekhine. Keres venceu por 7,5 x 6,5, mas a II Guerra Mundial começou e o match com Alekhine nunca aconteceu. 

    Já em final de carreira, Euwe disputou o match-torneio pelo Campeonato Mundial de 1948 e Torneio de Candidatos, Zurique 1953. Depois disso, o enxadrista jogou em raríssimas ocasiões. 

    Veja a brilhante vitória de Euwe contra Geller no Zurique 1953

     

    Presidente da FIDE

    Em 1970, Euwe voltou mais uma vez ao xadrez como presidente da FIDE. Euwe teve muitos desafios durantes os 8 anos que presidiu a Federação Internacional. 

    O match Fischer x Spassky foi uma missão quase impossível de se concretizar e, finalmente, o duelo entre Fischer x Karpov foi realmente impossível. Os duelos entre Karpov x Kortchnoi tampouco foram tranquilos para o presidente da FIDE. 

    Na opinião de Karpov: “Como presidente, Euwe queria estender o xadrez a todo mundo, a pequenos países do Terceiro Mundo, a todos os continentes. Essa ideia não era ruim e eu, como campeão mundial, a apoiei, mas nem ele nem eu podíamos imaginar ao que conduziria. Difundiu o lema “um Grande Mestre em cada país” e isso levou não só à inflação do título de Grande Mestre, mas também à falta de controle do mundo do xadrez”.

     

    Euwe com sua esposa ao lado de Karpov

     

    Clique aqui e confira a vitória de Euwe contra Fischer.

     

    Você concorda com a posição de Anatoly Karpov sobre o título de Grande Mestre? Deixe sua opinião nos comentários.

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    Texto escrito pelo MF William Ferreira da Cruz.

    Referência bibliográfica: Garry Kasparov, Meus Grandes Predecessores, Volume 2.

     

    2 Responder para “Grandes Enxadristas: Max Euwe, o Campeão que Conciliou o Xadrez com Sua Profissão”

    • Ahid Mamoushi

      Como não concordar com o Karpov? Os títulos menores foram difundidos de tal forma que alguns títulos menores chegam a nem ter prestígio. Vejo que alguns torneios ONLINE dão esses títulos e isso é uma vergonha para o xadrez nacional e mundial. Entretanto acredito que o título de GM ainda é reservado aos realmente talentosos e/ou esforçados e por isso é um dos últimos títulos a ter prestígio no mundo do xadrez.

      • Thiago S Marques

        Entendo o seu ponto de vista, mas acredito que os não titulados quando falam mal da distribuição de títulos , alguns o fazem por despeito e não por zelo ao xadrez.

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