Os 10 Acontecimentos Mais Marcantes do Xadrez Moderno

    O artigo de hoje é uma volta ao passado. Vamos relembrar os 10 momentos mais marcantes da história do xadrez a partir do primeiro Campeonato Mundial oficial, vencido por Wilhelm Steinitz. 

    A ordem dos eventos listados não indica sua importância, isso seria subjetivo demais até para o propósito deste artigo. Por isso usamos a ordem cronológica dos fatos que mudaram o curso da história do jogo. Será que você vai concordar com os 10 acontecimentos dessa lista?

     

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    1 – O Primeiro Campeonato Mundial Oficial

    O primeiro Campeonato Mundial oficial de xadrez foi disputado em 1886, nos Estados Unidos, entre William Steinitz e Johannes Zukertort. Essa disputa deu início ao que hoje conhecemos por xadrez moderno. 

    Steinitz venceu o duelo por 10 x 5 e entrou para a história como o primeiro da era dos titãs, um período dominado pelos primeiros campeões mundiais oficiais: Steinitz, Lasker, Capablanca e Alekhine

    Steinitz x Zukertort

    Zukertort x Steinitz, 1886

     

    2 – A Olimpíada de 1939 

    A Olimpíada de 1939 foi disputada em Buenos Aires, Argentina. O torneio coincidiu com o início da II Guerra Mundial, o que obviamente criou tensões no salão de jogos, em especial nos matches com a participação da Alemanha, que, por sinal, ficou com o título da competição.

    Naturalmente, quando o torneio acabou, muitos enxadristas tiveram medo de voltar para a Europa. Deste modo, o governo da Argentina ofereceu privilégios para os jogadores com disposição de ficar no país. Sem dúvida esse fato contribuiu muito para o desenvolvimento do xadrez na América do Sul. 

    A próxima Olimpíada de Xadrez só aconteceu em 1950, no pós-guerra. Com tantos enxadristas fortes na Argentina, o país conseguiu cinco medalhas olímpicas nas décadas de 1950 e 1960. Já a Polônia nunca mais subiu ao pódio e os países comunistas passaram a dominar o xadrez a partir de então.

     

    Capablanca jogando

    Palestina x Cuba: José Raúl Capablanca em ação

     

    3 – A Morte de Alekhine

    Alexander Alekhine venceu José Raúl Capablanca em 1927 e lhe arrebatou o Campeonato Mundial. Alekhine deveria jogar um match revanche contra Capablanca, mas jamais deu ao cubano tal oportunidade. 

    O campeão enfrentou Efim Bogoljubov em 1929 e 1934, ganhando com folga nas duas ocasiões. Em 1935, para espanto geral, Alekhine perdeu o título para Max Euwe, mas acabou recuperando o título com boa margem em 1937.

    Depois disso, veio a II Guerra Mundial e a vida de todos ficou complicada. Após a Olimpíada de Buenos Aires, Alekhine voltou à França, o país onde viveu depois do exílio da sua terra natal, a União Soviética. 

    Com a invasão nazista na França, Alekhine passou a cooperar com os alemães e a disputar torneios nazistas. No final de 1943, Alekhine passava todo o seu tempo na Espanha e em Portugal.

    No pós-guerra, a relação com os nazistas fez com que Alekhine perdesse prestígio e não fosse convidado para alguns torneios. Em 1946, enquanto planejava seu próximo duelo pelo Campeonato Mundial, Alekhine morreu em circunstâncias misteriosas, aos 53 anos, em Portugal.

    Foi o primeiro e único enxadrista na história a morrer com o título, o que deixou o mundo do xadrez em um grande embaraço. Até hoje há muita polêmica e diversas teorias da conspiração sobre as reais causas da morte do campeão mundial. Oficialmente ele morreu ou engasgado com um pedaço de carne ou por um ataque cardíaco fulminante. Mas com tanta gente querendo a cabeça de Alekhine, nada pode ser descartado…

    O fato é que a morte de Alekhine mudou o formato da disputa pelo título mundial. Naquela época eram realizados matches entre o então detentor do título e um desafiante, que não necessariamente era o adversário mais forte, mas sim, por muitas vezes, aquele que conseguia o patrocínio suficiente para promover a competição.

    No entanto, o falecimento de Alekhine mudou o rumo das coisas e, então, foi disputado o evento que marcou o início da organização do Campeonato Mundial de Xadrez pela FIDE, o Campeonato Mundial de 1948.

    O torneio foi vencido por Mikhail Botvinnik e a partir de então iniciou-se a era do Torneio de Candidatos, no qual o vencedor ganha o direito de desafiar o campeão mundial.

     

    Alekhine

    Alekhine, o único a morrer Campeão Mundial

     

    4 – Domínio Soviético 

    Não tem como falar em história do xadrez sem lembrar a União Soviética. Após a II Guerra Mundial, os soviéticos dominaram completamente o xadrez mundial. Entre 1948 até 1972 todos os campeões mundiais são oriundos daquela região. 

    Superioridade que também foi demonstrada nas Olimpíadas de Xadrez. Entre 1952 e 1974, os soviéticos ganham 12 edições consecutivas. Os cinco campeões mundiais desse período vitorioso são: Botvinnik, Smyslov, Tal, Petrosian e Spassky.

     

    Botvinnik x Tal

    Mikhail Botvinnik e Mikhail Tal, dois dos maiores nomes do xadrez soviético

     

    5 – O Fenômeno Fischer e o Match do Século

    Nem o roteirista mais criativo do planeta seria capaz de criar uma história como a de Bobby Fischer. A vida do campeão mundial de 1972 é repleta de dramas, reviravoltas e partidas espetaculares.

    Fischer surgiu como um prodígio, tornando-se Grande Mestre aos 15 anos, o mais jovem da história naquele momento. Participou dos Torneios de Candidatos de 1959 e 1962, quando acusou os soviéticos de combinarem os resultados. 

    A FIDE levou a sério as acusações e a partir de então adotou o sistema eliminatório, em detrimento do sistema Schuring (todos contra todos). No entanto, Fischer se negou a lutar pelo Campeonato Mundial em 1964 e em 1967, quando abandonou o Interzonal mesmo liderando com boa margem.

     

    Fischer

    Bobby Fischer construiu sua carreira entre polêmicas e atuações brilhantes

     

    Após dois anos de isolamento, Fischer retornou em 1970 para dar início a uma caminhada brilhante rumo ao título mundial. Fischer venceu o Interzonal de 1970 com 3,5 pontos na frente dos demais rivais. 

    No Torneio de Candidatos, Fischer aniquilou Taimanov (6×0), Larsen (6×0) e Petrosian (6,5 x 2,5), para então chegar ao “Match do Século” contra Spassky.

    Como de costume, Fischer ameaçou abandonar o match, fez várias exigências, mas por fim jogou e venceu com sobras (12.5 x 8.5), tornando-se campeão mundial e quebrando a hegemonia soviética que vinha desde 1948.

    Após atingir o topo, Fischer mais uma vez surpreendeu e se recusou a defender o título contra Anatoly Karpov. 

    De qualquer forma, o xadrez nunca teve tanta visibilidade como nos tempos de Fischer. Em geral, as exigências do enxadrista dos Estados Unidos contribuíram para melhorar as condições para os jogadores. 

     

    6 – Rivalidade Kasparov x Karpov

    Entre 1984 e 1990, Garry Kasparov e Anatoly Karpov disputaram cinco matches pelo Campeonato Mundial. Ao todo, foram 144 partidas por campeonatos mundiais, com 21 vitórias de Kasparov, 19 de Karpov e 104 empates. 

    Trata-se da maior rivalidade da história do xadrez e uma das maiores rivalidades do esporte. Karpov venceu o controverso match de 1984, enquanto Kasparov venceu em 1985, 1986 e 1990. O duelo de 1987 terminou em empate.

     

    Karpov x Kasparov

    Rivalidade KxK marcou a história do xadrez

     

    7 – Judit Polgár

    A húngara Judit Polgár colocou o xadrez feminino em um novo patamar. Dona de um estilo de jogo agressivo, ela sempre se destacou no mundo enxadrístico, especialmente no concorrido meio masculino. Não à toa, Mikhail Tal, quando ela tinha apenas 12 anos, profetizou que Judit teria potencial para vencer o Campeonato Mundial Absoluto. É bem verdade que o feito não foi alcançado, mas ela sempre se mostrou uma adversária à altura dos jogadores tops.

    Em 1991, ao sagrar-se vencedora do Campeonato Húngaro de Xadrez, tornou-se a mais jovem Grande Mestre da história até então, aos 15 anos de idade.

    Judit venceu nada menos do que seis campeões mundiais em pelo menos uma ocasião: Smyslov, Spassky, Karpov, Kasparov (partida rápida), Topalov e Anand. 

    Ela figurou no top 10 da FIDE entre os anos 1990 e 2000, com um rating máximo de 2735 pontos.

     

    Kasparov x Judit

    Judit Polgár colocou o xadrez feminino no topo

     

    8 – Divisão FIDE x PCA

    O Campeonato Mundial ficou confuso entre 1993 e 2006. Isso porque, em 1993, Garry Kasparov deveria defender o título contra Nigel Short. Porém, desentendimentos com o então presidente da FIDE, Florencio Campomanes, fizeram com que o match acontecesse sem o aval da FIDE.

    Kasparov então criou a Professional Chess Association (Associação dos Jogadores Profissionais) PCA, que passou a realizar um Campeonato Mundial paralelo ao da FIDE.

    Durante 13 anos, o xadrez teve dois campeões mundiais. Uma verdadeira bagunça que, felizmente, acabou com a unificação dos títulos entre Kramnik x Topalov, em 2006.

     

    Short x Kasparov

    Kasparov venceu Short por 12,5 x 7,5, no match que dividiu o xadrez mundial

     

    9 – O Computador Vence Campeão Mundial

    Em 1996, Garry Kasparov venceu o computador Deep Blue da IBM por 4×2. No entanto, no ano seguinte, os programadores fizeram ajustes e o Deep Blue deu o troco no campeão mundial por 3,5 x 2,5. Kasparov nunca aceitou a derrota, colocando em dúvida se houve intervenção humana.

    Atualmente, a discussão sobre a superioridade da máquina não é mais relevante, visto que os melhores computadores jogam muito melhor que o atual campeão mundial. Porém, em 1997, o match representou um marco na evolução tecnológica.

     

    Kasparov x Deep Blue

    Kasparov não admitiu a derrota e disse que houve interferência externa na tomada de decisões do computador durante a partida

     

    10 – O Menino Prodígio Carlsen

    Magnus Carlsen lidera o ranking da FIDE desde janeiro de 2010. O norueguês está muito próximo de completar uma década no topo. Campeão Mundial desde 2013, quando superou Viswanathan Anand, Carlsen já defendeu o título em três ocasiões: contra o próprio Anand (2014), contra o russo Sergey Karjakin (2016) e contra o americano Fabiano Caruana (2018).

    O norueguês também domina as modalidades de xadrez rápido, blitz e até no xadrez online Carlsen geralmente se sobressai perante os seus adversários. Há muito tempo um campeão mundial não era tão superior aos demais concorrentes. Por isso, Carlsen já tem cadeira cativa entre os melhores da história.

     

    Carlsen

    Carlsen está entre os maiores de todos os tempos

     

    Quando acabar, o Torneio de Candidatos 2020 – paralisado pelo coronavírus – merecerá um lugar nessa lista? Deixe sua opinião nos comentários.

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    Texto escrito pelo MF William Ferreira da Cruz e editado pelo GM Rafael Leitão.

     

    14 Responder para “Os 10 Acontecimentos Mais Marcantes do Xadrez Moderno”

    • Isaías Gomes de Lima

      Artigo muito importante! Situa o Xadrez historicamente...
      Grande contribuição para afixionados!

    • Flávio

      Parabéns pelo post!

    • Paulo

      Excelente, Rafael ;)

    • Eduardo Sá Brito Sigwalt

      Maravilhoso texto.

    • Hildeberto

      Tenho que tirar o chapéu! Varreu praticamente tudo que se passou de lá pra cá.
      Ficou ótimo!
      AGORA FAZ UM COM OS 10 MARCANTES DO NOSSO PAÍS, POR FAVOR!!!

    • João Ribeiro

      Gostei muito do post. Conhecer a história do xadrez dói o início da minha paixão. O torneio de San Petersburgo de 1814 também ficou para história. Mas é impossível colocar todos os grandes acontecimentos do xadrez. A lista está de parabéns.

    • Marcellus Benez

      Parabéns! Muito bom artigo!

    • Natanael bezerra viana

      faltou a volta de bobby

      • Rafael Leitão

        Não foi um acontecimento relevante como esses citados.

    • Sidney

      Muito bom artigo, instrutivo e interessante. Parabéns!

    • Felipe

      Muito bom!!

    • Lucas Rafael

      Fenomenal Rafael. Obrigado pelo texto!!!

      • Rafael Leitão

        Obrigado!

    • Mecenas Magno da Cruz Sales Junior

      Por favor....informem sobre meu pai....que foi à Olimpiada de 1936 em Berlim....Mecenas Magno da cruz Salles. Por favor....obrigado....vocês conseguem as partudas?

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